Trabalho, comprometimento e reconhecimento. A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), representada pela Escola Tecnológica de Leite e Queijos dos Campos Gerais (ETLQueijos), se destacou no júri do Prêmio Queijo do Paraná. Os professores Deise Rosana Silva Simões, Alessandro Nogueira e o aluno Matheus Baldykosky Ribas Santos, do curso de Engenharia de Alimentos, foram três dos 81 integrantes do júri que avaliou 477 produtos habilitados a participar da competição. Matheus e Alessandro ainda participaram do superjúri, ao final da competição.
Foram escolhidos 15 queijos para a medalha de ouro, 20 premiados com a medalha de prata e 30 que conquistaram o bronze. Além desses, o júri selecionou dez produtos que foram condecorados com a medalha ‘super ouro’. A premiação aconteceu em maio deste ano no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
Ao longo do prêmio, Deise, Matheus e Alessandro avaliaram produções de 108 queijeiros divididos em 21 categorias de 76 municípios paranaenses. Para o trio, uma oportunidade indescritível de troca de conhecimento.
Preparo
A professora Deise comenta que, desde a primeira edição, que ocorreu em 2023, há um preparo especial: um treinamento específico para a equipe avaliar os queijos da melhor forma possível. “Quando a gente está avaliando o queijo, a gente dá um feedback para o produtor para que ele possa melhorar a produção dele. Não é simplesmente ele ter todo aquele cuidado e carinho de entregar um queijo para ser avaliado e sair sem retorno”, relata. “Acho que o principal objetivo do prêmio é melhorar a cadeia produtiva, já que nesse quesito o Paraná tem uma representatividade muito grande”, acrescenta.
Alessandro explica que a bacia leiteira da região dos Campos Gerais é a de melhor qualidade do Brasil. Nogueira enfatiza a importância dessa participação para a Escola, no que diz respeito ao mapeamento das atividades dos egressos. “Na primeira edição do Prêmio, começamos a encontrar essas pessoas que já passaram por aqui. A gente vai percebendo que o pessoal está indo para frente”, pontua.
Alessandro, que trabalha há 15 anos de forma voluntária aos finais de semana, destaca a participação de Matheus, aluno do 5º ano de Engenharia de Alimentos na UEPG como jurado do Prêmio. Para Matheus, foi uma grande oportunidade de aprimorar ainda mais as suas técnicas e aguçar o interesse pela área da análise sensorial.
Um interesse que surgiu aos poucos
Matheus se interessou pela Engenharia ainda na adolescência. “Eu estava em dúvida se faria Alimentos ou Materiais. Aí acabei prestando Alimentos e passei!” – revela o acadêmico. Durante os anos iniciais do curso, a paixão pela área de análise sensorial se revelou ao longo das aulas. Matheus foi aluno da Escola Tecnológica de Leite e Queijos dos Campos Gerais desde 2023 e está no seu terceiro ano de curso, desta vez, contribuindo sob uma ótica diferente.
A partir do treinamento recebido para que a equipe da UEPG fizesse parte da banca de jurados no Prêmio Queijos do Paraná, Matheus tornou-se auxiliar na ETLQueijos, especificamente envolvido com essa temática da análise sensorial. “O Matheus, agora, replica o nosso treinamento aqui na Escola”, comenta, orgulhoso, Alessandro.
Sentidos aguçados
Matheus é um estudante com baixa visão – o que não o impediu de mergulhar nos estudos e se destacar como superjurado na 2ª edição do Prêmio. Ele conta que não foi necessária nenhuma adaptação para que ele pudesse participar da banca, uma vez que ele consegue compensar alguns quesitos analisados utilizando outros sentidos. “Uma pessoa que tem uma baixa visão pode ter uma dificuldade a mais para ver a aparência do queijo”, detalha. “Mas se você estiver bem treinado, é possível contornar esse problema usando o tato”, complementa.
O acadêmico é aluno de iniciação científica e o tema de sua pesquisa é justamente esse: como contornar dificuldades de pessoas com baixa visão no quesito visualização da análise sensorial. Matheus explica que pessoas que utilizam a metodologia Braille costumam ter um tato mais bem treinado – o que facilita na identificação de possíveis defeitos nos queijos. “O queijo tem uma coisa chamada olhadura, que são aqueles buraquinhos que normalmente a gente consegue ver, certo? Essas olhaduras, se você passa a mão, consegue sentir se são arredondadas ou mais disformes. Isso, para o queijo, é essencial”. Entre outros aspectos, também é possível sentir com o tato defeitos como ranhuras na superfície e na parte interna do queijo.
O som do queijo
Matheus contorna a baixa visão utilizando outros sentidos. Para os colegas de curso na ETL, um desafio: a cada módulo, o estudante experimenta queijos dos amigos, que aguardam, ansiosos, pelo seu parecer.
Além de conseguir sentir o queijo com a ponta dos dedos, o estudante ainda utiliza o som para avaliar os produtos e dizer se eles são de qualidade ou não. “O queijo tem um som muito específico. O queijo coalho, por exemplo, se está contaminado, quando você morde, parece uma borracha”, detalha. “Se o queijo está cremoso, você mastiga e ouve um tipo de som. Se o queijo está duro, o barulho é bem sutil. Um queijo fresco não pode ser borrachudo – esse é um ponto bem interessante de se destacar”, complementa.
Esta foi a primeira participação de Matheus em um evento competitivo desse porte e ele já se destacou fazendo parte do superjúri, que avaliou, ao final da competição, os melhores queijos de cada categoria, diante da plateia – uma análise ainda técnica, mas mais subjetiva, como conta a professora Deise. “Essa defesa leva em consideração o seu emocional: o que aquele queijo te lembrou? Às vezes, lembra a infância, traz memórias sensoriais diferentes, então leva em conta aspectos além da própria qualidade do queijo”.
Para Alessandro, que também foi um dos superjurados, a participação em um evento como esse é importante tanto para o curso de Engenharia de Alimentos quanto para a Escola de Queijos, uma vez que os professores puderam levar sua expertise e trazer conhecimentos específicos que foram compartilhados ao longo dos treinamentos.
Aprendizados e ensinamentos
A professora Deise comenta que a relevância da região dos Campos Gerais na produção de queijos fica evidente durante o evento. “Esse é um reconhecimento de um trabalho de equipe, de família, para além dos grandes produtores da região. Para mim, marcou muito, pois é uma produção que tem um impacto social muito grande, tanto para a Frimesa, por exemplo, que ganhou um prêmio e é uma indústria grande, quanto para aquele pequeno produtor que está no dia a dia na batalha por melhorar cada vez mais o seu produto”, assegura.
Alessandro relembra que quatro egressos da turma de 2024 da ETL Queijos foram premiados na segunda edição do Prêmio Queijos do Paraná. “Tivemos o pessoal de Witmarsum, de Vila Velha, de Arapoti… todos premiados. A gente viu a quantidade de gente que estava trabalhando com queijo e a qualidade do que eles mostraram, isso foi muito bom”, destaca.
Para Matheus, a premiação é importante, pois muitas vezes, grandes produtos não têm tanta visibilidade. “A medalha liga o produtor ao consumidor. Quando um produtor é premiado, ele passa a vender mais, produzir mais e com uma qualidade cada vez mais elevada”, ressalta.
A Escola de Queijos
Pioneira no Brasil, anualmente a Escola forma queijeiros que se destacam em prêmios e avaliações importantes pelo país. As aulas são realizadas em módulos e os interessados podem se inscrever tanto para o curso completo como para módulos específicos – as inscrições ficam abertas durante todo o período. Os encontros acontecem aos sábados no prédio da ETL, próximo ao bloco L, em Uvaranas. Mais informações sobre a programação, inscrições e outros detalhes podem ser encontrados no link.
da assessoria