Domingo, 15 de Dezembro de 2024

Enfoque D’P: A vida é mais do que trabalho e boletos

2024-12-15 às 15:09
Foto: Reprodução

Ter um hobby não é um luxo: é uma necessidade. Parte importante de uma vida feliz, o hobby proporciona inúmeros benefícios para a saúde física e mental. Nesta reportagem, cinco ponta-grossenses contam o que fazem para fugir da rotina e manter o equilíbrio entre corpo e mente

por Michelle de Geus

Atividade física, jardinagem, dança, trilha, artesanato, culinária, meditação, desenho, pintura… Esses são alguns exemplos de atividades que, além de proporcionarem um momento de prazer e descontração, ainda melhoram a qualidade de vida e a saúde física e mental. Inúmeras pesquisas indicam que ter um hobby promove um aumento geral do bem-estar, melhora a autoestima, ajuda a regular as emoções, promove o equilíbrio entre corpo e mente, estimula o desenvolvimento de habilidades, aprimora a concentração, incentiva a criatividade e ainda tem impactos positivos na vida social, sobretudo quando envolve atividades em grupo.

A psicóloga Vanessa Casaro, que mantém consultório em Ponta Grossa, afirma que o hobby pode ser uma ferramenta terapêutica eficaz, pois atua diretamente no equilíbrio entre pensamentos, emoções e comportamentos. “Quando nos engajamos em atividades prazerosas, como um hobby, promovemos a ativação de circuitos cerebrais associados à recompensa e ao bem-estar, o que ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade”, explica. “Além disso, os hobbies oferecem um espaço para a pessoa sair do ciclo de pensamentos negativos, ajudando a redirecionar o foco para atividades que estimulam a criatividade e a realização pessoal”, acrescenta. Para pessoas com depressão, o hobby ajuda a tirar o foco da tristeza, e, no caso da ansiedade, também faz com que o paciente transfira suas preocupações.

Resultados duradouros

A psicóloga menciona que é possível perceber, em sua prática clínica, uma melhora consistente na qualidade de vida dos pacientes após adotarem um hobby. “Tenho um paciente que, inicialmente encaminhado para cirurgia bariátrica, conseguiu adotar um estilo de vida mais saudável ao se engajar em trilhas. Isso não apenas ajudou na perda de peso, mas também contribuiu para uma melhora em sua autoestima e saúde mental, a ponto de a cirurgia se tornar desnecessária”, aponta.

“Hobbies oferecem um espaço para sair do ciclo de pensamentos negativos, mudando o foco para atividades que estimulam a criatividade e a realização pessoal”
Vanessa Casaro, psicóloga

Vanessa ressalta que, embora a mudança não seja imediata, a prática de hobbies tem mostrado resultados duradouros. “Um hobby não necessariamente trará alívio imediato para o estresse ou a ansiedade, mas, com o tempo, ele pode ter um impacto profundo na qualidade de vida”, observa, acrescentando que o hobby deve ser visto como uma ferramenta de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, e não apenas uma forma de passar o tempo. “A orientação psicológica é crucial nesse processo, pois ajuda o paciente a manter o foco, refletir sobre as emoções envolvidas na prática do hobby e, com isso, desenvolver estratégias para lidar com os desafios que surgem ao longo do caminho”, indica.

Autocuidado e relaxamento

De acordo com a psicóloga clínica e arteterapeuta Letícia Scheifer, que também atende em Ponta Grossa, o hobby é um momento de se desconectar das cobranças do estudo ou do trabalho e até mesmo de problemas pessoais. “Ter um hobby é também priorizar o seu tempo, ou então isso será constantemente adiado, porque sempre achamos que há algo mais importante a fazer”, pondera.

Letícia acredita que o jeito mais fácil de incluir um hobby na rotina é fazendo com que ele gradualmente faça parte da agenda. “Isso significa realmente colocar um momento na semana para isso, mesmo que seja por pouco tempo no início. Pode ser um horário antes ou depois do trabalho, ou no fim de semana, mas é uma hora sagrada em que você se propõe a fazer só aquilo”, explica.

“O hobby deve ser encarado sem a pressão de ser produtivo, mas com uma frequência que promova um compromisso com a diversão e consigo mesmo”
Letícia Scheifer, psicóloga

Um ponto importante, segundo ela, é cuidar para que o hobby não seja visto como uma obrigação ou mais uma tarefa na agenda, mas como um espaço de autocuidado e relaxamento. “O hobby deve ser encarado sem a pressão de ser produtivo, mas com uma frequência que promova um compromisso genuíno com a diversão e consigo mesmo, valorizando o processo de fazer e aprender”, aconselha.

Paixão de pai para filho

Aos 54 anos, o procurador da República Osvaldo Sowek Júnior pode se gabar de ser tenista desde os nove anos de idade, de forma praticamente ininterrupta. Ainda na infância, ele chegou a jogar futebol e um pouco de basquete, mas se encontrou no tênis por influência do pai. “Meu pai já jogava, e ele sonhou, inclusive, que eu me tornasse profissional do tênis. Eu treinei muito na juventude, mas não cheguei a um nível que me permitisse ser profissional”, relata.

Atualmente praticando o esporte três vezes por semana, Sowek menciona que o impacto do tênis na sua qualidade de vida é extremamente positivo. “O ambiente do esporte em geral, e do tênis em si, é muito bom. Claro que sempre tem pequenas discussões por causa de uma bola, se foi boa ou foi fora, ou por causa de quadra, porque às vezes tem muito tenista para pouca quadra, mas são coisas do dia a dia”, aponta. “Hoje temos um grupo muito unido e, quando tem essas pequenas confusões, no fim do dia todo mundo continua amigo e vai tomar uma cervejinha no bar”, conta, aos risos.

“Sem o tênis, eu não teria as boas amizades e o bom convívio com pessoas legais que eu tenho”
Osvaldo Sowek Júnior, procurador da República

Sowek lembra que, além de saúde, o esporte traz muitas amizades. “Os meus melhores amigos, as pessoas com quem eu mais convivo, são do tênis. Sem o esporte, eu não teria as boas amizades e o bom convívio com pessoas legais que eu tenho”, afirma. A paixão do procurador pelo tênis acabou contagiando os filhos, que também praticam o esporte regularmente. “O mais legal foi incentivar meus filhos a jogarem. Eu não me arrependo, e eles também não”, afirma.

Salvando vidas

O delegado-chefe da 13ª Subdivisão Policial, Nagib Nassif Palma, sempre foi entusiasta das artes marciais e já treinou judô e jiu-jitsu. Há cerca de dez anos, ele começou a praticar boxe chinês, também conhecido como sanda, mas nos últimos dois anos migrou para o boxe convencional. “Além de ser um exercício cardiorrespiratório maravilhoso, o boxe também permite um treino de equilíbrio, de afinamento na motricidade e de rapidez na locomoção. Como toda luta, ele apura os sentidos, a concentração, a segurança e pode ser útil em caso de defesa pessoal”, afirma.

O delegado observa que o boxe lhe trouxe mais agilidade, concentração e foco. “Sou policial há mais de 20 anos, e digo que esses hobbies literalmente salvaram minha vida. A começar pela saúde física, mental e emocional, terminando em eventos físicos que a função me levou a enfrentar”, comenta, mencionando que o boxe contribui para o sucesso em outros aspectos de sua vida. “No meu caso, foi uma forma de me estruturar e me doar ainda mais à minha carreira, ajudando da melhor forma possível a nossa comunidade”, avalia.

“Sou policial há mais de 20 anos, e digo que os meus hobbies literalmente salvaram a minha vida”
Nagib Nassif Palma, delegado-chefe da 13a Subdivisão Policial

Além do boxe, Nagib pratica musculação quatro vezes por semana, das 21h às 22h. “Eu comecei na adolescência, para ficar com o físico mais musculoso, reflexo dos filmes de Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, e mantenho até hoje”, brinca. Quando chega em casa, pelo menos duas vezes por semana, o delegado pratica sozinho movimentos do boxe e uma vez por semana recebe instrução pessoal com o professor, das 7h às 8h. Nos últimos cinco anos, tudo isso é acompanhado por meditação diária, de 15 minutos, antes de dormir, para completar o ciclo físico, mental e emocional.

Sensação de liberdade

Há 15 anos, a médica ginecologista Adriana Lopes começou a andar de moto, incentivada pelo marido, o médico ortopedista Marcos Tenório, e gamou no hobby. “Meu marido pilota motos há muitos anos e começou a me estimular nisso. O que me atraiu foi a liberdade de sentir o vento no rosto e o cheiro da natureza”, afirma, relatando que o motociclismo também trouxe uma interação maior consigo mesma. “Eu sou muito cristã, então é um momento em que eu consigo me conectar com Deus, faço minhas orações e consigo ter uma gratidão ainda maior”, aponta.

Adriana explica que a maior dificuldade para introduzir o motociclismo em sua rotina foi o receio de andar de moto dentro da cidade. “Eu não uso a moto para me locomover no dia a dia, porque acho perigoso”, aponta. Mas nos finais de semana ela e o marido sempre reservam um tempo para o hobby. “Nós vamos para a praia ou para a Ilha do Mel, tomamos um café na Parada do Pão de Queijo, em Witmarsum ou no Letts Road. Tem uma flexibilidade maior para sair nos finais de semana”, explica.

“Nós investimos muito na vida profissional, mas a necessidade de ter uma válvula de escape é grande”
Adriana Lopes, médica ginecologista

Com uma rotina de trabalho que vai das 9h às 20h, Adriana não abre mão do motociclismo. “Nós investimos muito na vida profissional, mas a necessidade de ter uma válvula de escape é grande. Você consegue se tornar uma pessoa melhor e uma profissional melhor quando se identifica com algo que lhe dá prazer”, declara.

Relaxamento mental

Logo que foram lançadas as primeiras mountain bikes, na década de 90, o farmacêutico Alessandro Lozza Pereira de Moraes já se interessou pelo esporte. “Eu sabia que seria uma maneira de explorar as estradas rurais e belezas naturais de nossa região com maior facilidade”, lembra. Ele sempre gostou de paisagens naturais e desde criança acompanhava o pai em algumas jornadas pelo meio rural, mas de carro ou a cavalo. “A vantagem é que a bicicleta te dá uma condição muito maior de alcance, pela praticidade da mobilidade e para transportá-la até os pontos de partida em outras localidades”, compara.

Para Moraes, os momentos vividos sobre a bike são fundamentais para que ele se mantenha bem fisicamente e mentalmente. “É um esporte que proporciona um condicionamento físico extraordinário, pois cada passeio chega a quatro horas ou mais, com muito relaxamento mental”, relata.

“O ciclismo me proporciona um condicionamento físico extraordinário, com muito relaxamento mental”
Alessandro Lozza de Moraes, farmacêutico

A rotina de trabalho dificulta saídas maiores durante a semana, mas ele reserva os sábados para percorrer distâncias mais longas. “O trabalho enobrece o homem, não tenho dúvida quanto a isso. Mas, para que você consiga focar no trabalho e ter sucesso, deve estar bem de saúde física e mental”, opina, ressaltando que, para alcançar esse equilíbrio, é preciso ter bons momentos com a família e proporcionar certo tempo para si mesmo. “Tenho uma ligação forte e diária com minha família, o que nos mantêm muito unidos, e nunca deixo de realizar uma prática esportiva durante o dia”, detalha.

Para ele, esta é a fórmula para viver bem.

Só coisas positivas 

A cirurgiã dentista e harmonizadora facial Bianca de Oliveira sempre gostou de fazer atividade física e de cuidar do corpo. Em 2017, logo após o nascimento de seu filho, Lucca, ela se encontrou no CrossFit. “Na minha gestação, eu acabei engordando 18 quilos, e o CrossFit foi um jeito de voltar à rotina e às atividades”, conta, mencionando que o fato de os treinos não serem maçantes foi o que mais lhe chamou a atenção. “Todo dia é um treino diferente, e você não sabe como é o treino do dia. Eu ia dormir já ansiosa para o próximo treino, que eu nem sabia o que era”, diverte-se. “Isso fez eu me apaixonar pelo esporte, até porque você acaba evoluindo nos movimentos e se desafiando, e, cada vez que você consegue, é uma conquista”, aponta.

Mesmo com as responsabilidades do trabalho e com o filho pequeno, Bianca afirma que não foi difícil para incluir o CrossFit na sua rotina. “Apesar de a minha rotina ser bem corrida, meu dia é muito cronometrado. Então eu sei que, se eu não for naquele horário, dificilmente eu vou conseguir em outro”, explica ela, que atualmente treina seis vezes por semana, entre 6h e 7h, intercalando CrossFit e musculação. “O CrossFit traz muita força e condicionamento físico, mas a musculação é ainda melhor para a estética. Estou somando os dois e gostando muito do resultado”, destaca.

“O CrossFit melhorou minha qualidade de vida, meu trabalho, meu humor e minha disposição no dia a dia”
Bianca de Oliveira, cirurgiã dentista e harmonizadora facial

Bianca observa ainda que o CrossFit trouxe diversos impactos positivos para sua vida. “Melhorou minha qualidade de vida, meu trabalho, meu humor, minha disposição no dia a dia. Só trouxe coisas positivas, porque, você estando bem, tudo flui”, explica, acrescentando que dedicar pelo menos 15 minutos por dia para relaxar, meditar ou fazer algo de que se gosta pode fazer grande diferença na saúde física e mental.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #304