Sábado, 04 de Maio de 2024

Cena Local D’P: Chatos para comer

2023-07-05 às 15:20

Característico de adultos que não consomem certos alimentos, o “paladar infantil” pode causar problemas nutricionais, psicológicos e até sociais, alerta nutricionista

por Michelle de Geus

É raro encontrar uma criança que não goste de alimentos industrializados repletos de açúcares e gorduras. Mas esse perigoso hábito também pode ser encontrado em adultos que evitam consumir legumes, frutas e verduras. Esse comportamento é conhecido como “paladar infantil” e tem como traços a monotonia alimentar e a rejeição a vários tipos de alimentos por conta da textura, cor, sabor e aspecto.

“O indivíduo com paladar infantil é aquela pessoa ‘chata para comer’, que sempre dá dor de cabeça no restaurante. Ela não gosta de experimentar pratos novos e alimentos diferentes”, explica a nutricionista clínica e esportiva Adriane Cristina Colaça. “A pessoa que tem esse comportamento repete sempre o mesmo tipo de refeição e, às vezes, em um evento social, por exemplo, ela não se alimenta com o que é oferecido ou leva de casa o seu próprio alimento”, acrescenta.

De acordo com Adriane, não é possível estabelecer uma única causa para o transtorno. “Ele pode estar relacionado desde crenças a traumas durante o processo de introdução alimentar, como engasgos e queimaduras. Também tem uma relação muito forte com quadros de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo e espectro autista”, aponta.

Consequências

A nutricionista enfatiza que a seletividade alimentar pode acarretar problemas nutricionais, psicológicos e até dificultar a interação social. “Quanto mais exposta a pessoa está a uma grande variedade de alimentos, mais natural se torna o processo de experimentar sabores diferentes. E, quanto mais variada for a alimentação, maior será o aporte nutricional”, explica, salientando que, dependendo do nível da rejeição, é possível encontrar quadros de anemia, desnutrição, colesterol alto, aumento dos triglicerídeos, baixo peso ou obesidade.

Tratamento

Adriane afirma que o primeiro passo para superar o paladar infantil é tornar o ambiente da refeição agradável, sem estresse, televisão e celular. Em casos mais graves, é preciso buscar ajuda de uma equipe multidisciplinar composta por nutricionistas, psiquiatras e psicólogos. “O tratamento definitivo é a dessensibilização, ou seja, em algum momento o indivíduo vai precisar comer aquele alimento que ele rejeita. E todo esse processo tem que ser feito de forma técnica e muito cautelosa”, conclui.

“Quanto mais variada for a alimentação, maior será o aporte nutricional”
Adriane Cristina Colaça, nutricionista

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #295