O professor de Língua Portuguesa e colunista do portal D’Ponta News, Edgar Talevi de Oliveira, apontou como a internet interfere na gramática, em entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,3 para Ponta Grossa e região e 92,9 para Telêmaco Borba), nesta quinta-feira (14).
Mudanças na língua portuguesa ocasionadas pela internet
O professor aponta que algumas modificações na língua portuguesa ocasionadas pelo advento da internet são cabíveis, tendo em vista que ela é uma língua em construção.
“A língua portuguesa é um constructo social como todo idioma, e a internet veio para trazer modificações que são cabíveis dentro do contexto de uma língua em construção”, explica. “De fato os idiomas são ávidos por roupagens novas e nós temos sempre transformações. Os idiomas não são estagnados e todos eles percorrem um caminho que é acidentado e traz novidades e modificações”, acrescenta.
‘Internetês’
Edgar também comenta que os jovens utilizam o ‘internetês’, que é ocasionado pelo uso das novas ferramentas e advento das redes sociais. “Eu pratico o ‘internetês’ fluentemente dentro das redes sociais, porque ali é o nicho de uso dessa linguagem. Nós não podemos romantizar ele com um caminho para uma linguagem mais fluida e correta no dia a dia, porém temos que valorizar aquilo que ele traz de construções novas e aprendizagem”, pondera.
Ele pontua que alguns verbos novos estão surgindo na linguagem dos jovens devido a esse advento. “São linguagens novas, novas palavras, gírias, neologismos e ‘neoverbos’. Um exemplo de ‘neoverbo’ que tem sido muito utilizado pelas novas gerações é ‘shippar’, que vem do inglês ‘relationship’, e significa torcer por um relacionamento”, destaca.
Estrangeirismo
O professor comenta que o dicionário já traz algumas palavras com o estrangeirismo aplicado à norma culta da língua portuguesa.
“Palavras como ‘shippar’ vieram do inglês puxadas com essa forma de construção de escrita. Isso é a língua portuguesa admitindo o estrangeirismo dentro do seu próprio dicionário”, afirma. “Eu uso a linguagem de acordo com a ocasião. Não é errado comunicar-se dentro das redes sociais com o ‘internetês’, porém quando ele é utilizado em situações formais da língua, como provas externas e avaliações, está inadequado”, complementa.
Corretor ortográfico
Os aplicativos de mensagens e smartphones possuem a opção de ‘texto inteligente’ ou ‘corretor ortográfico’, e isso pode trazer um pouco de dificuldade para quem quer utilizar a norma culta da língua portuguesa, segundo Edgar.
“Esses entraves são resultado de o corretor não estar atualizado em relação à nova ortografia. Eu vejo isso pelo meu aparelho e corretor que ele possui, e é notável que as correções não são dentro da norma culta vigente”, pontua. “Talvez isso não aconteça com os aparelhos novos que estão saindo, porém vejo dessa forma. Para aquelas pessoas que usam com menos formalidade e mais para redes sociais não vejo muita diferença, porque mesmo com as divergências a linguagem já é abreviada e trabalhada de forma diferente”, finaliza.
Serviço
Confira a última coluna do professor Edgar Talevi sobre gírias neste link; e a entrevista completa: