A extrema-direita brasileira está em festa, radiante com a posse de Donald Trump na presidência dos EUA. Antes agarrados a Javier Milei, presidente da Argentina, como sua boia salva-discurso, agora voltam os olhos para o norte. Viram o líder portenho se transformar em uma grande âncora: uma economia em frangalhos, miséria crescente e carros circulando com placas de papelão como símbolos do caos.
Mas, para os oportunistas de plantão – que, como velas de barco, seguem o vento –, Trump agora se tornou o grande farol. Até que o vento mude, e então abandonem o barco e seus tripulantes à deriva.
Trump é a nova inspiração da extrema-direita brasileira, mesmo que sua trajetória como empresário e presidente não se alinhe totalmente ao discurso conservador que tentam emular. Ele critica Israel, defende a legalização da maconha, é contra que o governo federal proíba o aborto, e mantém diálogo com os comunistas chineses. Seria ele, então, um comunista?
Os ideólogos da extrema-direita brasileira certamente buscarão apoio no governo Trump. Steve Bannon já deu o recado ao lançar a candidatura de Eduardo Bolsonaro à Presidência. Além de possíveis ganhos financeiros para o estrategista, essa aliança pode trazer outras consequências. Uma delas, me parece óbvio, é o uso das redes sociais. O X (antigo Twitter), de forma descarada, deve controlar o que circula. Já as plataformas da Meta, fingindo defender a liberdade, podem, assim como a rede de Elon Musk, ajustar o alcance de conteúdos para favorecer os extremistas. Prestemos atenção à foto da posse de Trump no Capitólio. A aliança está selada.
Outra possibilidade está na articulação de agendas econômicas que promovam ataques especulativos contra o Brasil. Não dá para subestimar a audácia dessa gente, que poderia até sugerir, veladamente, algo como: “Dá uma mexidinha aí pra sacudir lá embaixo.” Com o controle do capital financeiro e das redes sociais é claro que o estrago seria grande. Eleve a N potência o que ocorreu com a fake news do PIX.
E não podemos esquecer a possível atuação de órgãos de inteligência americanos. Não nos enganemos: eles existem, vão além dos filmes de espionagem e, sim, atuam. Se haverá intervenção no Brasil? Vigiai e orai.
Contra a CIA e outros atores desse tipo, penso ser difícil se antecipar. No entanto, não resta dúvida de que os órgãos de inteligência brasileiros devem estar atentos.
Quanto aos ataques especulativos, acredito que é necessário jogar pesado na regulamentação, punindo com rigor os criminosos e, talvez, até considerando o banimento de algumas redes sociais. Afinal, se os EUA podem cogitar isso com o TikTok, por que não? Claro, tudo deve ser feito com avaliações críticas e aprofundadas, garantindo que qualquer medida seja proporcional e eficaz.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político.