Segunda-feira, 29 de Abril de 2024

Mente & Corpo D’P: Em busca do equilíbrio

2023-12-31 às 14:27
Foto: Divulgação

Educadora parental Patrícia Dijkstra aponta os perigos do uso excessivo de telas por crianças e adolescentes – e as formas de contornar o problema

por Edilson Kernicki

O uso excessivo de tecnologias e o acesso ininterrupto a redes sociais, jogos on-line e streamings, bem como os seus efeitos sobre o desempenho escolar e a socialização, tornaram-se objeto de estudo de profissionais que lidam com o chamado “bem-estar digital”, que busca o equilíbrio entre o uso de tecnologia e o bem-estar físico e emocional. “É quando percebemos que podemos usar a internet e as mídias digitais de forma responsável, evitando excessos que prejudiquem a saúde mental e física. Isso inclui cuidar do tempo on-line e do conteúdo consumido, e ter relacionamentos saudáveis no mundo digital”, explica a educadora parental Patrícia Dijkstra.

Fisicamente, além do sedentarismo e obesidade, o bem-estar digital visa prevenir problemas posturais, visuais e auditivos, bem como prejuízos na comunicação e problemas de aprendizagem – como a dificuldade de concentração. Emocionalmente, o excesso de uso das telas pode contribuir para ansiedade, depressão e solidão, pois pode afastar as pessoas de interações sociais reais. Além desses aspectos, o bem-estar digital também se preocupa com o conteúdo consumido. “Trabalhamos preventivamente com as crianças para que possam aproveitar a infância e fazer bom uso da internet”, observa.

Diálogo e supervisão

A partir da pré-adolescência, a criança reivindica maior autonomia. Patrícia sugere aos pais que, para manterem o controle sobre o acesso à internet sem restringir a liberdade e a privacidade dos filhos, o diálogo e a supervisão comecem já na infância. “Quando o filho entende que os cuidados tomados pelos pais são necessários, eles não precisam esconder nada e não se preocupam com a sua privacidade”, explica.
Segundo a neurociência, o córtex pré-frontal – área do cérebro responsável pelo autocontrole, planejamento e atenção, entre outros – amadurece somente por volta dos 25 anos. Até lá, sem essa supervisão, as decisões podem ser impulsivas, agressivas e instintivas, sem autocontrole para um comportamento mais produtivo. “Os pais precisam ter autoridade e colocar limites claros sobre o que pode e o que não pode na internet. À medida que os filhos crescem, os pais podem ajustar as regras e a supervisão. Precisamos ser um porto seguro para que os filhos corram para nós e não de nós”, instrui.

Uso desenfreado e manipulação

Patrícia nega que a tecnologia seja uma vilã. O problema, para ela, reside em seu uso desenfreado e na “escravidão” causada pela influência dos algoritmos. Dados captados por plataformas como TikTok, Instagram e X, recomendam conteúdos que nos mantêm conectados o tempo todo. “Técnicas manipuladoras são usadas para liberar cada vez mais dopamina, o hormônio do prazer, e isso afeta especialmente as crianças, que ficam presas às telas”, avalia, orientando os pais a adotarem “timer” para o uso da internet, convidarem os filhos para outras atividades e darem o exemplo, sendo moderados no uso das redes.

Mal-estar digital

É possível falar em “mal-estar digital” quando a criança ou adolescente rejeita algo essencial – sono, alimentação, exercícios físicos, socialização – e troca a vida real pela vida virtual. Nessa exposição excessiva, pode acessar conteúdos que contradizem valores e virtudes aprendidos com os pais. “Quais valores estão sendo passados para os meus filhos na internet? Quem está ensinando e o quê? Ele realmente precisa disso? Precisamos estar atentos e ensiná-los a encontrarem o equilíbrio”, conclui.

Conteúdo publicado originalmente na Revista D’Ponta #299