Quinta-feira, 22 de Maio de 2025

UEPG promove reconhecimento social para mulheres da reciclagem

2025-05-22 às 16:19
UEPG

Um trabalho nem sempre valorizado e que, para alguns, passa despercebido nas ruas da cidade. Assim pode ser descrito o cotidiano das mulheres inseridas nas associações de reciclagem de resíduos sólidos de Ponta Grossa. Para valorizar as ações das trabalhadoras, a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desenvolve o projeto de extensão “Reconhecimento e valoração do trabalho das mulheres na catação e reciclagem de resíduos sólidos vinculadas às associações de Catadores de Materiais Recicláveis de Ponta Grossa”.

O objetivo é promover ações de reconhecimento e valorização dessas mulheres como agentes ambientais fundamentais para a sustentabilidade no município e como trabalhadoras que geram renda.

As instituições atendidas
As associações de materiais recicláveis do município de Ponta Grossa estão organizadas desde 2006, sendo três em funcionamento atualmente: Acamaro (Associação dos Catadores de Material Reciclável do bairro Oficinas), Acamaruva (Associação dos Catadores de Material Reciclável do bairro Uvaranas) e Acamaru (Associação dos Catadores de Material Reciclável da Nova Rússia).

Os materiais processados pelas entidades são fruto da coleta realizada em parceria com a Prefeitura Municipal, por meio do Programa Feira Verde, que troca resíduos sólidos recicláveis por alimentos hortifrutigranjeiros. Existem também pontos de entrega voluntária e coletas específicas em organizações públicas e privadas.

Conforme levantamento preliminar da professora e pesquisadora Lenir Aparecida Mainardes da Silva, coordenadora do projeto, mais de 60% da mão de obra das três associações de catadores existentes é composta por mulheres, o que corresponde a aproximadamente 50 pessoas. “É um público variado, com mulheres de todas as idades. São mães, donas de casa e algumas delas têm nessa atividade a renda principal. Geralmente moram próximo às associações e são muito dedicadas e esforçadas, enfrentando também desafios comuns a outras mulheres, como a dupla jornada, por exemplo”, explica Lenir, ressaltando que a rotina nas associações é tão importante quanto qualquer outra no mercado de trabalho.

A realidade de Ponta Grossa se aproxima dos números do cenário nacional, onde 70% dos 800 mil catadores no Brasil são mulheres, segundo o Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável. “Estou aqui há 18 anos. Sempre foi minha renda principal. Criei meus quatro filhos com muito esforço, trabalhando aqui”, conta a presidente da Associação Acamaruva, Maria Aparecida Cardozo, que coordena outras 20 mulheres e é avó de seis netos.

Benefício mútuo
No âmbito do projeto, as participantes recebem treinamentos e capacitações para atuarem como agentes ambientais, além de noções sobre segurança alimentar. A UEPG, por sua vez, beneficia-se ao colocar em prática o tripé universitário (ensino, pesquisa e extensão) e ao servir à comunidade.

O Núcleo de Pesquisa “Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza”, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas, com coparticipação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), já vinha monitorando a realidade das catadoras. Com a iniciativa atual, a UEPG busca auxiliar e melhorar a condição de vida dessas profissionais. Pesquisas anteriores já haviam identificado estigmas sociais e preconceitos enfrentados por elas.

União de cursos
Participam do projeto os cursos de Serviço Social, Jornalismo e Engenharia de Alimentos, com atividades ou minicursos para as catadoras.

O curso de Jornalismo, por exemplo, é o responsável por toda a comunicação, desde a criação da identidade visual e cobertura das atividades, até a produção e manutenção de redes sociais e outros meios de informação sobre a iniciativa. “Esse trabalho com elas visa valorizar a atuação dessas agentes ambientais e combater alguns estigmas e estereótipos que enfrentam, seja no bairro, com os filhos, netos ou nas escolas”, explica a professora Paula Melani Rocha, do curso de Jornalismo.

Engenharia de Alimentos oferece palestras e formações sobre segurança alimentar e reciclagem. “Explicamos sobre a higiene correta das mãos, como preparar um prato saudável e separar os materiais de maneira correta. Ou seja, primeiro ensinamos as pessoas a se cuidarem, para depois explicar como podem contribuir com o meio ambiente nesse processo de separação e destinação correta dos resíduos”, detalha a professora Ana Cláudia Barana, docente do curso.

Para completar, Serviço Social realiza o acompanhamento das demandas e dos atendimentos necessários para garantir os direitos sociais e trabalhistas das mulheres envolvidas nas associações, atuando em várias frentes, como destaca Lenir. “Quando necessário, auxiliamos nos encaminhamentos para as organizações responsáveis por atender aos problemas apresentados por elas, de modo que consigam resolver as pendências o mais rápido possível”.

A professora Lenir relata que, durante a elaboração do projeto, a equipe percebeu que, mesmo exercendo um papel importante como agentes ambientais, as trabalhadoras enfrentam problemas de precariedade laboral: espaços pouco ventilados, superfícies inseguras, prensas sem manutenção, ausência de proteção social (previdenciária e auxílios em caso de afastamento) e exposição a riscos biológicos, químicos, físicos, acidentais e ergonômicos durante as coletas. “Há, ainda, o estigma e preconceito pela ocupação que as catadoras exercem, somados às condições de gênero que são na maioria das vezes desiguais e não equânimes”, completa Lenir.

Discentes presentes
As estudantes envolvidas no projeto podem aplicar na prática o que aprendem em sala de aula. “Quando você tem a oportunidade de participar de um projeto como esse, percebe o quão importante a extensão é. Aprendi que para o funcionamento desse mundo gigante, existem muitas mãos e muito trabalho árduo e que o nosso pequeno esforço, dentro de casa, pode significar a segurança de um agente ambiental”, explica Livia Maria Hass, aluna do curso de Jornalismo que diz estar colocando em prática o aprendizado dentro da própria casa ao separar materiais para descarte.

Mahara Kachak de Andrade, estudante de Engenharia de Alimentos, também integra o grupo do projeto. “Eu, como aluna de Engenharia de Alimentos, vejo o quão abrangente é a área ao fazer parte desta iniciativa. Estar presente no cotidiano das catadoras permite ver sua realidade e a importância de suas funções nas esferas ambiental, social e econômica”, explica a discente, que diz também estar somando novos aprendizados ao conteúdo que tem contato na graduação.

Em Serviço Social, Paola Aparecida Kichileski dos Reis compartilha do mesmo entendimento das colegas. “Participar do projeto tem sido uma experiência muito importante, tanto pessoal quanto profissionalmente. Oferece uma oportunidade de aproximação com a realidade concreta das catadoras, permitindo entender de perto os desafios que enfrentam e como seu trabalho é essencial para a sociedade e para o meio ambiente, mesmo sendo um grupo historicamente invisibilizado”, explica a aluna. Ela completa que também tem percebido o quanto desenvolveu habilidades fundamentais à prática profissional, como a escuta qualificada, a análise crítica das expressões da questão social e o planejamento de ações interventivas baseadas no diálogo e na valorização da autonomia dos sujeitos.

Resultados esperados
A equipe da UEPG conta da expectativa em conseguir melhorar as condições de vida e trabalho das catadoras melhorem, que haja um empoderamento feminino referente à sua condição de gênero, que suas ações sejam reconhecidas positivamente pela sociedade e que o meio ambiente seja beneficiado com a correta destinação dos resíduos entregues às associações. “Atualmente, elas aproveitam apenas cerca de 20% do que lhes é repassado, o restante é descartado no aterro sanitário por não ser reciclável”, comenta a professora Lenir.

Nas redes sociais
Para acompanhar as atividades do projeto, a equipe administra o perfil no Instagram @elas_uepg, onde publica fotos, vídeos e informações sobre as iniciativas e ações nas três associações.

O financiamento das bolsas provém da Itaipu Binacional, por meio do edital “Projetos para o Programa de Extensão para sustentabilidade territorial”, gerenciado pela Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Culturais.

As informações são da Universidade Estadual de Ponta Grossa.