Terça-feira, 01 de Julho de 2025

Vinhos & Viagens: ‘Quinta da Lagoalva possui o único vinho orgânico da uva Alfrocheiro produzida no Tejo’, por Patrícia Ecave

2025-06-30 às 17:11

A Quinta da Lagoalva é detentora do único vinho monovarietal de Alfrocheiro no universo dos Vinhos do Tejo em Portugal. Casta natural do Dão, está plantada nesta propriedade da família Holstein Campilho, uma das maiores e mais antigas da região, desde 1974. De uma vinha cinquentenária e da colheita de 2023, o Quinta da Lagoalva Grande Reserva Alfrocheiro tinto agora é orgânico e foram produzidas apenas 1400 garrafas. É um tinto que se destaca pela elegância, complexidade e plasticidade à mesa, produzido pela dupla de enologia Pedro Pinhão (recentemente eleito Enólogo do Ano, nos Prémios Vinhos do Tejo 2025) e Luís Paulino.

Com menos extração e álcool moderado (12,5%), o Quinta da Lagoalva Grande Reserva Alfrocheiro 2023 é um tinto muito elegante e complexo, destacando-se pelo seu amplo potencial de harmonização à mesa. De cor vermelho aberto, o aroma acompanha a boca, com presença de fruta vermelha fresca que lembra cereja e ameixa, especiarias, bosque e notas de folha de tabaco. Na boca, com final longo, é fresco, tem um carácter vegetal conjugado com alguma cremosidade e taninos elegantes. Para beber 16ºC, em ambientes frescos, mas pede temperatura de serviço menor em dias quentes de verão.

Segundo Pedro Pinhão, administrador, diretor de enologia e recentemente eleito como Enólogo do Ano nos Prémios Vinhos do Tejo 2025, “as uvas que dão origem a este Alfrocheiro estão plantadas numa vinha com 2,2 hectares com características muito próprias: isolada, com 50 anos de idade e, por isso, muito bem implantada e adaptada. Em solo franco-arenoso, é uma vinha pouco vigorosa e, por isso, bastante arejada, o que também ajuda a controlar as doenças próprias das vinhas (míldio e oídio) e difíceis de controlar em modo de produção orgânico (MPB). Neste caso específico, em anos mais complicados em termos de míldio, a produção é afetada, mas acabamos por ter uma monda natural, que nos ajuda a controlar a produção, não afetando a qualidade. Da colheita de 2023, esta vinha está em MPB desde 2020. Ao final destes três anos em regime orgânico, o balanço é bastante positivo.”, destacou.

Em setembro, as uvas do Quinta da Lagoalva Grande Reserva Alfrocheiro Biológico tinto são vindimadas à mão, sendo desde logo feita uma pré-seleção manual. O corte é feito ao amanhecer, garantindo-se a chegada à adega ao início da manhã, a fim de se manter a sua frescura e características organoléticas das uvas. Já na adega, após três dias de maceração pré-fermentativa em lagares de inox, a fermentação alcoólica acontece a 24ºC. As massas são então prensadas e a fermentação malolática ocorre, posteriormente, já em barricas – de carvalho francês, com contribuição de 25% novas e as restantes de segundo uso –, onde estagia durante 14 meses.

Oficialmente sustentável, ao envergar selo Sustainable Winegrowing Portugal, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola, desde setembro do ano passado, a verdade é que este modus operandi faz parte do ADN e do plano de ação do Grupo Lagoalva. No que toca à viticultura, pratica-se uma agricultura de conservação. De um total de 46 hectares de vinha, desde 2020 há este “bloco” de 2,2 hectares em modo de produção orgânica (MPB), estando a totalidade das restantes vinhas em modo de produção integrada (PRODI). Observa-se, em algumas situações, a utilização de produtos naturais nos dois modos de produção, esta e outras práticas da Quinta da Lagoalva enquadram-se na lógica da agricultura regenerativa. Com um total de 660 hectares, é uma propriedade com várias culturas, área florestal e produção animal.

Informação técnica

Quinta da Lagoalva Grande Reserva Alfrocheiro Biológico tinto 2023

N.º de garrafas: 1400 • Alc.: 12,54% • Acidez Total: 6,12g/L • Açúcar Residual: 0,7g/L • pH: 3,43

Sobre a Quinta da Lagoalva:

A Quinta da Lagoalva de Cima estende-se pela margem sul do rio Tejo, a cerca de 2Kms da vila de Alpiarça e a 11Kms de Santarém, a capital do distrito. A sua história remonta ao séc. XII, quando, 50 anos após o Tratado de Zamora (1143), o rei de Portugal D. Sancho I assinou a comenda de doação de vários territórios nesta região à Ordem de Santiago de Espada, após os seus heroicos feitos na conquista de Santarém. Entre as várias propriedades estava a Quinta da Lagoalva, que pertenceu a esta ordem durante seis séculos, e que data de 1193 o seu primeiro registo.

Em 1834, a Lagoalva foi comprada por Henrique Teixeira de Sampayo, 1.º Conde da Póvoa. Entre 1841 e 1842 todos os bens passaram para D. Maria Luísa Noronha de Sampayo, que, em 1846, casou com D. Domingos António Maria Pedro de Sousa e Holstein, 2.º Duque de Palmela, revertendo, a partir dessa época, os bens para a Casa Palmela e, passando, por sucessão, para os seus descendentes, até à atualidade. Com 660 hectares contíguos, a Quinta da Lagoalva é a maior e mais emblemática – até pela sua dimensão histórica e cultural – de um coletivo de várias propriedades pertencentes do Grupo Lagoalva.

Este grupo é detido pela família Holstein Campilho, estando à sua frente os (seis) irmãos Manuel, como Presidente do Conselho de Administração; Maria do Carmo; Pedro; Maria José (representada pela sua filha Inês Campilho Chaves); João e Miguel, como vogais. O Grupo Lagoalva é amplamente conhecido pelos seus Vinhos do Tejo e cada vez mais pelo Azeite Virgem Extra, mas dedica-se a outras culturas como frutos secos; cereais (trigo e aveia); vegetais, leguminosas e gramíneas (milho, ervilha e brócolis, alfafa e azevém), mel, floresta e cortiça. Além disso a propriedade conta com um haras e atividades de enoturismo, exploram uma área total de cerca de 5.500 hectares, de entre os quais se destacam 4.000ha de floresta, 1.000ha de agricultura, cerca de 46ha de vinha e 32,5ha de olival.

A longa tradição da Quinta da Lagoalva como produtora de vinho é atestada em 1888, na Exibição Portuguesa de Indústria, onde esteve presente com 600 garrafas de vinho. Data de 1989 o primeiro registo como produtor engarrafador, com a marca “Cima”, certificada pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Seguiu-se a primeira certificação atribuída pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo, em 1992, então como “Quinta da Lagoalva”.

As vinhas mais velhas são de Fernão Pires e têm cerca de 70 anos. Destaque para as vinhas de Syrah, plantadas em 1984 e das primeiras em Portugal. As castas mais representativas são, nas brancas, Alvarinho (1,0ha), Arinto (1,9ha), Chardonnay (3,0ha), Fernão Pires (3,6ha), Sauvignon Blanc (6,1ha), Verdelho (2,0ha) e Viosinho (2,8ha) e, nas tintas, Alfrocheiro (3,9ha), Cabernet Sauvignon (1,0ha), Castelão (3,0ha), Syrah (7,0ha), Tannat (1,3ha), Touriga Nacional (2,9ha) e Touriga Franca (4,0ha). O portfólio de vinhos tem uma espinha dorsal, composta por três marcas: Lagoalva (branco, rosé e tinto; Sauvignon Blanc; Reserva branco e tinto; Barrel Selection branco e tinto; e espumante Pet Nat), Quinta da Lagoalva (Grande Reserva Fernão Pires branco, Alfrocheiro tinto e Syrah tinto; Espumante; Colheita Tardia; e vinho Abafado) e Dona Isabel Juliana (Grande Reserva branco e tinto). Aos vinhos soma-se o azeite Virgem Extra, o mel, os frutos secos, os cereais, a floresta e a cortiça.

Vinhos & Viagens

por Patrícia Ecave

Patrícia Ecave é jornalista, digital Influencer e sommelière paranaense. Trabalhou com radiojornalismo, assessoria de imprensa, eventos, produção de vídeos, funcionalismo público, gestão administrativa e gestão de pessoas. Realizou viagens enogastronômicas e cursos no país e no exterior, como Vale dos Vinhedos, Cone sul e Europa. Organiza workshops, cursos, jantares harmonizados, treinamento de equipes e consultoria geral. Escreve sobre viagens, vinhos e gastronomia.