O candidato a deputado estadual Professor Carlos Ricardo Grokorriski, do PSOL, explicou como funciona uma candidatura coletiva, como a da Bancada Pela Educação, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta segunda (19).
O ponta-grossense, de 41 anos, leciona Filosofia no Colégio Regente Feijó. Candidato pela Federação PSOL REDE, já concorreu a vereador em 2020, também pelo PSOL, e ficou como suplente do partido. Dessa vez, forma a Bancada pela Educação, numa candidatura coletiva ao lado dos professores Hadassa Ojea, Eliane Pawlak, Lucinei Myszynski Junior e Marcio Soares de Agustinho.
Graduado e com especialização em Filosofia e mestre em Educação, o professor já teve passagem por algumas instituições de ensino e hoje ministra a disciplina para alunos do Colégio Estadual Regente Feijó. Foi coordenador do curso de Filosofia da Faculdade Sant’Ana; trabalhou no Núcleo Regional de Educação (NRE Ponta Grossa); no Colégio Estadual Professora Elzira Corrêa de Sá, no Santa Paula, onde atuou por 17 anos.
O candidato destaca que a filosofia nasce junto com a democracia, no contexto em que os gregos passavam a superar o modelo patriarcal, por volta do século VI a.C. “Democracia e Filosofia são irmãs gêmeas, com nomes diferentes, eu diria e, desde então, os debates democráticos são oportunidades de falarmos sobre tudo, sobre nossa relação com a natureza, com os pets, entre pessoas e entre as instituições”, afirma.
Professor Ricardo argumenta que “estar candidato” é uma oportunidade que deve ser bem aproveitado para a discussão das pautas públicas. “Como professor, digo que a campanha é um momento pedagógico, que pode te ensinar algo, pode passar uma mensagem e contar algo”, define.
Ele aponta que sua candidatura tem sido pautada no diálogo com a comunidade “a tal ponto que ela ultrapassa o simples pedir voto, embora estejamos aqui para pedir voto e poder adentrar ao processo democrático institucional”. O candidato observa que a campanha é feita com dinheiro público e que esse valor não pode ser desperdiçado.
Financiamento de campanha
O postulante se diz favorável ao Fundo Eleitoral porque, sem ele, professores não conseguiriam fazer uma campanha. Segundo a prestação de contas feita ao portal de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, até agora a campanha de Professor Ricardo recebeu R$ 6.764,53 da Direção Estadual do PSOL, dos quais foram aplicados R$ 2 mil em publicidade impressa.
Com tendência democrata republicana, o candidato afirma ser favorável ao financiamento público de campanhas, mas acredita que os critérios de distribuição devem ser alterados, porque os atuais favorecem aos “coronéis”. “Por isso mesmo que estamos aqui. Isso já acontecia na Grécia e as coisas estavam feitas com um poder de lei muito mais forte que se invocava. Alguns candidatos ainda invocam um ‘poder divino’, para dizer que a lei que eles fizeram é a que está feita, estabelecida e absoluta. Nenhuma lei é absoluta e ponto final. A lei está aí para ser discutida, as Casas Legislativas estão aí para ser disputadas por nós e queremos alteração dessas leis”, ressalta.
Professor Ricardo frisa que sua candidatura não é ao Congresso, local onde, de fato, se propõem reformas políticas, mas à Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. “O fato de a lei estar desse jeito – e ela já esteve pior, quando não existia fundo de financiamento – não nos dá a ideia de que isso que está constituído deva simplesmente ser desfeito, mas que devemos discutir uma reforma política”, acrescenta.
A campanha do candidato também vai usar recursos de uma campanha de financiamento coletivo, cujo link está disponível no @bancada_pelaeducacao, que arrecadou, até agora, algo em torno de R$ 700. “Precisamos de uma paciência histórica, porque o campeonato está rolando dentro dessas regras e vamos disputá-lo a partir dessas regras. Aí eu confio na população, na esperteza, na inteligência e na dignidade das pessoas que votam”, afirma Professor Ricardo, ao ter sua campanha comparada às de candidatos que recebem mais de R$ 1 milhão de Fundo Partidário.
“Os mesmos que ouvem essa entrevista, de tempo igual, de candidatos de grande potência, ouvem a nós. É a esses que cabe o poder de decidir e pensar se esses candidatos que estão com essas mega-estruturas vão manter o sistema ou alterá-lo. Os ‘coronéis’ não vão sair se nós não nos candidatarmos e nos apresentarmos como proposta alternativa aqui”, reflete o professor.
Estimular o jovem a quebrar a oligarquia
Ricardo considera que é necessária não só uma reforma política, mas “uma alteração do estado de consciência da população brasileira. E isso se dá pela educação”, emenda. O professor avalia que, para as novas gerações, a discussão de certas pautas progressistas não se dá no todo, no sentido privado, por problemas de acesso à informação ao conhecimento e pelo fato de os jovens estarem expostos a algumas ideologias que precisam ser debatidas. No aspecto público, envolve questões mais complexas, como a qualidade da educação.
Ele nota que há um crescimento do interesse dos jovens pelo processo político e cita como exemplo as eleições para o Grêmio Estudantil do Regente, onde ele leciona: de cerca de 1600 alunos, perto de 170 se candidataram a algum cargo. Nesse sentido, ele afirma que sua campanha tem também o papel de iniciar os jovens na política, uma vez que muitos rejeitam a ideia de um envolvimento futuro quando são questionados, por exemplo, no “terceirão”, sobre a carreira que pretendem seguir.
Na visão do professor, é necessário promover uma quebra da oligarquia, pois é do interesse de quem já está no poder que o estudante de escola pública crie rejeição e até asco da ideia de seguir uma carreira política, enquanto seus filhos são preparados desde cedo para seguir o legado. “Inclusive, colocam o nome: Deputado Filho, Deputado Júnior, Deputado Neto. É histórico”, aponta.
Candidatura coletiva
A prática das candidaturas coletivas, como a da Bancada pela Educação, nascem, justamente, no campo popular, segundo Ricardo, por vir a propor a quebra dessas “mega-estruturas”. O candidato aponta que ele é filho de fumicultores que vieram do interior de Ipiranga (Quatis); a professora Eliane trabalha na rede municipal, vem do interior de Palmeira; Márcio Soares é representante comercial e estudante de Serviço Social; Hadassa trabalha pela proteção animal e o professor Lucinei, também filho de trabalhadores, leciona hoje no Instituto Federal (IFPR) em Jaguariaíva.
“Não temos nem as estruturas partidárias, nem econômicas, nem tradicionais, nem familiares que têm essas figuras que estão na Assembleia Legislativa ou que estão concorrendo a uma reeleição, ou mesmo que são candidatos novos, mas que são potências”, define.
Segundo o Professor Ricardo, as candidaturas coletivas são estratégicas de vários pontos de vista: primeiro, por reunir forças populares; segundo, por incluir e garantir mais pautas dentro de uma candidatura, que uma figura sozinha não colocaria e, terceiro, a responsabilidade pelo que se fala e a discussão é coletiva, não individual ou personalista. “Sou o porta-voz desse grupo. A legislação ainda está avançando. Em 2020, a legislação começa a citar, de forma indireta, na parte eleitoral, que em caso de candidaturas coletivas, a foto na urna deveria ser de apenas um candidato. O legislador já percebeu que existe um reconhecimento da candidatura coletiva, mas acontece que ela não se efetiva ainda de forma regulamentada na Justiça Eleitoral”, afirma.
Toda a plataforma de campanha desse coletivo é feito com base em uma metodologia de consenso e de racionalidade, de acordo com o professor. Se surge alguma contradição ou divergência, todos estão sempre prontos para se reunir e debater.
Professor Ricardo assegura que o PSOL tem, sim, condição de eleger um deputado estadual porque “o voto não depende de estatística, mas da consciência das pessoas. Convidamos você a ser um aliado para negar essas estatísticas”.
“O próprio nome da nossa candidatura tem um objetivo muito claro: a defesa da educação pública, universal, gratuita e de qualidade no Estado do Paraná. O nome da nossa candidatura é Professor Ricardo e Bancada pela Educação, formada por esses cinco companheiros, interessados numa série de questões em que vai mal a Educação no Estado do Paraná”, diz.
De acordo com o candidato, o coletivo estudou bastante o funcionamento da Assembleia Legislativa e o papel do deputado. “Precisamos ser honestos. Nossa proposta é atuar numa Assembleia Legislativa que, hoje, é tomada por uma maioria favorável ao atual governo. Se toda essa estrutura se mantiver, vai continuar do mesmo jeito. O papel é de legislar e fiscalizar dentro da Alep e compor a Comissão de Educação da Alep, que hoje é composta por sete deputados e só um é professor. O presidente da Comissão de Educação dentro da Assembleia não entende de Educação, ele entende do ramo imobiliário”, critica.
Outro papel da Bancada Pela Educação será o de marcar presença nas votações que dizem respeito ao interesse dos paranaenses e que integram a pauta da Educação, segundo o candidato, “como a votação que sequestrou o Fundo Previdenciário dos professores”, cita. Ele aponta, ainda, o papel fiscalizador do Legislativo, “que deveria ter estado atento à questão da Operação Quadro Negro. A Francisco Pires Machado, aqui em Ponta Grossa, tem uma ação registrada na Justiça de R$ 9 milhões com 20 réus”, observa.
Segundo Ricardo, cabe ao deputado fazer um trabalho constante de como é executada a política educacional no Estado do Paraná e quais erros a gestão tem cometido. “Um dos erros específicos do Executivo está no trato com os profissionais de Educação. Domingo temos a prova do PSS e o contrato é precário. Temos que ir contra isso, pois somos a favor de concurso público, porque os filhos dos trabalhadores merecem professores que estejam atentos à educação das suas crianças”, diz.
Outra crítica do candidato à gestão educacional no Paraná é que o Estado coloca aluno por metro quadrado, ao passo que a quantidade de alunos por professor interfere na qualidade do ensino. “No ano passado, eu tinha, aproximadamente, 1,2 mil alunos. Sabe o que é corrigir 1,2 mil textos? Não dá tempo de decorar o nome dos alunos. A reconstrução da figura do professor é um papel do Estado”, pontua.
Professor Ricardo ressalta, ainda, que o governo costuma olhar para a educação como um investimento de longo prazo e um dos maiores gastos nesse setor é com recursos humanos. “No ano passado, o governador contratou um professor dessa universidade que está doando dinheiro para a candidatura dele e esse professor dá aula de um centro universitário, via remota, e essa aula é transmitida pela TV para vários colégios, simultaneamente”, aponta.
Confira a entrevista do Professor Ricardo na íntegra: