Terça-feira, 24 de Junho de 2025

Ponto de Vista: “Se você esperar sintomas para câncer de próstata, certamente, é um câncer em estágio avançado”, alerta urologista Eduardo Bacila

2023-11-04 às 17:42

Em bate-papo exclusivo durante o programa Ponto de Vista, apresentado por João Barbierona Rede T de rádios do Paraná, na manhã deste sábado (4), o médico urologista Eduardo Bacila falou a respeito da importância do Novembro Azul, mês de conscientização do homem sobre a prevenção ao câncer de próstata. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que, entre 2023 e 2025, surjam 71 mil novos casos de câncer de próstata, que só fica atrás do câncer de mama (73 mil novos casos) e dos casos de câncer de pele não melanoma (221 mil). Além desses, estão entre os de maior incidência o câncer de cólon e reto (45 mil), pulmão (32 mil) e estômago (21 mil).

O câncer de próstata atinge homens mais velhos. “O câncer de próstata pode acometer homens a partir dos 40 anos, mas a incidência maior é entre os 50 e os 59 anos“, ressalta.

Um fator que pode dificultar o diagnóstico precoce sem a realização de exames preventivos é justamente a ausência de sintomas nos casos de câncer de próstata. “Se você esperar sintoma para câncer de próstata é, certamente, em estágio avançado“, alerta o urologista. Outra questão é que o câncer de próstata, o segundo mais comum entre os homens – atrás apenas do câncer de pele, mesmo com um índice alto de cura (92%) ainda mata um homem brasileiro, estatisticamente, a cada 40 minutos. “A mudança entre a ‘sentença de morte’ para um possível cura de uma doença maligna é, realmente, o tempo do diagnóstico, que antes não se fazia, era só diagnóstico tardio e, hoje, com as políticas públicas e os incentivos da sociedade, o diagnóstico é cada vez mais cedo e as chances de cura também são muito maiores”, enfatiza Bacila.

O tabu em torno do exame de toque, infelizmente, ainda impede que muitos homens tenham um diagnóstico precoce do câncer de próstata, algo que é essencial no sucesso do tratamento. “Geralmente, o homem deixa para discutir câncer de próstata, que é o propósito principal da campanha, em novembro. Mas ela tem seu valor, porque faz com que se discuta, nem que seja um mês no ano. Realmente, o homem acaba procurando mais o atendimento e o auxílio do urologista para fazer sua avaliação anual de câncer de próstata”, afirma o especialista.

Segundo o médico, o ideal seria que a conscientização da campanha do Novembro Azul se estendesse por todo o ano, “que o homem tenha o cuidado também nos outros meses do ano e que isso centralizado só em novembro. A campanha é fantástica e a adesão é muito grande, em nível mundial. É uma campanha que realmente veio para ficar. Desde alguns anos atrás, é uma campanha com adesão significativa da população”, afirma.

A expectativa média do homem no Brasil atualmente é de sete anos a menos que a de uma mulher, não exclusivamente em função do câncer de próstata, mas justamente porque o homem ainda tem muito a aprender com as mulheres no que diz respeito à prevenção em saúde. “Aproximadamente metade da população masculina acima de 40 anos nunca fez uma consulta urológica. Com a mulher, não acontece isso. A mulher, desde o início da vida sexual, ou aos 18 anos, começa suas rotinas no ginecologista e faz [exames preventivos] regularmente, anualmente”, compara.

Se, por um lado, a cultura de prevenção entre as mulheres começa tão logo a menina tem sua primeira menstruação ou não muito tempo depois dela, não precisamente com o início de sua vida sexual, por outro, a campanha do Novembro Azul põe ênfase à prevenção do câncer de próstata, que não afeta homens com menos de 40 anos. “Esse é um filtro para se iniciar esse acompanhamento relativo ao câncer de próstata. É diferente de um câncer do colo do útero, do HPV, que pode atingir mulheres com uma idade muito mais jovens. Justifica-se esse início mais precoce do acompanhamento da mulher. Mas, nas faixas mais elevadas – aí o porquê dessa diferença de expectativa de vida – é porque a mulher continua se cuidando, desde sempre, e o homem deixa para se cuidar não aos 40, mas quando tem um sintoma”, diferencia.

O câncer do trato urológico que costuma afetar homens mais jovens – de 15 a 50 anos, mas predominantemente entre 20 e 34 anos – é o de testículo, que equivale a 5% dos tumores entre homens. De mais fácil diagnóstico, pelo fato de o testículo ser um órgão que permite o autoexame. O índice de cura chega a 95% e, geralmente, o testículo com o tumor é removido numa cirurgia simples, de rápida recuperação.

Ausência de sintomas

A falta de sintomas para o câncer de próstata, conforme o urologista, ocorre devido ao fato de que ele atinge uma região periférica da glândula da próstata, que não está em contato com a via urinária, em geral. “Diferente de quando temos aquele aumento benigno da próstata, que cresce para dentro do canal e gera uma dificuldade para urinar, também no homem da faixa etária a partir dos 50 anos. Só com essas consultas preventivas, já que é uma doença que não dá sintomas, vamos conseguir diagnosticar precocemente a doença. Quando fazemos o diagnóstico precoce, as chances de cura, ainda que estejamos falando de câncer, são altíssimas, acima de 92%“, enfatiza Bacila.

Recomendações

O médico faz as mesmas recomendações que a Sociedade Brasileira de Urologia para consultas preventivas visando o diagnóstico precoce de câncer de próstata. “O ideal é que os homens iniciem essas consultas preventivas, pelo menos, uma vez ao ano. Existem protocolos que dizem que é uma a cada dois anos. Mas [a recomendação é] que se iniciem consultas anuais, que devem envolver PSA e toque retal a partir dos 45 anos”, explica.

O antígeno prostático específico ou PSA é uma enzima com algumas características de marcador tumoral ideal, sendo utilizado para diagnóstico, monitorização e controle da evolução do carcinoma da próstata. “O PSA é uma glicoproteína produzida única e exclusivamente pela próstata, que é uma glândula que fica embaixo da bexiga e não tem muita função, mas produz essa substância e ela aumenta no sangue em algumas situações onde há uma ‘quebra da arquitetura’ da célula da próstata”, detalha o urologista. O PSA pode aumentar em casos de aumento benigno da próstata, em processos inflamatórios (prostatite) e, também, no câncer de próstata. Nesse caso, o exame de sangue tenta detectar alguma situação que possa sugerir um diagnóstico, principalmente, de câncer de próstata, que é a doença mais grave, de acordo com o especialista.

A grande maioria dos diagnósticos de câncer de próstata se faz através da alteração de PSA e essa foi a última recomendação do Congresso Americano de Urologia deste ano, o que é uma boa notícia aos homens. Eles diminuíram um pouquinho o valor do toque nesse arsenal diagnóstico. O exame PSA é o principal alerta, quando alterado, que nos leva a investigar o câncer de próstata. Quando associamos o PSA e o toque retal isso aumenta um pouco a acurácia [precisão; exatidão] do diagnóstico“, salienta.

A idade para iniciar esses exames deve ser antecipada em alguns casos: histórico familiar de câncer de próstata (pai, avô ou irmão) e homens pretos – apesar de não possuírem maior incidência de câncer, quando o possuem, costuma ser um câncer mais agressivo. Nesses casos, os exames anuais devem ser feitos a partir dos 40 anos.

Outro fator que, na análise de Bacila, impede o diagnóstico precoce, é a dificuldade de acesso ao especialista em urologia no serviço público. “O atendimento básico – na UBS, na UPA – é relativamente rápido. Mas quando ele precisa de especialista é que vem o problema, porque, muitas vezes, são pacientes que têm suspeita de uma doença mais grave, um câncer, por exemplo, que, às vezes, esperam anos na fila só para o acesso ao especialista”, avalia.

Dados estatísticos recentes

  • Um em cada sete homens vai padecer de câncer de próstata;
  • A cada oito minutos, um novo caso é diagnosticado no Brasil;
  • A cada 40 minutos, um homem morre da doença no Brasil;
  • Um dos cânceres mais curáveis, quando diagnosticado precocemente;
  • Câncer de próstata é o tumor não-cutâneo mais comum no homem;
  • O segundo câncer que mais mata, considerando-se a incidência menor apenas que o de pele.

Ponto de Vista

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.

Confira a entrevista na íntegra: