Quinta-feira, 31 de Julho de 2025

Médico alerta para riscos cardíacos em jovens que buscam performance acelerada em academias

2025-07-30 às 20:18
Foto: Edu Vaz/D’Ponta News

O programa Manhã Total da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM) recebeu nesta quarta-feira (30) o médico e cirurgião cardiovascular Marcelo Freitas. Durante a entrevista, o especialista falou sobre os cuidados com o coração durante , os impactos da Covid-19 nas doenças cardíacas e os riscos associados ao uso de substâncias em academias.

Ao ser questionado sobre o aumento de infartos após a pandemia, Freitas explicou que a Covid-19 possuía uma fisiopatologia agressiva aos vasos sanguíneos. Segundo ele, “por isso tinha muito caso de embolia pulmonar e também começou a ocorrer um número maior de infartos. Isso porque o estado de coagulabilidade do paciente aumentava por essa lesão vascular”. O médico reconheceu que algumas sequelas podem ter permanecido nesses pacientes, mas reforçou que “não se deve fazer relação alguma com a vacina”.

Ele também comentou sobre o avanço nos equipamentos de diagnóstico. De acordo com Freitas, “hoje existem dispositivos portáteis com variações diferentes e que já dão uma velocidade mais rápida, principalmente em casos de arritmia ou outros problemas. Isso torna uma triagem mais rápida e esse dispositivo está disponível no mercado”.

Entre os temas mais debatidos na entrevista esteve o uso de substâncias por jovens que frequentam academias. Muitos têm apresentado problemas cardíacos de forma precoce, o que tem chamado a atenção dos profissionais da saúde. O médico comparou a situação com uma epidemia e afirmou que “toda semana a gente tem notícia de atletas de performance relacionado ao fisiculturismo e esportes de força que estão morrendo de forma precoce, antes de 40 anos, por doenças cardíacas”.

O principal vilão, segundo ele, é o uso abusivo de esteroides anabolizantes. Freitas ponderou que “não é todo mundo que usa esteroides que vai ter problema cardíaco, depende de ter uma predisposição para que isso ocorra. Mas como vamos saber quem tem essa predisposição? Você está afim de pagar esse preço?”. O especialista destacou que “hoje a ciência é clara em dizer que o uso excessivo de esteroides prejudica o coração na sua parte estrutural e molecular. O músculo cardíaco fica mais espesso e menos elástico, isso faz com que o coração crie cicatrizes em suas paredes o que propicia ao desenvolvimento de arritmias potencialmente fatais”.

Outro fator preocupante é o uso combinado de pré-treinos com esteroides. Essas substâncias possuem altas concentrações de cafeína e compostos que estimulam o coração. Freitas alertou que “esse coração que já está fragilizado e possui cicatrizes quando recebe mais esse estímulo, além também da ânsia das pessoas em querer evoluir rapidamente na musculação, pode ser prejudicial”. Ele ainda ressaltou que muitos usuários dizem fazer acompanhamento médico, mas isso não garante segurança. “O médico não tem como prever o que irá acontecer com o uso dessas substâncias”, completou.

Freitas defendeu que os usuários não sejam julgados, mas assistidos. “Eu tenho muitos pacientes dos esportes de força que por iniciativa própria fazem o uso dos esteroides, fazemos a conscientização do que isso pode ocasionar de consequências, mas essa pessoa opta por continuar. E obviamente eu não posso abandonar essa pessoa, então acompanho, oriento e torcemos que as ferramentas de investigação que a gente tem hoje em dia me permitam identificar o problema antes que se torne grave e irreversível”, comentou.

Questionado sobre quando as pessoas devem começar a se preocupar com a saúde cardíaca, o médico explicou que o histórico familiar é determinante. “Antes dos 50 anos pode ser que a gente herde uma predisposição mais precoce destas doenças”, disse. A recomendação geral é iniciar os exames após os 30 anos, especialmente se houver casos na família. Por outro lado, se não houver histórico familiar ou pessoal, os exames podem começar após os 40. No entanto, ele enfatiza que “se a pessoa não chegou aos 30 anos ainda mas é obesa, diabética ou pré-diabética, fuma, é sedentária ou hipertensa, vemos que não há idade e esse paciente precisa fazer um acompanhamento cardiológico”.

Ao falar sobre a hipertensão, o médico reforçou que ela tem relação com o coração, mas não é causada diretamente por ele. Ele explicou que o coração é como uma bomba dentro de um sistema hidráulico. “Toda vez que tenha um mecanismo que ofereça uma resistência ao coração de bombear sangue e se ela sobe demais, o coração tem que trabalhar mais. Isso porque essa resistência se traduz na hipertensão”, explicou. Com isso, o coração passa a sofrer, sendo afetado por essa sobrecarga constante.

Freitas também comentou sobre o uso da tadalafila, medicamento indicado para disfunção erétil e hiperplasia prostática benigna, mas que vem sendo utilizado de forma inadequada por frequentadores de academia. Segundo ele, “com isso, o povo acredita que faz chegar mais sangue no músculo, vai abastecer com mais sangue e consequentemente mais oxigênio e aumentar o rendimento desse músculo. Mas isso foi uma interpretação que foi dada através de alguém sem experiência e que não comprova essa situação”.

O médico reforçou que todos os recursos ergogênicos devem ser vistos com cautela. “Tudo que a gente falar de ergogênico, que são esses recursos como esteroides, pré-treinos e tadalafila, se melhoraram, melhoram apenas de 1 a 2% do rendimento. É uma ilusão muito grande e o que manda na performance e em você conquistar os seus objetivos é o grau de comprometimento com o treino, a qualidade desse treino, a sua alimentação, qualidade da alimentação e o quanto você está comprometido”, ressaltou.

Para concluir, Freitas destacou que, para a maioria das pessoas, essas substâncias não trazem benefícios reais. “É só dinheiro jogado fora, além de estar colocando um medicamento de forma inapropriada dentro do seu organismo”, disse o médico.

Acompanhe o programa na íntegra: