há um dia
Redação

Na noite do último domingo, o presidente Lula, de forma acertada, fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV para falar sobre a sanção da lei que isenta de imposto de renda os brasileiros e brasileiras com renda de até R$ 5.000 e reduz o imposto para aqueles e aquelas que ganham entre R$ 5.000 e R$ 7.350. Serão mais de 15 milhões de beneficiados. Imagino que essa deva ser a pauta da luta política capaz de render ótimos frutos eleitorais para as candidaturas governistas no próximo ano. Afinal de contas, estamos falando da garantia, a partir do próximo ano, de algo equivalente a um décimo quarto salário para milhões de famílias. Convenhamos: não é pouca coisa.
Mas, para além da importância deste anúncio, outro detalhe me chamou a atenção na fala de 6 minutos e 3 segundos de Lula. O quanto esse cabra é sortudo. Nasceu com aquilo virado para a lua, não tem explicação. Comecemos pela fome no Brasil. Foi só ele voltar ao governo para o País sair - de novo - do mapa da fome. Não custa lembrar que ele já havia tido a sorte de encaminhar essa retirada lá em 2014. E agora, vejam só, depois dos governos Temer e Bolsonaro terem empurrado o Brasil de volta ao abismo da miséria e da insegurança alimentar, eis que, com Lula presidente, o País deixa novamente esse ranking vergonhoso. É a tal da coincidência celestial: basta o homem assumir que o anjo da boa fortuna desce de carona no Alvorada.
E as demonstrações da sorte de Lula em seu pronunciamento não param por aí. Com Lula presidente, o Brasil alcança as menores taxas de inflação e de desemprego dos últimos anos - e, em alguns recortes, de toda a série histórica recente. A inflação, essa danada que assombra a vida do povo, está rodando na casa de 4% acumulados em 12 meses, dentro da meta e entre as mais baixas do G20. Já o desemprego, aquele tormento que tira o sono, baixou para cerca de 5,4%, a menor taxa desde 2012, com mais de 3,8 milhões de empregos criados desde o início do governo. Mas, claro, nada disso tem a ver com política econômica, previsibilidade, recomposição do investimento público ou com a valorização real do salário-mínimo que voltou a existir depois de anos de congelamento. Nada disso. Tudo obra da sorte desse cabra.
Porque se formos levar em conta a realidade - aquela que teima em estragar boas narrativas - teríamos que reconhecer fatores menos místicos: a retomada dos investimentos públicos, a volta da estabilidade institucional, a redução de ruídos diplomáticos, a reabertura de mercados externos, o reaquecimento do consumo popular, a ampliação do crédito produtivo e o clima de segurança jurídica que atraiu capital privado. Mas não, não caiamos nessa armadilha racional. O que realmente move a economia brasileira é a estrela de sorte que paira sobre a cabeça de Luiz Inácio.
Da mesma forma, a retomada e o fortalecimento de programas sociais como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, bem como a criação do Pé de Meia, do Luz do Povo e do Gás do Povo, também não tiveram nenhuma relação com a redução da pobreza ou com o reaquecimento econômico. Nunca! Foi tudo, absolutamente tudo, mera sorte. Golpe de sorte atrás de golpe de sorte.
A nós, pobres mortais, resta torcer para que a sorte continue. Que ela permaneça firme ao lado de Lula, garantindo que o Brasil continue com inflação controlada, desemprego baixo e políticas públicas funcionando. E mais: que tenhamos nós mesmos a sorte de, no próximo ano, os brasileiros e brasileiras escolherem seguir no caminho dessa tal sorte que, quando aparece, dá gosto de ver.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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