A valorização do cuidado e a importância da prevenção em saúde foram os principais destaques da participação da enfermeira Carla Blanski, docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no programa ‘Manhã Total’ da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM) nesta segunda-feira (12), data em que se celebra o Dia Internacional da Enfermagem e do Enfermeiro.

Segundo Carla, a enfermagem tem raízes históricas marcadas pelo estigma e pela falta de reconhecimento. Inicialmente ligada a irmãs de caridade e a uma prática de penitência durante a Idade Média, cuidar dos doentes era visto com desprezo.

“A gente vem de um histórico de pouco reconhecimento, onde era vergonhoso cuidar de pacientes”, explicou. Ela lembrou que hospitais eram locais de exclusão social, abrigando não apenas doentes, mas também mendigos, pessoas com transtornos mentais e até prostitutas. Essa associação gerou um estigma que ainda hoje afeta a profissão.
A enfermeira destacou que o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) atua para proteger a imagem da profissão, especialmente contra a sexualização indevida da figura da enfermeira. Para ela, é inaceitável que essa imagem seja usada como fantasia sexual, prática que não ocorre com outras profissões e que é proibida por regulamentações.

Mulheres de destaque
Carla Blanski ressaltou que uma mudança fundamental aconteceu com Florence Nightingale, considerada a mãe da enfermagem. Vinda de uma família rica, ela contrariou expectativas ao dedicar-se ao cuidado de pacientes, estruturando cientificamente a prática da enfermagem. “Ela se tornou uma mulher à frente do seu tempo”, afirmou Carla. \
O Dia Internacional da Enfermagem é celebrado no aniversário de Florence, em 12 de maio. No Brasil, a Semana da Enfermagem se estende até o dia 20, em homenagem à enfermeira Ana Néri, a primeira voluntária brasileira em combate, que atuou na Guerra do Paraguai.
A profissão é majoritariamente feminina, o que, segundo Carla, está ligado ao vínculo histórico entre cuidado e maternidade. Desde as civilizações antigas, cuidar tem sido uma tarefa atribuída às mulheres, embora hoje a enfermagem acolha profissionais de todos os gêneros.

Novas definições da saúde
Na entrevista, a docente também abordou a definição moderna de saúde. Para ela, saúde vai muito além da ausência de doenças. “Temos um conceito hoje de que a saúde é o acesso ao esporte, lazer, renda e saneamento. Isso, no fim, reflete na qualidade de vida”, afirmou. Ela alertou que a busca por atendimento geralmente só ocorre quando os sintomas já estão instalados, mas o ideal seria promover saúde e prevenir doenças antes que elas apareçam.

Relevância dos enfermeiros na saúde
Carla também explicou o papel das enfermeiras e enfermeiros nas consultas do sistema público. “A mulher suspeita de uma gestação, faz o teste, realiza o cadastro, tudo isso com a enfermeira. É uma consulta de enfermagem”, explicou, destacando que a categoria está plenamente integrada ao atendimento materno-infantil.

Ela lembrou que o enfermeiro ocupa uma posição estratégica nas equipes de saúde, sendo o elo de comunicação entre todos os profissionais e responsável pelo gerenciamento das decisões e da rotina de atendimento.

Envelhecimento saudável
Outro ponto abordado foi o envelhecimento saudável. Para Carla, ao se aproximar dos 60 anos, mesmo quem está bem de saúde deve procurar acompanhamento médico e buscar orientações sobre hábitos preventivos. Ela reforçou que a enfermagem é formada por uma equipe diversa, composta por enfermeiros, técnicos, auxiliares e obstetrizes, e que todos têm papel essencial no cuidado ao paciente.

Sobrecarga
Por fim, a docente comentou sobre a sobrecarga das equipes de enfermagem. “Temos muitas questões com as equipes que envolvem desgaste e cansaço”, afirmou. Ela citou a escala hospitalar de 12 por 36 horas, em que muitos profissionais trabalham em mais de uma instituição para complementar a renda e, por isso, folgam apenas duas vezes por mês.

Assista a entrevista na íntegra: