Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Agro&Negócio: Raio-X da criação bovina brasileira – Onde e como está o gado de corte? por Ricardo Weg

2021-08-10 às 06:29

Pecuária com maior presença do zebu e estruturas realmente grandes dividem cenário com a agricultura brasileira. Os detalhes da produção bovina estão sendo atualizados e mapeados pela expedição Confina Brasil.

O primeiro roteiro foi na região Sul. A equipe fez 54 visitas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Rodaram mais de 6 mil km para cumprir a agenda extensa. Ao todo o grupo de especialistas faz o mapeamento de 40% do gado confinado no país.

PARANÁ É REFERÊNCIA: “A presença da agricultura em maior escala fica mais evidente no Paraná, assim como a influência das raças zebuínas com destaque aos machos não castrados, que ao avançar em direção ao noroeste do Estado, se mostra predominante”, constata o médico veterinário Felipe Dahas, coordenador do Confina Brasil.

A equipe visitou 22 plantas de confinamento no Paraná. Uma das características marcantes é a influência do cooperativismo, tanto na compra de componentes para dieta quanto na venda dos animais para abate. Além disso, a parceria entre criadores e invernistas se mostra bastante presente, garantindo animais em quantidade e qualidade, a preços compatíveis para a engorda em confinamento.

Curiosidade do linguajar: ‘invernista’, é o pecuarista que compra bezerro ou boi magro para engorda-lo e depois revendê-lo, normalmente para frigoríficos.

DENTRO DAS FAZENDAS

Olavo Bottino, médico veterinário e técnico do Confina Brasil, destaca a visita à planta frigorífica da cooperativa Padrão Beef como um dos pontos altos da viagem pelo Paraná. Isso porque, segundo ele, a unidade atende a consumidores mais exigentes, visto que os animais são precoces e classificados como ‘carne premium’ ou certificados pela Associação Brasileira de Angus. “No frigorífico, acompanhamos todo o processo, desde a insensibilização dos animais até a classificação das carcaças, desossa e empacotamento a vácuo”, fala Olavo.

O Confina Brasil também conheceu operações de grande escala, com volume de abate de aproximadamente 30 mil cabeças por ano. Os números altos fazem necessários sistemas de gestão com o uso de softwares, ou seja, há muita tecnologia na administração de tamanha quantidade de gado.

BEM ESTAR ANIMAL

“Nos chamou atenção a preocupação dos produtores paranaenses em relação ao ambiente, tanto dos animais quanto ao que se refere à sustentabilidade. O aproveitamento dos dejetos, por exemplo, seja na lavoura ou nos biodigestores, é uma característica presente nos confinamentos visitados, o que torna o sistema eficiente e produtivo”, destaca Dahas.

Outro ponto é o cuidado dos produtores em relação aos animais. As estruturas dos confinamentos, sejam simples ou mais complexas, proporcionam aos bovinos sombra, boa circulação de ar, água sempre disponível e currais limpos com frequência.

Eduardo Seccarecio, engenheiro agrônomo, analista de mercado da Scot Consultoria e técnico do Confina Brasil, assinala que a preocupação com a qualidade das carcaças também está presente. “Por exemplo, o uso de ferramentas de ultrassonografia de carcaça para maior controle e tomadas de decisões mais apuradas”.

A equipe do Confina Brasil também visitou a fazenda do Grupo Bergamini, em Riversul (SP), onde é perceptível a paixão pela atividade. “A família Bergamini, sempre com um olhar refinado para os negócios, abate cerca de 30 mil cabeças por ano, atendendo à demanda das empresas varejistas da região, além de produzir tilápia e carvão”, informa Seccarecio.

CONSULTORIA APLICADA

O Confina Brasil visitou também nessa última rota algumas propriedades indicadas pela empresa GA (Gestão Agropecuária). A empresa é uma das patrocinadoras do Confina Brasil 2021. Os confinamentos chamam a atenção pela estrutura e cuidado dos proprietários.

A Fazenda Primavera, por exemplo, localizada em Santa Mônica (PR), impressionou pela quantidade de consultorias que os proprietários contratam. “Mesmo que seja uma fazenda com um regime de confinamento não tão grande, eles possuem consultoria para tudo, seja para pastagem, gestão, nutrição e confinamento”, destaca Bruno Alvim, médico veterinário e técnico do Confina Brasil.

Segundo Alvim, as consultorias são utilizadas de forma estratégica para tomada de decisão, como o momento da compra dos animais, venda e o que será utilizado na dieta. O gestor do confinamento é Gabriel Botelho e a fazenda é de seu avô. O confinamento possui em torno de 1.000 cabeças.

Em Mandaguari (PR), próximo a Maringá, o Confina Brasil passou pelo Confinamento Romagnole. Um ponto interessante dessa visita foi a genética dos animais. O que também chamou bastante a atenção é a gestão de João Pedro e seu pai, pois acompanham, diariamente, quais animais serão escolhidos para o abate e quais necessitam esperar um pouco mais. “Eles têm uma característica de abater animais muito pesados e ter um ótimo rendimento de carcaça. Trabalham com Angus e cruzamento industrial. É realmente impressionante a qualidade genética desses animais”, finaliza Seccarecio.

NELORE E ANGUS

A equipe visitou também uma propriedade considerada como uma das mais bonitas do Paraná, gerida por mulheres. “Elas trabalham com gado Nelore e Angus e estão começando a fazer a entrega para cooperativas a fim de escalonar o negócio de 15 em 15 dias”, destaca o médico veterinário Felipe Dahas. Além disso, a fazenda é bem intensificada e, praticamente, todas as áreas de pastejo são rotacionadas. As áreas de lavoura fazem rotação de culturas.

MÁXIMO APROVEITAMENTO DA MANDIOCA

Outra propriedade visitada pela equipe foi o confinamento GT FOODS, localizado em Paranavaí (PR). A GT FOODS tem como característica o insumo alimentício com base na massa da mandioca. “Eles possuem indústrias de produtos provenientes da mandioca, as quais geram um subproduto. Na teoria, o descarte seria um problema, porém eles o utilizam como fonte de volumoso na dieta, reaproveitando esse subproduto”, afirma Felipe Dahas.

A previsão é aumentar o confinamento com 2 plantas próximas das fábricas de produtos de mandioca. “O intuito é utilizar a maioria desse subproduto para alimentação do gado”, destaca.

MAPA E SATÉLITES

O grupo do Confina Brasil tem mapeado literalmente as pastagens, cujas informações serão compartilhadas com os sistemas de satélites, para que tenhamos a exatidão dos locais onde está e como vive essa parcela do gado de corte em produção de larga escala no Brasil.

ÁGUA

A boa criação agropecuária passa pela qualidade da água. E esse é um dos pontos pesquisados pelo Confina Brasil. Ao final da expedição será apresentada uma análise detalhada das condições da água utilizada nas criações. Nos detalhes específicos, serão analisados os minerais livres constante na água, entre outros fatores.

PRÓXIMOS PASSOS

O Confina Brasil segue para Rondônia, Mato Grosso e Pará em busca de novas histórias e informações para contribuir com a pecuária intensiva brasileira.

QUEM PAGA A CONTA

A expedição tem patrocínio ouro da BRA-XP, Elanco, Casale, Nutron e UPL; e patrocínio prata da AB Vista, Associação Brasileira de Angus, Barenbrug, Beckhauser, Confinart, GA (Gestão Agropecuária), Inpasa e Zinpro. A expedição conta ainda com o patrocínio da montadora Fiat e apoio institucional da Assocon, Hospital de Amor de Barretos, e Sociedade Rural Brasileira.

CHEF ASSA CHURRASCO PARA EMBAIXADAS

O chef de cozinha, formado em gastronomia e especializado em churrasco, o Paulo Telpes, conhecido “Doutor Picanha”, destaca que a qualidade da carne começa obviamente no pasto, e os cuidados com o tratamento refletem lá na frente, nos paladares mais exigentes. O resultado disso tudo faz com que, por exemplo, o Brasil seja famoso mundialmente pela qualidade da gastronomia em assados. O chef destacou a importância do Confina Brasil. Segundo ele, o trabalho visa mostrar tecnicamente, e cientificamente, a qualidade da produção. Isso é importante porque facilita para o público entender claramente como é o trato da carne brasileira.

Telpes trabalha com churrascos gourmet, e tem em sua carteira de clientes embaixadas como do Canadá, Reino Unido, Austrália, Paraguai entre outras. “Os embaixadores sempre me contratam porque apresento o que há de melhor da carne brasileira. Entre os convidados é comum estarem presentes grandes exportadores, industriais e líderes desses países que se interessam em conhecer nossa cultura”, destaca Paulo Picanha, que é também muito conhecido na internet. Muitos de seus vídeos assando churrasco passam dos milhões de acessos.

Mais informações no portal www.confinabrasil.com e Instagram @confinabrasil.

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Agro&Negócio

por Ricardo Weg

Formado em comunicação-social, letras e MBA em Marketing Digital (Fundação Getulio Vargas), Ricardo Wegrzynovski é multimídia (internet, TV e rádio). Empolgado com a vida, trabalha com marketing e tecnologia. Escreve também para o gigante The Rio Times. É assessor de comunicação em política. Nesse setor trabalhou com a equipe do ex-presidente dos EUA, Barack Obama. Em Brasília, onde morou por 13 anos, trabalhou na Câmara dos Deputados, Ipea, Ministério da Agricultura, e Presidência da República. No exterior trabalhou em Londres e Portugal. Paranaense gente boa, manezinho adotado pela ilha, mora em Floripa quando pode. No mais é “nômade digital”.