Sexta-feira, 19 de Abril de 2024

Vinhos & Viagens: ‘Gerações da Talha – História  e tradição na produção de vinhos ancestrais’, por Patrícia Ecave

2022-06-30 às 17:22

Um dos primeiros recipientes confeccionados, há milhares de anos, para armazenar líquidos, azeites e vinhos, eram as chamadas ânforas feitas de barro. Em Portugal, chamam-se talhas e vêm ganhando atenção na contemporaneidade. O Alentejo é o grande defensor da preservação da história e da produção dos vinhos naturais de talha e a Vila de Frades no Concelho de Vidigueira é considerada a capital do Vinho de Talha. Lá, há vários produtores que venho conhecendo e, com isso, também tive a honra de provar inúmeros rótulos de Vinho de Talha, por isso hoje começo com informações sobre a adega Gerações da Talha.

Quem está à frente da Gerações da Talha é a jovem Teresa Caeiro, Engenheira de Minas que participou de estágios na área de vinhos e estudou Viticultura e Enologia na Universidade de Évora, onde desenvolveu desde seu início o projeto Gerações da Talha. Ela recebeu forte influência e conhecimento sobre produção do vinho de talha do seu avô, Professor Arlindo (82 anos), figura importante, atuante em vários setores, sejam políticos ou vínicos e sempre lembrado na região quando se fala em vinho de talha, devido a sua grande contribuição na preservação e ensinamentos. A empresa tem entre seus principais objetivos preservar e promover o processo de vinificação em talhas de barro, fazendo-o chegar em todas as partes do mundo. Atualmente a empresa possui 50 talhas, todas do bisavô de Teresa, algumas armazenam em média 900 litros de vinho e algumas talhas datam de 1874, provenientes de São Pedro do Corval. Cada talha pode produzir em média 1.000 garrafas de vinho.

A Gerações da Talha possui 50 hectares de vinhas da família e ainda são cuidadas pelo Professor Arlindo, mas a história familiar da produção de vinho já possui mais de 250 anos. O cultivo de algumas vinhas é no sistema Field Blend (várias castas no mesmo espaço).

Produzem-se três estilos de vinho: o branco, o tinto e o palhete (mistura de uvas brancas e tintas), popularmente conhecido como petroleiro. Participei de uma agradável degustação com os vinhos e cada um tem um significado especial.

NaTalha é uma assinatura da Teresa para os vinhos mais jovens, mais frescos, as uvas são colhidas mais cedo proporcionando maior acidez e menor teor alcoólico, e, segundo Teresa, é um vinho fácil de beber. Foi uma inspiração que teve durante o seu período de gravidez, uma alusão às talhas que todos os anos se transformam em mãe (abrigando os vinhos ou partes sólidas para o processo de filtragem). “Assim como as talhas todos os anos viram mãe, isto que está representado no rótulo era o que eu tinha dentro de mim, representa o sonho, a vida, o amor e a felicidade de estar gerando uma nova vida, eu quis fazer um paralelismo”, destacou Teresa. A sugestão de harmonização é com pizzas, comidas com acidez do tomate e comidas picantes.

O Farrapo é um vinho mais estruturado, as uvas são colhidas mais tarde e, portanto, com maior teor alcoólico e menos acidez. O nome Farrapo é uma homenagem a todos os habitantes de Vila de Frades, que são conhecidos por “farrapeiros”. Os Frades dessa época faziam votos de pobreza e suas vestimentas eram muito simples, semelhantes a farrapos, portanto é uma homenagem àqueles que nunca deixaram cair a tradição do vinho de talha.

O vinho Professor Arlindo é uma homenagem ao avô de Teresa que lhe transmitiu todo o conhecimento, é considerado o melhor vinho do ano e estagia mais de 9 meses em talha (diferente de um estágio em barrica de carvalho). As talhas foram adquiridas pelo seu avô e esse é um dos fatores para a escolha do nome, mas o vinho é ancestral, pois o trisavô de Teresa também era do negócio de vinhos.

Os vinhos foram servidos com petiscos típicos da região, os biscoitos S, que são muito tradicionais, — esses provados no dia foram feitos pela Vó Joana da Vidigueira —, e normalmente são feitos com o restante da massa do pão. Ainda tínhamos queijo de ovelha e paio de porco preto. Outra sugestão de harmonização regional para o vinho de talha em Vila de Frades é o borrego assado, bacalhau e comidas condimentadas.

 

No link abaixo confira o vídeo da entrevista com Teresa Caeiro:

https://www.youtube.com/watch?v=ukPcvA8OURM

 

Além das degustações, a Gerações da Talha oferece aos seus visitantes outras opções com deslocamento em jipe da empresa, e os programas sempre acompanhados pela belíssima gastronomia alentejana: Tour Vinho de Talha, Tour Alqueva Sensation e Piquenique na Vinha. Para maiores informações acesse o link do site abaixo. O objetivo dos tours da Gerações de Talha é proporcionar paz e harmonia do Alentejo em boa companhia.

 

Nas redes:

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Instagram https://www.instagram.com/geracoesdatalha/

 

Serviço:

Gerações de Talha

Rua de Lisboa, 29A,

7960-432 Vila de Frades

Tel: +351 967 566 930

Site: https://geracoesdatalha.com

Vinhos & Viagens

por Patrícia Ecave

Patrícia Ecave é jornalista, digital Influencer e sommelière paranaense. Trabalhou com radiojornalismo, assessoria de imprensa, eventos, produção de vídeos, funcionalismo público, gestão administrativa e gestão de pessoas. Realizou viagens enogastronômicas e cursos no país e no exterior, como Vale dos Vinhedos, Cone sul e Europa. Organiza workshops, cursos, jantares harmonizados, treinamento de equipes e consultoria geral. Escreve sobre viagens, vinhos e gastronomia.