A mesária Bruna Olszewski, que trabalhou nas eleições de domingo (2) e vai desempenhar a mesma função no segundo turno, dia 30, explica as atribuições da mesa receptora de votos, em em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), desta terça (4). A mesa receptora de votos é composta de um presidente, dois mesários e um secretário, cada um com funções diferentes.
Bruna, que no dia a dia é mestranda em Direito na área de Família, conta que, em eleições anteriores, já presidiu a seção eleitoral onde trabalhou, mas, neste ano, atendeu à função de mesária. “Fico feliz, porque acho que é um exercício de cidadania, é o ápice da nossa democracia e é muito legal ver tudo acontecendo e me sentir participando mesmo desse processo. Sem mesário, não tem eleição”, comenta a mesária, sobre a convocação pela Justiça Eleitoral.
A mesária atesta a confiabilidade da urna eletrônica e destaca que todos os convocados a atuarem nas mesas receptoras de votos passam por dois treinamentos prévios, um teórico e um prático, em que aprendem os procedimentos que devem adotar no dia do pleito e sobre o funcionamento e operação das urnas eletrônicas. No treinamento, o mesário aprende o que deve fazer caso a urna apresente algum problema ou precise ser reiniciada.
Bruna, que já atuou em três eleições, relata que em 2018 e em 2020 não ocorreu nenhum transtorno e que, agora, no domingo (2), foi necessário reiniciar a urna eletrônica da seção onde ela trabalha. “As urnas foram trocadas recentemente, foi modificado o layout da urna. Tivemos que reiniciar a urna, mas isso não retira os votos que já tinham sido realizados, eles ficam todos computados na urna. Só reinicia e o processo segue. É uma máquina sujeita a problemas técnicos”, explica.
A mesária comenta que é necessário entender que há diferentes perfis de eleitores, com diferentes necessidades na hora do voto. Ela recomenda a todos que levem as “colinhas”, ainda mais como foi neste ano, com cinco cargos em disputa. Alguns eleitores apresentam dificuldade para usar a urna ou demoram para votar justamente porque confiaram na memória e não levaram a cola.
Se o eleitor demora mais do que a média de tempo levado para o voto, aparece a mensagem “o eleitor está demorando”, no terminal do mesário – aquele onde você faz a biometria e o presidente digita o número do seu título. Aliás, é esse o procedimento que inicia a urna para receber o voto de um eleitor. Ele precisa concluir a votação – quando aparece “fim” no monitor e a urna dá aquele aviso sonoro característico – para que outro eleitor seja autorizado a entrar na seção.
Bruna comenta que precisa manter a cordialidade para atender, inclusive, aquele eleitor que questiona a confiabilidade da urna e, diante de algum problema, acaba se exaltando.
Aliás, sobre esse perfil de eleitor, a mesária frisa que precisou de muito jogo de cintura para lidar com os que não queriam deixar o celular do lado de fora da cabina de votação, como preconiza a lei, desde 2009. Mesmo sendo proibido, muitos insistem em querer levar o celular com eles e questionam a autoridade dos mesários.
Muitos eleitores perceberam uma demora para que as urnas registrassem seus votos. Bruna reforça que essa demora de um segundo a mais para o registro dos votos foi proposital, para que o eleitor tivesse mais tempo para conferir a votação e poder corrigi-la, caso achasse necessidade. “No momento que você apertava o número do candidato, a urna demorava um segundo para carregar a foto e só então confirmar. Tanto que alguns eleitores podiam confirmar duas vezes, porque apertavam muito rápido. Por isso que teve que apertar [a tecla ‘confirma’] duas vezes, para aparecer integralmente a foto do candidato antes de computar o voto”, ressalta.
Bruna trabalhou na Escola Santa Terezinha que, aliás, é o mesmo local onde ela vota. Entretanto, o mesário não vota na mesma seção onde ele atua – pode ser na mesma escola, mas não na mesma sala. Pode ocorrer, ainda, de o mesário trabalhar numa escola e votar em outra, mas, geralmente será numa do mesmo bairro.
Sobre os aprendizados como mesária, Bruna destaca que o exercício a preparou melhor para o trato com o público e, além disso, aprendeu bastante sobre o próprio processo eleitoral e sobre como não se deixar enganar por fake news.
Registro dos votos
Um dos procedimentos que atesta a confiabilidade das urnas é a impressão da zerésima, explica Bruna. Esse boletim, impresso a partir de uma hora antes do início da votação, quando a urna eletrônica é ligada, atesta que não há nenhum voto registrado para nenhum candidato. A zerésima é impressa na presença de fiscais dos partidos que estiverem presentes e afixada na entrada da seção.
Já os boletins de urna, com o resultado da votação na eleição, mostra, individualmente, quantos votos cada candidato de cada cargo em disputa recebeu. São impressos, no mínimo, cinco boletins de urna, mas podem ser emitidos mais, desde que os fiscais de partido os solicitem pouco antes do encerramento da votação. “O que vai para o Cartório Eleitoral é um pendrive com a mídia de resultado da urna”, explica.
Essa mídia fica num compartimento lacrado da urna eletrônica. Quando a votação se encerra, o presidente da seção retira essa mídia para encaminhar ao Cartório Eleitoral, junto aos demais documentos – ata da seção, caderno de comparecimento de eleitores e justificativas eleitorais. Um lacre específico é colocado nesse compartimento depois que a mídia é removida. Os lacres constituem outro mecanismo de segurança que atesta a confiabilidade das urnas eletrônicas.
Vantagens
O mesário tem direito a dois dias de folga no trabalho, por convocação. São três convocações que um membro de mesa receptora de votos recebe: para o treinamento, para o primeiro turno e, eventualmente, para o segundo turno. Algumas instituições, como a Universidade Estadual de Ponta Grossa, atribuem horas complementares para os estudantes que forem mesários. A medida entrou em vigor a partir de 2008, como estímulo para que universitários se voluntariassem para o serviço eleitoral.
“Alguns concursos públicos, se estiver previsto em edital, conta como critério de desempate”, frisa.
Vale lembrar que o trabalho de mesário não é remunerado. O mesário recebe apenas um vale alimentação correspondente ao dia trabalhado.
Requisitos
Para se tornar mesário, tanto voluntário quanto convocado pela Justiça Eleitoral, o eleitor deve ser maior de 18 anos, não ser filiado a nenhum partido, nem possuir vínculos familiares – inclusive os conjugais – com candidatos.
Confira a entrevista na íntegra: