A tarde desta segunda-feira, 20, foi dedicada ao debate virtual da terceira audiência do Fórum Nacional de Incentivo da Cadeia Leiteira, mediado pela deputada federal Aline Sleutjes, que conta com o apoio da Frente Parlamentar da Agropecuária e da Subcomissão do Leite na Câmara. A pauta contou com participantes da categoria de produção de mais de 5 mil litros por dia, que debateram propostas para impulsionar o segmento que está presente em 99% dos municípios brasileiros.
José Renato Chiari, que tem propriedade no estado de Goiás, pontuou que considera a relação comercial entre os produtores e a indústria láctea a mais frágil da cadeia do Agronegócio.
“Temos que parar de ser ‘entregadores de leite’ para sermos ‘vendedores’”, declarou ao se referir à falta de previsibilidade do valor do alimento aos produtores.
Chiari apresentou aos participantes iniciativa que, segundo ele, tem dado certo em seu estado: a chamada câmara técnica, que faz uma previsão dos preços de produtos de uma cesta de alimentos, entre eles o leite.
“Essa proposta dá mais transparência à nossa atividade e segurança para os produtores poderem fazer investimentos e gerir melhor seus negócios”, afirmou Chiari. De Minas Gerais, o produtor Ricardo Godinho destacou a necessidade de mais mídias que incentivem o consumo do alimento e valorizem a atividade leiteira no mercado nacional.
“O preço do leite no varejo aumentou nesse período de pandemia do Coronavírus, e o consumidor não sabe que isso não conta com qualquer participação dos produtores. Somos a ponta mais sensível dessa cadeia, os que ganham menos nesse processo até o alimento chegar nas prateleiras dos supermercados. Sugiro ampliação do acesso às informações sobre a nossa atividade, dados mais completos, detalhados e atualizados, pois também sentimos falta dessas demandas para sugerir políticas públicas que sejam viáveis e de acordo com a nossa realidade”, disse Godinho.
Mais investimentos em tecnologia foram cobrados pela produtora Roberta Barros, de São Paulo. Segundo ela, o gado de leite, que fornece o alimento in natura com mais qualidade, tem no Brasil um mercado de inseminação de menos de 10%.
“Linhas de crédito mais acessíveis nos colocariam em outro patamar de produtividade, pois poderíamos fazer investimentos em técnicas mais elaboradas e modernas, como a dos embriões. O Brasil também não valoriza o consumo do leite menos processado e saudável, foca nas versões industrializadas. Até mesmo nas importações levamos desvantagem, pois há uma cultura de priorizar derivados, como o leite em pó, que vem de fora”, lamentou Roberta.
O representante do Paraná foi Roberto Sleutjes, que disse estar há 37 anos na atividade. A burocracia para regularizar documentos e outras demandas foi a principal reivindicação dele, sobretudo se os processos dependerem de órgãos públicos.
“Trabalhamos os 365 dias do ano, gostaríamos que nossa rotina fosse mostrada de forma mais clara para os brasileiros. Nossa responsabilidade com a atividade, o trato com os animais, enfim, tudo isso deveria ser explorado para ampliar o acesso ao nosso segmento, e desmistificar a imagem de ‘vilão’ que o produtor do leite tem principalmente quando o alimento sofre um aumento de preço”, avaliou.
A falta de projeção nas exportações não ficou de fora das reivindicações dos participantes da audiência. Nério Ceccon, de Santa Catarina, comparou os altos investimentos para o mercado de carne bovina ao fraco protagonismo do leite no mercado internacional.
“Concordo com os demais colegas que não é aceitável entregarmos o leite sem qualquer previsão de quanto vamos receber, e a contrapartida financeira, além de só chegar após 30 ou 45 dias, é sempre aquém do esperado e do que precisamos para expandir os negócios”, declarou.
O Rio Grande do Sul teve como representante Gilberto Piccinini. Segundo ele, o mercado externo não tem confiança na qualidade do nosso leite. Além disso, Piccinini disse que versões como o leite de soja, por exemplo, acabam ganhando mais espaço no âmbito internacional.
“É muito oportuno destacar que todas as categorias devem conversar entre si. Digo isso porque temos relatos de produtores que participam do chamado Sistema Integrado de Produção, e tem dado muito certo. O objetivo é oferecer condições para um pequeno produtor testar a qualidade do seu leite de forma acessível. Por meio da compra de cotas, ele pode ter o alimento colhido em sua propriedade e avaliado, sem ter que gastar com equipamentos que realizem esse procedimento. Essas parcerias fazem com que todos sejam beneficiados”, garantiu Piccinini.
Aline Sleutjes, que é membro da diretora executiva da FPA, da Subcomissão do Leite, e conhecida como a ‘Deputada do Agro’, disse que as demandas apresentadas pelos produtores das categorias que participam do fórum serão organizadas e apresentadas na quinta etapa para o Governo Federal, visando à elaboração de um plano que foque em soluções para as dificuldades desse segmento. A parlamentar aproveitou a oportunidade para falar sobre a retirada dos invasores do MST da fazenda Capão do Cipó, no município de Castro, onde funciona o Centro de Treinamento para Pecuaristas – CTP, instituição responsável pela qualidade e tecnologia empregada no leite dos Campos Gerais e do Brasil, e onde milhares de produtores passaram por treinamentos durante 40 anos de trabalho.
“Castro é a Capital Nacional do Leite e essa rica atividade, que tem tanto potencial para crescer em pesquisas, vem sendo prejudicada por esses invasores que não permitem que o CTP possa retornar seus trabalhos de treinamento. Esse absurdo está com os dias contados, pois até o final desse ano todos eles serão retirados da Capão do Cipó e o centro funcionará de forma plena e com tranquilidade”, garantiu Sleutjes.
A próxima audiência virtual do Fórum Nacional de Incentivo da Cadeia Leiteira está agendada para 27 de julho, com representantes de cooperativas e instituições que representam o segmento e a indústria.
Informações/Foto: Assessoria de Imprensa