Sexta-feira, 06 de Setembro de 2024

‘O que explica a aprovação alta de Lula entre jovens eleitores?’, por Fábio Goiris

2024-06-03 às 14:12
Foto: Ricardo Stuckert

O instituto de pesquisa Poder Data informa que a atual gestão do Presidente Lula (Lula 3) é aprovada por 45% dos eleitores e reprovado, por 47% (uma forma de empate técnico). Porém, o índice negativo (pela primeira vez) fica maior que o positivo. Foram realizadas 2.500 entrevistas, por telefone, entre os dias 25 e 27 de maio de 2024. Resultado pouco confortável para o atual presidente.

Estes dados de pesquisa, gerais e amplos, sobre o governo Lula podem esconder também algumas variáveis que precisam ser observadas. Por exemplo, precisam ser esmiuçadas as pesquisas entre jovens e idosos, entre homens e mulheres, considerando a renda per capita e ainda entre regiões geográficas do país.

Os resultados sobre essas variáveis foram divulgados pelo instituto Paraná Pesquisas na sexta-feira 24 de maio de 2024.

Lula é mais aprovado entre mulheres (52,3%) do que entre homens. O presidente é mais aprovado entre os menos escolarizados e entre a população com menor renda (até 2 salários mínimos). Lula é mais aprovado na região nordeste do Brasil (53%) e entre católicos (62%) antes do que entre evangélicos. Cada um destes itens ou variáveis tem seu peso específico no computo final das eleições.

No que se refere especificamente à idade dos votantes os resultados são chamativos. Levantamento divulgado nesta terça-feira (30) pelo Instituto Paraná Pesquisas mostra que a aprovação do presidente Lula entre jovens eleitores da cidade do Rio de Janeiro é de quase 60%. O atual mandatário obteve 58,8% de aprovação entre entrevistados com idade entre 16 e 24 anos.

O valor vai de encontro à tendência de que o presidente tem ampla aprovação entre o eleitorado jovem. Um estudo apresentado no começo do mês mostrou que Lula tem aprovação de 77,5% dos eleitores com idade entre 16 e 24 anos na cidade de Juazeiro do Norte. Já em Fortaleza, segmentando a mesma faixa etária, Lula obteve 59,8% de aprovação. Em São Paulo, 62,1% dos entrevistados jovens apontaram que veem com bons olhos a atual administração.

O mesmo instituto de pesquisa PoderData, de 27 a 29 de março de 2022 (antes das eleições daquele ano), mostra que o petista tinha 51% das intenções de voto no 1º turno entre as pessoas de 16 a 24 anos, ante 29% de Jair Bolsonaro. Estes dados praticamente se repetem em 2024 e são de extrema importância uma vez que os brasileiros de 16 a 24 anos representam mais de 20 milhões de eleitores.

Várias teorias podem ser apresentadas na tentativa de explicar o fenômeno da performance do eleitor jovem brasileiro, de 16 a 24 anos.

Em primeiro lugar pode ser citado alguns dados que indicam que a campanha de artistas e famosos (de tom antibolsonarista) chamando os mais jovens para votarem em 2022 tem sido estrategicamente acertada. Não obstante, o tempo dirá se ela será suficiente para fazer números que, de fato, pesem na eleição. Se a disputa for acirrada como a de 2014, os jovens podem ser o fiel da balança.

Cabe lembrar uma curiosidade: os artistas e cantores que se posicionam de formas progressista e, portanto, favoráveis a partidos e candidatos da esquerda, são certamente mais famosos e, mais ainda, são maiores em número. Relativamente poucos são os artistas que se posicionam abertamente à direita (leia-se Lobão, Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho, Ratinho, Regina Duarte, Andressa Urach, Amado Batista, Latino, Sergio Reis, Carlos Vereza, Gustavo Lima, Leonardo, Marrone, etc.). Contrariamente, os artistas apoiadores do presidente Lula são em número maior e seriam de maior expressividade (leia-se Chico Buarque, José de Abreu, Vera Fischer, Samuel Rosa, Letícia Sabatella, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Leandra Leal, Lenine, Chico Cézar, Zeca Pagodinho, Camila Pitanga, Bruna Marquezine, Leticia Colin, Daniela Mercury, Xororó, Junior Lima, Diogo Nogueira, Anitta, Alinne Moraes, Claudia Raia, Angélica, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Camila Morgado, Bruno Gagliasso, Luísa Sonza, etc.). Até mesmo músicos icônicos estrangeiros como Roger Waters, autor da clássica obra “The Wall” (disco de 1979 da banda inglesa Pink Floyd), declarou apoio a Lula via web.  Outro ator conhecido, Mark Ruffalo, conhecido pela atuação em vários filmes de Hollywood, como o herói Hulk, declarou apoio nas redes a Lula.

Este é um ponto a se pensar, uma vez que no Brasil a mídia e, especialmente a internet, tem um poder de penetração social muito importante, particularmente entre os jovens.

Outro aspecto a considerar é que votar em Lula, para o jovem, não representaria um reflexo direto daquilo que ele fez para os jovens nos outros governos (Lula 2, Lula 2). O sistema de troca de interesses, parece que não é tão importante hoje em dia para o jovem, mas, sim o voto mais consciente, mais compartilhado com as ideias progressistas. Ou seja, se poderia resumir num depoimento de um jovem: Voto em Lula porque foi o presidente que mais se preocupou com a educação, que mais investiu na ciência e mais se sensibilizou com a inclusão de pessoas que nunca teriam acesso ao ensino superior. Não custa lembrar os programas atuais (não os antigos): 1) a efetiva reativação do FIES, 2) a nova renegociação da dívida estudantil de até 99% (Desenrola FIES, que já renegociou mais de 11,5 bilhões de reais).

Por fim, a era das narrativas falsas, Fake News, tão difundido por Bolsonaro e o bolsonarismo parece que está arrefecendo e, com isso, novas formas de pensar a política estão aparecendo no meio dos jovens. Formas mais humanistas e progressistas.

Narrativas falsas estão se tornando obsoletas:

O Brasil vai virar uma Venezuela (até agora não há sinais da veracidade desta narrativa)

O desemprego vai destruir as famílias (O desemprego no Brasil caiu a 7,5%, menor nível em 10 anos).

Para concluir, Marx, sempre acreditou que lentamente a alienação (econômica e política), entendido como uma criação do capitalismo, irá sofrer alterações (no sentido e na direção do humanismo e do igualitarismo) mediante uma mudança (certamente demorada e gradual) do entendimento do jovem (e também do camponês e do trabalhador).

O autor é professor da UEPG, graduado em Direito, Mestre em Ciência Política pela UFRGS, realizou curso de Sociologia Política na Universidade de Londres, Inglaterra.