A crise da Dengue
É com tristeza e insatisfação que observamos a epidemia de dengue que nos assola. Parece que não aprendemos com os acontecimentos sanitários recentes. Pode-se argumentar que minha cidade ou região não tem dengue. Não tem ainda lembrando que muitos cidadãos viajam para locais de grande infestação e podem trazer o vírus.
Primeiramente vamos refletir sobre o mosquito transmissor, o que torna essa ameaça ainda mais preocupante é o fato de que o Aedes aegypti, em sua origem, era uma criatura urbana rural/silvestre/selvagem. Com a expansão desenfreada das cidades e a urbanização cada vez maior, o habitat original do mosquito foi invadido, este se adaptou de maneira surpreendente ao ambiente das cidades, encontrando o sangue humano infectado para se manter vivo e poucos predadores.
A fêmea do Aedes, com sua obstinada busca por locais para depositar seus ovos, encontrou o refúgio ideal, água limpa ou água de chuva paradas e calor (condições que tivemos com o fenômeno El Niño), para se reproduzir e espalhar a dengue, tendo uma habilidade quase cruel, é capaz de depositar até 300 ovos de uma só vez, garantindo uma prole numerosa e voraz e que irá proliferar numa progressão dramática com ciclo médio de vida de 30 dias. No inverno ou períodos secos, conseguem sobreviver até 500 dias até que haja novamente água e calor. Mais um motivo para agirmos agora, prevenindo para o amanhã.
Apesar de sua destreza em se reproduzir, o Aedes tem suas limitações, Tem hábito diurno, com destaque para amanhecer e anoitecer com picadas principalmente no tornozelo, tem voo silencioso, curto e alcance limitado, cerca de 100 metros de distância e de altura, a não ser que pegue correntes de ar, reforçando assim a nossa vigilância em espaços e estruturas de nossa vizinhança, pois é de onde virá o contagio.
Diante dessa ameaça persistente, os Governos Federal, Estadual e Municipal têm suas obrigações mas a batalha contra a dengue não pode ser travada apenas por um ente federativo, requer uma ação conjunta e coordenada e com a imprescindível participação de cada um de nós. O Governo Federal tem o papel de fornecer recursos, orientações e coordenação nacional para o combate ao vetor e à doença. Os Governos Estaduais devem implementar políticas de vigilância epidemiológica, campanhas de conscientização e ações de controle vetorial em suas respectivas jurisdições e estrutura hospitalar para os casos mais graves. Já os Governos Municipais têm a responsabilidade de realizar ações de limpeza urbana, eliminação de criadouros e monitoramento constante da situação local.
Além disso, é fundamental destacar a importância da vacinação como uma ferramenta crucial na prevenção da dengue mas não é a principal medida de combate. Sem falar que a disponibilidade e eficácia das vacinas são limitadas e atualmente, o público-alvo principal são crianças e adolescentes. Portanto, é necessário um esforço conjunto para garantir que esses grupos vulneráveis sejam imunizados de forma eficaz, enquanto simultaneamente se intensificam os esforços de controle do vetor e de conscientização da população sobre medidas preventivas. Temos que fazer nossa parte.
Outro fato a ressaltar é de que a vacina será disponibilizada com intervalo de 90 dias entre as 2 doses portanto a proteção total ocorrerá a partir de maio e possivelmente contra as próximas infecções e não há proteção contra os tipos 3 e 4 que felizmente não estão circulando em grande quantidade atualmente em nosso país. Vamos agir agora.
Ressalte se novamente que a proteção contra a dengue não será alcançada apenas com vacinas; é necessária uma abordagem abrangente que inclua educação, controle ambiental e coordenação entre os setores de saúde e governamentais. Hoje ainda, a hora é agora!
Everson Augusto Krum é doutor em Hematologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP,
foi vice-reitor da UEPG e é ex-diretor do HU-UEPG.