Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) encontraram vestígios de agrotóxicos ilegais em lambaris e suas ovas, na represa do Alagados. Dentre as substâncias encontradas nos peixes está o agrotóxico diclorodifeniltricloroetano, conhecido como DDT, banido no Brasil desde 2009.
As pesquisas são resultado de projetos vinculados ao grupo de pesquisa Química Analítica Ambiental e Sanitária. “A gente vem pesquisando o Alagados desde 2014, quando um aluno de doutorado fez uma pesquisa em relação a determinação de metais pesados nas carpas e carás do Alagados”, lembra o professor Sandro Xavier de Campos, coordenador do grupo. A pesquisa verificou concentrações de chumbo e cádmio nos órgãos desses peixes.
“Mais recentemente, uma aluna de doutorado pesquisou a respeito de agrotóxicos da classe dos organoclorados, que se enquadram à Convenção de Estocolmo em relação à eliminação de poluentes orgânicos persistentes (POPs)”, conta Campos. A pesquisa de Tatiana Roselena de Oliveira se dedicou a estudar um método analítico para determinar a contaminação de peixes por esses agrotóxicos.
Tatiana iniciou o doutorado em 2013 e sua tese foi defendida em 2018. A coleta realizada na represa do Alagados ocorreu em 2017. “Nós separamos o lambari em três partes: o músculo, a carne mesmo; as ovas e os demais órgãos, que nós chamamos de vísceras”, explica Oliveira. A análise realizada confirmou a presença de agrotóxicos organoclorados nos tecidos. “Nas vísceras e nas ovas, a concentração foi maior, pelas próprias características desses tecidos”, complementa.
Apesar das concentrações encontradas estarem dentro dos limites permitidos pela Anvisa e outros órgãos internacionais, os pesquisadores aplicaram um modelo matemático e verificaram que o consumo constante desses peixes colocaria o consumidor em grande risco de saúde. “Esses compostos têm a capacidade de se acumular no organismo e podem ser carcinogênicos”, alerta Oliveira.
“O mais alarmante é encontrar esses agrotóxicos de uso proibido há mais de 30 anos”, considera o professor. Conforme Campos, essas substâncias podem entrar no reservatório por várias vias e chegam ao fundo da represa através de sedimentação. “Os peixes vão lá, revolvem o fundo e têm contato com esses compostos. Por isso, o nome de Poluentes Orgânicos Persistentes, que podem ficar por décadas no meio ambiente”, detalha.
Apesar da análise ter focado somente nos peixes, a pesquisa também revela a contaminação da represa. “Nós detectamos esses compostos em partes por bilhão, são quantidades muito pequenas. Mas esses compostos são acumulativos e é essa detecção é preocupante”, adiciona Oliveira.