por Michelle de Geus
Com o desejo de escutar a comunidade e trabalhar em conjunto com os padres, Dom Bruno Elizeu Versari assumiu o cargo de sexto bispo diocesano de Ponta Grossa. Nascido no dia 30 de maio de 1959 na cidade de Cândido Mota, em São Paulo, Dom Bruno se mudou ainda criança com a família para Ivatuba, na região metropolitana de Maringá. Passou a infância no município vizinho de Floresta e lá descobriu a vocação para a vida religiosa. Após a ordenação como padre, em 1988, atuou como pároco, vigário-geral, ecônomo arquidiocesano e colaborou na formação de seminaristas. Desde 2017, ao ser ordenado bispo, vinha contribuindo com a diocese de Campo Mourão até a sua transferência para Ponta Grossa. Ao tomar posse, em agosto último, Dom Bruno se tornou responsável por 47 paróquias das 17 cidades que compõem a Diocese de Ponta Grossa. Nos próximos anos, ele estará à frente de cerca de 100 padres religiosos e 55 padres diocesanos, e dará continuidade aos trabalhos de evangelização e comunhão. Nesta entrevista, Dom Bruno fala sobre os seus planos para a comunidade católica local, as funções de um líder religioso e os preparativos para o centenário da Diocese, que será comemorado em maio de 2026.
Como o senhor ouviu o chamado de Deus para a vida sacerdotal?
Eu venho de uma família de dez irmãos e fui criado na roça. Eu trabalhava o dia inteiro e estudava à noite, como todo jovem. Em 1980, quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil, aquilo me chamou a atenção e mexeu comigo. Eu comecei a pensar que poderia ser padre de uma paróquia pequena, porque eu já era o coordenador da capela lá do sítio.
Foi assim que, em agosto de 1980, eu fui fazer a experiência vocacional no Seminário Propedêutico de Maringá. No ano seguinte, comecei a estudar filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Curitiba, enquanto residia no seminário Comunidade Emaús.
Logo depois da minha ordenação, eu fui designado para uma comunidade na periferia de Maringá. Era uma região de dependentes químicos, e eu sofria muito, porque aquilo destrói a família. O padre não é alguém que se isola da comunidade, é alguém que se aproxima. A violência e as mortes me deixavam frustrado, e, muitas noites, eu chegava em casa pensando que não ia dar conta e questionando o que eu estava fazendo ali. A vida religiosa tem muitos desafios, mas também tem muita alegria de poder servir ao povo e estar no meio das pessoas.
Como o senhor recebeu a notícia da sua nomeação como bispo de Ponta Grossa?
No dia 17 de maio deste ano, à tarde, o núncio apostólico [representante diplomático permanente da Santa Sé no Brasil] me ligou perguntando se eu já havia celebrado a missa e se eu me lembrava qual era o Evangelho. Era João 21: 15-17, em que Jesus pergunta três vezes: “Pedro, tu me amas?” Então o núncio me contou que o Papa Francisco havia me transferido para a Diocese de Ponta Grossa, e aí acabou a voz e não dava mais para conversar. Em seguida, eu tinha outra missa para celebrar em uma comunidade distante, e, como cheguei bem antes do horário, aproveitei para rezar. Quando eu me ajoelhei, na frente do sacrário tinha uma imagem de São Pedro. Eu fiquei olhando para aquela imagem, tentando memorizar toda aquela palavra de Pedro e respondi: “Eis-me aqui. Se essa é a vontade de Deus, eis-me aqui.”
Naquele momento, que expectativas o senhor criou a respeito de Ponta Grossa?
Eu não gerei essa expectativa, porque não existe a possibilidade de não dar certo. Eu sei que vai dar certo. Estou contente com a minha nomeação e daqui para frente é uma nova história na minha vida. Então é assim que eu estou aqui, com alegria, junto com o Dom Sergio [Dom Sergio Arthur Braschi, bispo emérito de Ponta Grossa], com os padres e com todo o pessoal que já vem caminhando. Eu entro nessa história e vou participar vivendo o meu ministério nesta Diocese e com esta comunidade.
Quais são os seus planos para a Diocese de Ponta Grossa?
É uma alegria estar aqui. Eu venho com a disposição de servir ao povo desta Diocese, mas não venho reinventar nada. O Dom Sergio está passando o bastão para mim, eu vou continuar correndo com os padres e depois eu passo o bastão para outro bispo também. Essa é a beleza da Igreja. Não se interrompe e não se cria outra Igreja. É a mesma Igreja, conduzida pelo Santo Padre, que confia o pastoreio ao bispo. E o bispo vai caminhando com os padres.
Existe algo de sua experiência como bispo em Campo Morão que o senhor pretende trazer para cá?
Existe, sim. Na Igreja, nós temos a orientação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB] e tem uma proposta que é repassada para o país inteiro, que são os itinerários de preparação de noivos, itinerários de preparação de pais e padrinhos, itinerários de formação para adultos que querem viver a fé. É um caminho difícil e que envolve muitas pessoas, mas é uma proposta à qual eu gostaria de dedicar tempo com os padres para aperfeiçoar, avançar e entender. É um desafio viver esses itinerários, mas é uma coisa em que nós temos trabalhado bastante e que tem dado certo.
Ponta Grossa vive o momento histórico de ter dois bispos na nossa cidade. Como é, para o senhor, fazer parte disso?
É isso mesmo. Bispo é uma ordenação, assim como padre. Uma vez feitos bispos, nós somos para sempre bispos. Ao renunciar ao cargo, Dom Sergio deixa de ter as responsabilidades, mas não deixa de ser bispo. Eu sou privilegiado por ter o Dom Sergio por perto, especialmente pela lucidez dele de poder ajudar. E nós não podemos abrir mão da experiência, do conhecimento, da espiritualidade e do capital que ele construiu através do tempo com o seu serviço.
É uma responsabilidade assumir o comando da Diocese após o legado cumprido por Dom Sergio?
Eu não posso pensar em ser igual ao Dom Sérgio, porque ele construiu um capital que é da experiência dele, da vida dele, da espiritualidade dele. O Dom Sergio é muito querido, não só no Paraná, mas no Brasil inteiro, pelo carinho que ele tem com as missões. Esse capital é dele. Eu não posso querer ser igual a ele, porque eu não vou conseguir, mas eu vou fazer outra coisa que vai enriquecer a nossa Igreja e assim vamos construindo. Agora, como pastor desta comunidade, eu quero ser o melhor que eu conseguir.
A Diocese local é muito grande. Como está o seu planejamento para conhecer todas as paróquias e comunidades?Nós temos uma agenda anual de visita às comunidades, mas eu vou sacrificar um pouco essa programação e pretendo viajar para conhecer os padres. Eu pretendo fazer isso sem protocolo, sem avisar a comunidade e sem me preocupar muito com a agenda, apenas tomar um café e conversar com os padres. Afinal, são eles que estão designados para trabalhar nas comunidades.
Ponta Grossa possui muitas escolas católicas. Como o senhor enxerga o papel das escolas católicas no mundo contemporâneo?
As escolas católicas podem contribuir com a comunidade extrapolando o ambiente escolar e chegando ao ambiente familiar. Eu gostaria de resgatar aquilo que o Papa propôs em termos de educação para as comunidades, que é o desejo de chegar onde vivem os alunos e ali oferecer cursos e oportunidades de formação para o mercado de trabalho.
Nos últimos tempos, vemos que muitas pessoas estão perdendo o interesse pela religião e pela Igreja. Como o senhor pretende resgatar esse interesse e chegar àqueles que não conhecem o Evangelho?
Esse é um desafio que nós temos pela frente e precisamos aproveitar uma característica forte da Igreja, que é o devocional, e formar discípulos. Foi o que Jesus fez. As pessoas se encantavam ao ouvi-Lo, e Ele fazia com que elas levassem a sua Palavra para outras pessoas. Sabe aquele momento gostoso, bonito, em que a pessoa encontra Jesus? Nós precisamos usar isso para formar discípulos e despertar neles a vontade de serem evangelizadores.
Nós estamos nos aproximando do centenário da Diocese de Ponta Grossa. O que o senhor pode nos adiantar a respeito dos preparativos?
Nós estamos vivendo a fase paroquial. Lá nas paróquias, estamos resgatando a história das comunidades, procurando descobrir como ela começou, quais eram as primeiras famílias e como foi a escolha do padroeiro. Não somente pelo interesse ou pela curiosidade, mas também para celebrar, porque na igreja tudo tem de ser celebrado. No próximo ano vamos iniciar uma nova fase, que vai envolver a Diocese inteira.
O que as comunidades católicas podem esperar deste novo pastoreio?
Eu não gostaria que vocês pensassem que eu vou chegar e anular tudo o que foi feito. Não é assim que funciona. Muito pelo contrário. É como em uma procissão, em que o santo está sendo levado com o andor. Alguém vai sair, eu vou chegar e substituir. Eu entro, seguro no andor do santo e vamos caminhando. Eu serei apenas mais um para ajudar a carregar o santo.