Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Especial D’P: Confira as perspectivas para 2022 na visão de especialistas de diversas áreas

2021-12-19 às 11:09
Conteúdo exclusivo publicado na Revista D’Ponta #288 Nov/Dez/2021
por Ismael de Freitas

‘Dois mil e vinte e dois’ se apresenta repleto de incertezas, promessas e esperança. Para descobrir o que se pode esperar para esse próximo período, a revista D’Ponta entrevistou especialistas, intelectuais e doutores em nove áreas do conhecimento.

O impacto das eleições para presidente, governadores, deputados e senadores será um definidor importante em quase todas as esferas. De igual modo, é imperativo saber quais serão as medidas para conter a Covid-19, assim como as consequências para a saúde mental que a pandemia vai nos deixar.

A perspectiva sobre o cenário econômico requer também um olhar mais aprofundado sobre agricultura, tecnologia, educação e meio ambiente. Além disso, fomos em busca de informações para traçar o futuro do Operário Ferroviário Esporte Clube. Não se trata de um exercício de vidência ou adivinhação, mas apenas perspectivas e projeções a partir de visões baseadas em fatos e na ciência.

 

 

AGRICULTURA

“O agronegócio impulsionado pelos juros baixos e a alta do dólar se desenvolveu num ritmo impressionante nos últimos anos. Estamos quebrando recordes de produtividade na produção de grãos, carnes, leite, apenas para dar alguns exemplos. A chegada da energia solar ao campo, a maior implantação dos biodigestores, a internet 5G, os drones, a melhoria da malha viária e dos sistemas de transportes vão acelerar ainda mais o desenvolvimento rural, com redução de custos e sustentabilidade. Também estamos investindo na verticalização da produção e o mundo precisa de mais alimentos.

A fruticultura cresce a passos lentos, mas o mundo adora nossas frutas! Não temos apenas maçã, mas precisamos gerar novas estratégias de controle fitossanitário e, principalmente, usar a tecnologia existente. As cadeias produtivas convencional, orgânica e transgênica estão aí para agradar a todos os gostos, e essa diversificação gera empregos e renda. Precisamos quebrar o paradigma do público versus privado e investir na geração de tecnologia nacional, para não ficarmos à mercê, por exemplo, da bolsa de Chicago! Certa vez ouvi: se não há negócio, não há pesquisa!”

Ricardo Antonio Ayub, doutor e professor titular do curso de Agronomia da UEPG

Ricardo Antonio Ayub, doutor e professor titular do curso de Agronomia da UEPG

 

 

ECONOMIA

“O resultado econômico de 2022, certamente, dependerá do ambiente político. Portanto, qualquer projeção deve considerar esta variável. Para tanto, consideraremos dois cenários. No cenário base, o presidente Bolsonaro usa todas as ferramentas fiscais (disponíveis e não disponíveis) para tentar se reeleger, mantendo chance de vitória até a eleição. O ano de 2021 está terminando com estrangulamento econômico, muito em função dos auxílios fiscais mal projetados e da política monetária frouxa. Logo, no cenário base, 2022 seria mais do mesmo, ou seja, dado este comportamento, a percepção de risco do mercado aumentaria, resultando em queda nos investimentos e na saída de capital estrangeiro (depreciação cambial).

Resumindo, o resultado deste cenário é mais inflação, menor crescimento e maior desemprego. No cenário alternativo, uma terceira via (ou até mesmo o ex-presidente Lula se direcionando ao centro, como fez com a “Carta ao povo brasileiro”, em 2002) ganha força, ao mesmo tempo em que o apoio ao presidente Bolsonaro é desidratado. Assim, as condições políticas do Governo para uma política fiscal mais agressiva diminuem, e as condições de risco melhoram. O resultado é uma taxa de inflação mais moderada, um crescimento do PIB pequeno (mas positivo) e uma recuperação do emprego formal.”

Celso Costa, economista e professor doutor da UEPG

Celso Costa, economista e professor doutor da UEPG

 

 

POLÍTICA

“O chamado capitalismo financeiro, iniciado no Sec. XX, depois da Segunda Guerra Mundial, se agiganta. Bancos e empresas querem mais lucros, e mesmo os chineses, mas não só eles, aderiram solenemente. Esta fase do capitalismo vem mostrando maior agressividade sobre a América Latina, com a especulação financeira crescendo em torno de ações de empresas, juros, títulos de dívidas e diversas formas de créditos. A pandemia ajudou a intensificar muito esse cenário. Há uma generalização da carestia, países mergulham em dívidas e até mesmo o PIB norte-americano estará em apenas 3,5%. No Brasil, a inflação aponta para um período de estagnação.

Como enfrentar esse monstro financeiro? Cientistas políticos dizem que nossas chances de melhora dependem da política econômica que emergirá das eleições de 2022. Políticas conservadoras alimentarão aquele sistema e políticas nacionalistas e distributivistas poderão ser um contraponto. A unificação da esquerda é considerada o ponto de Arquimedes. A pergunta é se estaremos novamente na atávica luta entre os ortodoxos que querem redução do déficit público e o combate da inflação e os heterodoxos que querem congelar preços e liberar as políticas monetária e fiscal. Resta a esperança pós eleitoral e não se descarta um resultado alentador.”

Fábio Goiris, cientista político, professor da UEPG, mestre em Ciência Política pela UFRGS e pós-graduado em Sociologia Política pela Universidade de Londres

Fábio Goiris, cientista político, professor da UEPG, mestre em Ciência Política pela UFRGS e pós-graduado em Sociologia Política pela Universidade de Londres

 

 

TECNOLOGIA

“Há pouco mais de 500 anos, o Brasil foi descoberto, há pouco mais de 50 anos o homem chegava à Lua com transmissão ao vivo pelos meios de comunicação. A pergunta que se faz é o que estes eventos têm em comum (?!). O elemento em comum é a Tecnologia, que, de forma simples, pode ser definida como “conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à arte, indústria, educação, etc”. Quando a mudança tecnológica se apresenta extremamente significativa, esta passa a ser chamada de tecnologia disruptiva, ou seja, aquela que revoluciona muito significativamente a forma com que o processo era anteriormente realizado, ou simplesmente cria um novo mercado, produto ou serviço.

Nesse caminho surgem tecnologias que ganham notória representatividade como a internet das coisas, indústria 4.0, inteligência artificial e outros que ainda estão por vir. Nos dias atuais, o grande vetor das inovações tecnológicas são os smartphones, pois em um único dispositivo se agrega a possibilidade de utilização do que se tem de mais avançado nos recursos tecnológicos disponíveis, para cada vez mais o mundo estar conectado.”

Ariangelo Hauer Dias, professor do curso de Engenharia de Computação da UEPG

Ariangelo Hauer Dias, professor do curso de Engenharia de Computação da UEPG

 

 

MEIO AMBIENTE

“Difícil antecipar projeções para 2022 no tema meio ambiente. Seria adivinhar a resposta de uma equação com muitas variáveis, que vão desde eleições até respostas da natureza aos impactos da ação humana. Mais viável tentar apontar quais deveriam ser as prioridades, no intuito de evitar sombrias projeções, já feitas há anos.

A COP26 fracassou em firmar compromissos com relação à emissão dos gases estufa. Analistas mais sinceros declaram: o problema não são os gases estufa e o clima, o problema é o capitalismo predatório. A solução seria migrar para outro sistema econômico, em que a cupidez do ser humano não fosse estimulada, mas aplacada. A ambição e a cegueira moral e ecológica dariam lugar à solidariedade.

Temendo a crise hídrica, aprenderíamos a proteger as unidades de conservação, os mananciais superficiais e subterrâneos, reconheceríamos o quanto a Amazônia é crucial, como fonte dos “rios voadores”, para a água do restante do Brasil. Ignorar isso é sabotar o país. E temendo o vírus final, aquele contra o qual não haveria vacina, promoveríamos a inclusão social, resgatando os famintos de sua malsã condição. Não fazê-lo seria  colocar toda humanidade em risco. As pandemias são o desenlace da desfaçatez social e ambiental somadas.”

Mário Sérgio de Melo, geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

Mário Sérgio de Melo, geólogo, professor aposentado do Departamento de Geociências da UEPG

 

 

CIÊNCIA – VACINAS

“Percebemos na prática o quanto a ciência avançou por ocasião da pandemia com a implementação de novas tecnologias relacionadas às vacinas. No entanto, como tudo isso ainda é muito novo, ainda estamos aprendendo a lidar com essas descobertas, principalmente em relação ao tempo que as vacinas se mostram eficientes produzindo anticorpos. Saliento que a estratégia adotada em nosso país de fornecer doses de reforços passados cinco meses se mostrou muito acertada, inclusive para que não aconteça o que está se passando na Europa, com a quarta onda de infecção da Covid-19, apresentando aumento expressivo no número de casos.

Muitos dos países europeus conseguiram vacinar em grande escala, mas não aplicaram doses de reforço. Essa decisão pode ser o motivo da nova onda da pandemia. Sabe-se também que a maioria dos casos envolve pessoas que não se vacinaram, mas também há relatos de pacientes que completaram o primeiro ciclo vacinal há mais de seis meses. No ano que vem, acredito que as doses de reforço serão necessárias, seja de seis em seis meses ou mesmo anual, como já acontece para a prevenção contra o vírus da influenza.”

Gabriela Margraf Gehring, infectologista do Hospital Universitário de Ponta Grossa

Gabriela Margraf Gehring, infectologista do Hospital Universitário de Ponta Grossa

 

 

EDUCAÇÃO

“Fomos surpreendidos pela pandemia e a estratégia de isolamento se mostrou eficaz para salvar vidas. Em Ponta Grossa, as atividades presenciais nas escolas foram encerradas em 20 de março do ano passado. Isso exigiu decisões inéditas e assim nasceu o Projeto de Educação Remota Vem Aprender, substituindo o espaço presencial por interações via Facebook, Youtube e na TV Educativa, juntamente com atividades planejadas escritas para serem realizadas em casa. Houve redução drástica do tempo de aprendizado pedagógico. Com dificuldades financeiras e desemprego, muitas famílias não tiveram condições de acompanhar seus filhos.

A experiência mostrou que, por mais bem elaborado e planejado, o ensino remoto apresenta menores chances de aprendizagem efetiva, demonstrando que o contato direto com o professor(a) se torna essencial. Uma sugestão para corrigir em parte o déficit educacional determina que o agrupamento das classes não se dê mais por idade, mas por domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática.  A passagem do quinto para o sexto ano, sem a plena alfabetização, vai impactar negativamente toda a vida educacional. Será preciso um processo de avaliação para determinar o nível de aprendizagem e atender as crianças nas suas singularidades, de acordo com o seu desenvolvimento, retendo, caso seja necessário, os alunos por mais um ano.

Esméria de Lourdes Saveli, professora doutora em Educação/Unicamp, pesquisadora da área de Leitura e Alfabetização e de Gestão Educacional

Esméria de Lourdes Saveli, professora doutora em Educação/Unicamp, pesquisadora da área de Leitura e Alfabetização e de Gestão Educacional

 

 

 

SAÚDE MENTAL

“No ano de 2021, as esperanças e planejamentos de todo o planeta estiveram à mercê da pandemia de Covid-19. A Gripe Espanhola de 1918 matou mais pessoas, bem como a Peste Negra séculos atrás, mas a rapidez da comunicação nos mostrou os rumos da pandemia a cada dia, desde janeiro de 2020. No que diz respeito à saúde mental, é possível considerar algumas coisas prováveis, mas não certezas. São nítidas sequelas emocionais, principalmente as relacionadas ao medo e perdas, na população em geral. Não só quem perdeu alguém tem medo da morte.

Para Andrew Solomon, autor de O demônio do meio-dia, “quem ama tem medo de perder”. Muito provavelmente 2022 será marcado pela retomada das relações, sejam elas afetivas, trabalhistas, ocupacionais, sociais, etc. Será que voltaremos a apertar as mãos? E a abraçar? Juan Mann, o australiano que criou a campanha Abraços gratuitos em 2004, não deve ter previsto que abraçar pessoas seria gesto tão temido em 2020. Ou seja, reaprender a expressar o afeto, confiar nas pessoas, na saúde delas, respeitar regras sociais perdidas no mundo virtual, são desafios para 2022. E, parafraseando a personagem argentina dos quadrinhos Mafalda: “Pra chegar aqui com as coisas como estão, o ano que vem deve ser, no mínimo, corajoso!”.

Maurício Wisniewski, psicólogo clínico, professor de Psicologia, doutor em Educação e Desenvolvimento Humano e fã da Mafalda

Maurício Wisniewski, psicólogo clínico, professor de Psicologia, doutor em Educação e Desenvolvimento Humano e fã da Mafalda

 

 

OPERÁRIO FERROVIÁRIO

“Em 2021, montamos um time para conseguir o acesso à Série A do Campeonato Brasileiro. No entanto, problemas de lesões em jogadores de referência e muitos casos de Covid-19 fizeram com que a equipe tivesse dificuldades, principalmente a partir do segundo terço do campeonato na Série B. Nosso objetivo para 2022 não vai ser diferente. O elenco vai ser montado para brigar pelas primeiras posições na Série B.

Para a próxima temporada, também teremos, desde o início, a torcida no Estádio novamente, o que faz uma grande diferença para o Operário, pois ela é muito participativa e pressiona o adversário. Com relação ao Campeonato Paranaense, nossa meta se concentra em conquistar o título. Na Copa do Brasil, queremos avançar mais três fases dentro de nosso planejamento. Outro objetivo será a retomada do Programa Sócio-torcedor, muito afetado pela pandemia. Para isso, estamos lançando uma campanha para trazer o torcedor de volta para o Estádio. Antes da pandemia, tínhamos 9,4 mil sócios, e agora queremos superar 10 mil.”

Joélcio de Miranda, diretor do Programa Sócio-torcedor do Operário Ferroviário Esporte Clube

Joélcio de Miranda, diretor do Programa Sócio-torcedor do Operário Ferroviário Esporte Clube