Segunda-feira, 29 de Abril de 2024

D’P Cena Local: Falou empadinha, falou Otto

2023-10-23 às 11:10
Foto: Elisângela Schmidt

Conheça a história da tradicional panificadora Empadinhas Otto, cujos quitutes alimentam e deliciam os ponta-grossenses há 77 anos

Por Elisângela Schmidt

Há cinco gerações, a família Ewy guarda um delicioso segredo: a receita das empadinhas mais famosas de Ponta Grossa. Mas essa história também guarda outras curiosidades que vão além da culinária.

O austríaco Jacob Ewy chegou ao Brasil fazendo malabarismos na corda bamba com o circo em que trabalhava, mas logo encontrou uma paixão que tirou o seu equilíbrio. Tempos depois, ele precisou voltar à Áustria, mas manteve o propósito de retornar ao Brasil para se casar com Doroteia. E assim foi. O casal teve dez filhos – entre eles, o primogênito Otto Ewy, que nasceu em 1908, em Ponta Grossa, e que daria nome à panificadora Empadinhas Otto, um marco da gastronomia ponta-grossense.

Segundo familiares, Otto trabalhou por muitos anos nos Correios, mas sempre teve aptidão e talento para a cozinha. Para ocupar o tempo livre e conseguir uma renda extra, ele começou a trabalhar em uma confeitaria da cidade. O seu carisma e dedicação o fizeram ganhar um curso na prestigiada confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro (RJ). Lá, ele aprendeu a fazer doces, como bomba, carolina, queijadinha e também salgados, como as empadas. Esse aprendizado foi um grande passo para ele iniciar o seu negócio, mas o impulso para dar início às vendas veio com o pedido de um compadre para fazer empadas para a inauguração de um clube local. A repercussão foi tão grande que os convidados começaram a fazer pedidos do salgado. E foi assim que começaram as vendas das Empadinhas Otto.

O sucesso foi tamanho que Otto, com a ajuda da família, chegou a produzir dez mil empadas em um único dia. O pedido inesperado veio de clubes da região, que precisavam de algo prático e de qualidade para um evento de Carnaval. Durante muitos anos, Otto contou com vendedores que saiam com cestas para vender as empadas pela cidade, mas também manteve o fornecimento para lugares como o Clube Verde.

Tradição familiar

Otto se casou com Catharina e da união tiveram quatro filhos. Em 1946, a família se mudou para a rua Princesa Isabel, na região do bairro São José, local que até hoje abriga a panificadora, e iniciou a venda das empadas em balcão. Após o seu falecimento, em 1988, Catharina e a filha, Neusi Ribeiro de Souza (foto), continuaram produzindo as empadinhas. Paralelo a isso, em Curitiba, outro filho de Otto, José Alfredo Ewy, também deu continuidade à tradição familiar, com as Empadas Original, em funcionamento até hoje.

Sempre a mesma

A receita das famosas empadinhas é passada de geração em geração, mas é um mistério até mesmo para a família saber como Otto chegou nesses ingredientes e no exato modo de preparo do quitute. “A nossa massa é de uma receita bem diferente, não é massa podre, nem massa totalmente folhada, mas são apenas quatro ingredientes [água, sal, trigo e banha]”, explica a neta Claudia Ribeiro de Souza.

Na visão de Neusi, o segredo das empadinhas Otto está na qualidade e na tradição. “Nunca mudamos a receita, nem o recheio. Se você vier aqui hoje ou daqui a 30 dias, encontrará a mesma empada”, explica. “Todo o nosso processo é artesanal, tudo é feito a mão, desde arrumar as forminhas até abrir a massa”, acrescenta Claudia.

Alegre e risonho

E, por falar em tradição, Neusi lembra com carinho do homem trabalhador, mas também de ótimo coração, que foi Otto. “Isso não sou só eu que falo. Um dia um cliente me disse que se lembrava muito do meu pai como um homem alegre e risonho, e muito trabalhador”, lembra. “Em outra ocasião, o filho de uma antiga funcionária disse que se lembrava muito de meu pai e que ele teria matado a fome daquela família muitas vezes”, conclui.

D’P SERVIÇO
Empadinhas Otto
Endereço: Princesa Isabel, 110, São José
Telefone: (42) 3224-1707
Horário de atendimento: seg. a sex. das 8h45 às 18h, e sábado até às 17h

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #297