Mesmo que não sejam exclusividades nossas, há algumas chagas que afetam de forma significativa a sociedade brasileira. A dependência química pelo crack é uma delas. Ela destrói vidas antes mesmo de matar o dependente e sua família. Buscar uma saída sob o ponto de vista da saúde pública é o caminho para enfrentá-la. Mais secretarias de saúde e menos de obras. Ou seja, mais tratamento e menos muros.
Outra chaga é o crime organizado, que avança cada vez mais sobre as entranhas da nossa sociedade. Domina territórios e setores sociais. Não importa onde: o crime se espalha por todos os espaços. Está na política, na segurança “pública”, na economia, em empresas de diversos segmentos, no comércio exterior, na prestação de serviços, na religião. Para onde você olhar, verá a digital do crime. Combater esse mal exige inteligência, tecnologia e ações estruturadas.
E há ainda a mentira. Essa praga, potencializada nos últimos anos pelo uso criminoso das redes sociais e aplicativos de mensagens. Combater a difusão de fake news tornou-se uma urgência nacional. Quantas vidas foram perdidas, por exemplo, pela recomendação negacionista de “tratamentos precoces” para a Covid-19, com medicamentos como ivermectina, azitromicina e hidroxicloroquina, sabidamente ineficazes?
Além disso, há as perdas materiais. Pensemos na recente fake news sobre o PIX. Quantos golpes já fizeram vítimas de boa fé? Quantos empreendedores abandonaram a ferramenta, perdendo vendas e vendo a prosperidade mais distante? Quem cria e dissemina fake news é criminoso e deve ser tratado como tal.
Embora alguns órgãos tenham se mobilizado contra isso, as ações ainda são insuficientes. Vejam a postura da Meta diante dos questionamentos da Advocacia Geral da União: com o perdão da expressão, Zuckerberg simplesmente cagou para o governo e a Justiça brasileiros.
Penso que a praga das fake news, que nada tem a ver com liberdade de expressão, mas sim com a recorrente pratica criminosa, deva ser enfrentada como se enfrenta o crime organizado. Pois se trata de crime organizado. A criação de uma força tarefa em órgãos de Estado e uma mobilização militante da sociedade se faz necessário. Denunciando toda mentira espalhada. Falando pelas redes, mas não só. Usando a favor da verdade a nossa formação cultural que ainda credita o contato direto e pessoal.
É preciso identificar os criadores de fake news, rastrear e bloquear o dinheiro que os financia, responsabilizá-los criminalmente e enfrentá-los de forma articulada, cotidiana e dura. A nossa revolução é a luta permanente pela verdade. E, nesse combate, é preciso endurecer.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político