Quinta-feira, 02 de Maio de 2024

D’P Cena Local: Para viajar no passado

2023-10-16 às 14:16

O escritor e reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Miguel Sanches Neto, indica cinco livros para conhecer a história e a alma de Ponta Grossa

Por Elisângela Schmidt

Numa pequena cidade do grande mundo (Editora UEPG, 2021), por Judith Dantas Pimentel

O livro apresenta Ponta Grossa em um cenário de transição entre vilarejo e cidade, tomando-o como pano de fundo para as histórias da família Dantas e de uma série de peculiares personagens princesinos que dão à narrativa muito de seu sabor e emoção. A luta pela vida, as tragédias cotidianas, os amores impossíveis, a sombra inescapável da morte, os valores morais e religiosos, e a presença dos negros no nascente ambiente urbano são alguns dos temas que revestem a narrativa.

Cinco histórias convergentes (Editora UEPG, 2004), por Epaminondas Holzmann

A Ponta Grossa rememorada nestas páginas, localizada principalmente nas primeiras décadas do século XX, é uma casa democrática, que acolhia os que aqui chegavam para tentar a vida, sem se importar com a sua origem. Cada uma das histórias centra-se em uma figura, mas Holzmann fala de todos os tipos relacionados a elas. Não é, portanto, um livro sobre cinco profissionais, mas sobre uma cidade inteira, viva em suas saborosas histórias cotidianas. O autor não se detém apenas nos domínios das grandes personalidades, mas recupera todas as trajetórias humanas, mesmo as mais obscuras.

Poemas seguidos de dois ensaios (Imprensa Oficial do Paraná, 2011), de Brasil Pinheiro Machado

Um lado menos conhecido do advogado, parlamentar e professor ponta-grossense Brasil Pinheiro Machado é revelado nesta série de poemas escritos no final da década de 20. O jovem autor detalha em versos modernistas as origens do Brasil e das pessoas de sua terra. Quem acompanhou a história desse homem discreto, com vida acadêmica marcante como professor de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não imaginava o poeta que ali estava escondido. Os versos abordam as epopeias, lendas, crenças, dores e outros fatos dos colonos que se instalaram na região.

Diário de uma visita à província do Paraná (Editora UEPG, 2008), por Dom Pedro II

Publicadas pela primeira vez no Anuário do Museu Imperial, vol. XX, em 1959, estas notas de Dom Pedro II agora circulam de forma independente. O imperador visitou 12 cidades do Paraná em maior de 1880, sempre movido por um interesse muito grande pelo país. Nesta viagem, ele buscou conhecer a jovem província, fazendo o papel de avaliador das instituições, anotando no diário o estado em que se encontravam as cadeias, as câmaras municipais e as escolas, e também a agricultura. Em Ponta Grossa, Dom Pedro II recebeu convidados, visitou diversos locais, compareceu à missa na Catedral e se hospedou na casa de Domingos Ferreira Pinto, o Barão de Guaraúna.

Jacu Rabudo (Toda Palavra Editora, 2015, 4a edição), por Hein Leonard Bowles

Neste livro sobre a linguagem coloquial ponta-grossense, a leitura é, por um lado, leve e curiosa, ressaltando o bom humor e a criatividade que se revelam nas metáforas e analogias tiradas das atividades cotidianas, e, por outro lado, ela remete o leitor, sem anunciar, à complexa questão da própria formação cultural de Ponta Grossa. O texto de “Jacu Rabudo” consegue reunir características raras no mundo acadêmico: precisão e rigor no recolhimento das fontes, prazer e bom humor na apresentação dos resultados e uma profunda sensibilidade à semântica da cultura popular local.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #297