Quarta-feira, 02 de Julho de 2025

O médico radiologista Sebastião Cezar Mendes Tramontin conta sobre sua trajetória profissional

Pioneiro no ramo da radiologia no interior do Paraná, o médico concede uma entrevista exclusiva para o D'Ponta News
2025-07-01 às 17:24

REVISTA – Aos 75 anos, o médico radiologista Sebastião Cezar Mendes Tramontin trabalha diariamente das 7h às 19h, esbanjando vitalidade. Com quase 50 anos de experiência, ele se formou em medicina em Curitiba e, pouco tempo depois, foi para o Rio de Janeiro fazer especialidade em radiologia. De volta a Ponta Grossa, em 1996, fundou a Clínica da Imagem, que se tornou a pioneira em diversos segmentos do diagnóstico por imagem no interior do Paraná. Com um dos maiores parques de equipamentos do estado e corpo clínico composto exclusivamente por médicos com títulos de especialistas conferidos pelo Colégio Brasileiro de Radiologia, a Clínica da Imagem oferece todos os métodos de diagnóstico por imagem. Nesta entrevista exclusiva, ele lembra os momentos mais marcantes dessa trajetória, analisa o mercado brasileiro de radiologia e afirma que está sempre aprendendo.

 

O que inspirou o senhor a seguir a carreira na medicina?

Meu pai era pecuarista, mas foi um dos fundadores do Hospital Bom Jesus, e eu, com 12 anos, fui trabalhar no hospital. Naquele tempo, nós aprendíamos enfermagem na prática, então eu ajudava a fazer curativo e a aplicar injeções. Eu só aprendi a ser médico, não aprendi a ser outra coisa.

 

O que motivou o senhor a se especializar em radiologia?

Eu trabalhava em uma fábrica de soro que existia no Hospital Bom Jesus e isso me levou para a área de radiologia, que não é uma atuação clínica direta.

 

Como surgiu a Clínica da Imagem? O senhor imagina que ela se tornaria o que é hoje?

Com certeza. Eu sonhava com uma clínica grande e, hoje, a Clínica da Imagem consegue fazer exames por todos os métodos de imagem, inclusive medicina nuclear. Eu agradeço à população de Ponta Grossa pela aceitação da clínica.

 

Quais foram os maiores desafios que o senhor enfrentou até a consolidação da clínica?

A maior dificuldade é a baixa remuneração que os planos de saúde nos oferecem. Eles reajustam a mensalidade para os clientes, mas o repasse para os médicos e para os prestadores de serviços em geral não acompanha. É muito difícil manter o padrão de qualidade, com equipamentos atualizados e tecnologias de última geração.

 

Na sua opinião, como a Clínica da Imagem contribuiu para o avanço do diagnóstico por imagem em Ponta Grossa?

O pioneirismo que nós tivemos contribuiu muito. Praticamente todos os equipamentos novos que surgiram, fomos nós que trouxemos. Desde a primeira densitometria, a primeira tomografia, a primeira ressonância até o primeiro ultrassom 3D. Até hoje, nós somos a única clínica na cidade que tem a ressonância magnética de 3 Tesla, que é um aparelho mais potente e mais preciso.

 

Quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais de radiologia atualmente?

Existe mercado de trabalho, mas a remuneração é muito baixa. Hoje, os planos de saúde estão verticalizando os serviços de imagem, ou seja, eles mesmo estão fazendo esses exames. Com isso, diminuiu a qualidade da relação médico-paciente, e o tratamento fica muito impessoal. Não que seja ruim, mas você perde aquele encanto da medicina.

 

Como o senhor avalia o futuro da radiologia?

O futuro será cada vez mais impessoal e mais automatizado. Com o auxílio da Inteligência Artificial, você vai olhar o exame no computador e dar o laudo sem nenhum envolvimento com o paciente.

 

Na sua visão, o que uma pessoa precisa ter para ser um bom médico?

A medicina é uma profissão diferente, tem que ter dedicação e encanto pelo paciente, gostar daquilo que faz. Você está lidando com o ser humano, com os seus sentimentos, as suas dores e as suas angústias.

 

Como o senhor gostaria de ser lembrado pelas futuras gerações de médicos?

Acredito que ser lembrado vai ser cada vez mais difícil, porque a nova geração não valoriza muito a história. Mas eu gostaria de ser lembrado como um profissional que se dedicou àquilo que se propôs. Só isso.

 

Que conselhos daria para os jovens que desejam seguir a carreira médica?

Dedicação e estudo. Todo dia você aprende alguma coisa nova com o paciente ou com as informações que você tem. E, se você não tiver dedicação, não terá sucesso na profissão.

 

Quais hobbies ou atividades o senhor gosta de praticar fora do ambiente profissional?

Fora da medicina, eu sou pecuarista e tenho atividades no noroeste do Paraná e no Mato Grosso do Sul que me dão muito prazer. A cada 30 ou 40 dias, eu vou visitar essas fazendas e, embora eu vá trabalhar também, volto bem mais relaxado.

 

O que o senhor aprendeu com a vida?

A vida é uma escola diária, e nós estamos sempre aprendendo. Tudo o que você é, o que você foi, o que você fez, é resultado do meio em que você vive. A vida é a maior escola que nós temos.

Texto publicado originalmente na edição 307 da Revista D’Ponta