Não, eu não farei uma análise da gestão de Tarcísio, seja no governo do Estado de São Paulo, seja no Ministério dos Transportes do governo Bolsonaro. Sigo nas observações sobre o equívoco cometido na última semana com a articulação da emenda que busca anistiar os golpistas e, em especial, no episódio do último domingo, 7 de setembro, quando, em manifestação na Paulista, chamou o ministro Alexandre de Moraes de tirano. E aqui, é bom lembrar: o governador não quis dizer que o ministro do STF teria sua origem familiar na região da Lombardia, na Itália.
A pesquisa da CNT/MDA, divulgada ontem, reforça a visão sobre o erro cometido por Tarcísio ao correr para os braços dos familiares no meio do gueto. Não são esses votos que definirão as eleições. Os extremistas de direita sabem muito bem para onde e contra quem correrão nos 45 minutos do segundo tempo. Assim como a maioria dos moradores do Nordeste também sabe, desde já, com quem caminhará. Esses não são os eleitores e eleitoras que estão em disputa.
A prova disso aparece em um número curioso da pesquisa, que dificilmente se confirmará, mas que ilustra muito bem o cenário da disputa presidencial: um eventual segundo turno em que Lula venceria Ciro Gomes. Cenário que, na minha opinião, não se concretizará, não porque Ciro deva ser candidato ao governo do Ceará com apoio do bolsonarismo, mas porque, ainda que fosse candidato a presidente, não chegaria ao segundo turno. Mas o dado chama atenção: mostra Ciro com uma performance melhor do que outros candidatos à direita, inclusive o próprio Bolsonaro, hoje inelegível.
Esse número sinaliza o que buscam os eleitores e eleitoras ainda em disputa: não uma das extremidades da polarização atual, mas uma transição para a normalidade. Essa sinalização fica mais fácil, óbvio, quando as candidaturas têm base eleitoral ampla e consolidada, como Lula e aquela que vier a representar o bolsonarismo.
Por isso, se uma dessas candidaturas – como no movimento feito por Tarcísio – optar pelo caminho da radicalização, não colherá o fortalecimento próprio, tampouco de uma chamada terceira via, como sonham alguns caciques do Centrão, mas sim a ampliação do diálogo em torno da candidatura de Lula. Em outras palavras: o governador de São Paulo, ao apoiar a anistia e radicalizar contra o STF, soma mais um erro ao já bastante conhecido e avaliado ato de atacar a soberania brasileira a partir dos EUA, com tarifaços e chantagens, como fez Eduardo Bolsonaro.
O bolsonarismo gosta de apontar o dedo para culpados por sua derrota em 2022. Roberto Jefferson atirando contra policiais federais e Carla Zambelli correndo atrás de um homem negro nos Jardins, em São Paulo, são dois exemplos que o grupo adora usar. Para 2026, já podem começar a lista: o tarifaço de Trump, sob patrocínio de Eduardo Bolsonaro, e o apoio de Tarcísio ao projeto de anistia somado aos xingamentos contra Alexandre de Moraes.
É claro: esse cenário só se confirmará se a candidatura de Lula e suas bases políticas e sociais trabalharem desde já para arrancar qualquer peça de roupa do figurino de Tarcísio que possa ser confundida com algo moderado. Se, durante a pré-campanha, os defensores da candidatura de Lula tiverem êxito em cravar na imagem do governador de São Paulo que ele é apenas outra face da mesma moeda – do extremismo, do golpismo, do negacionismo – estarão prestando um grande serviço a si mesmos. Estarão ganhando a eleição.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político
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