Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Sou louco por Tri, América!’, por Edgar Talevi

2021-11-26 às 10:45
Foto: Divulgação

Sou louco por Tri, América!

A caminho de Montevidéu – Uruguai, segue o sonho de milhões de torcedores, sejam eles verdes ou vermelhos, e disputam espaço nas redes sociais, nos bares, nos intervalos das escolas, do trabalho, entre amigos em um jantar, na mídia esportiva, nos clubes e, não menos, na família dos jogadores.

O futebol, alegria do povo, chega ao ápice da temporada de clubes no Brasil e na América com a finalíssima da Conmebol Libertadores, neste sábado. A ocasião nos faz lembrar do saudoso cronista Nelson Rodrigues, em sua “A Pátria de chuteiras”, no momento em que celebramos a união de torcidas que veneram a conquista máxima do futebol sul-americano.

Idealizada em 1960, a Taça Libertadores da América – hoje Conmebol Libertadores – é a competição de clubes mais importante do continente. O nome do torneio é uma homenagem aos principais líderes da independência das nações da América do Sul. E lá se foram 62 edições, culminando, neste mesmo ano – ironia da Pandemia – com o título do Palmeiras, em cima do Santos.

Antes dominada pelos argentinos, com 25 títulos, a Taça vem sido erguida por mãos brasileiras com maior frequência. Ao todo, são 10 clubes brasileiros campeões – o país com maior diversidade de clubes vencedores.

O primeiro a erguer a “desejada das gentes” – com a devida vênia de Manuel Bandeira – foi o Peñarol que, aliás, venceu as duas primeiras edições. O Santos do Rei Pelé, respondeu à altura, conquistando a América na sequência, por duas vezes seguidas. Aí foram décadas de disputas emotivas, emocionantes e emocionadas, ao mais puro sabor latino-americano.

Chegar ao lugar mais alto do pódio da Libertadores representa brilhar aos olhos do mundo e levar o elenco campeão ao mundial de clubes da Fifa. Não à toa a América valoriza, de modo incomum e diferente dos europeus, o mundial chancelado pela entidade máxima do futebol.

O ano é 2021. O país é o Uruguai. O palco, o lendário estádio Centenário. Mas o único país a ver seus representantes em campo é o Brasil. Começa uma hegemonia brasileira nas competições internacionais? A pensar ainda que a Copa Sul-Americana acaba de ser disputada entre brasileiros, com triunfo do Athletico-PR, em seu segundo título. Isso nos leva a uma Recopa 100% brasileira.

E nisso reside o fato de que a Libertadores deste ano estará em mãos brasileiras. Para além disso: a Taça estará na sala de troféus de um dos dois times que, recentemente, deram exemplo de gestão financeira, mantendo salários do elenco em dia, fortalecendo os programas de sócio-torcedor, angariando vultosas bilheterias nos jogos e investindo em contratações de peso.

O Palmeiras, emergido após as crises de rebaixamento, tendo vivido a sofreguidão do ano de 2014, restabeleceu seu protagonismo no futebol brasileiro em 2015, com a parceria firmada entre o clube e a Crefisa – maior patrocínio do Brasil – voltando às conquistas com a Copa do Brasil. Seguiram a essa realização, os feitos do campeonato brasileiro de 2016, 2018 e a Tríplice Coroa – Paulista, Copa do Brasil e Libertadores, em 2020. A América – obsessão da torcida que canta e vibra – voltou a ser realidade, depois de 21 anos de espera.

O Flamengo, outro gestor eficiente de elenco e patrocínio, conquistou ainda mais a nação – maior torcida brasileira – com o futebol arte, fruto de um treinador visionário, Jorge Jesus, que compreendeu o jeito brasileiro de apreciar o bom futebol.

A Copa do Brasil, em 2013, os campeonatos brasileiros, de 2019 e 2020, seguidos pela Libertadores, em 2019, além de títulos como Recopa, Supercopa e vários estaduais  abrilhantaram o elenco mais caro do país, com a maior torcida e o futebol mais bonito.

Duelarão, neste sábado, duas escolas/filosofias distintas de futebol. Do lado Palmeirense, encontramos o pragmatismo, o futebol-resultado, a eficiência numérica, tanto tática como em títulos. Não se espera um Palmeiras jogando para encanto de sua torcida, mas um alviverde consciente taticamente e sólido no meio-de-campo e defesa, fundamentalmente na recomposição de seus laterais, oportunizando contra-ataques puxados por Raphael Veiga, Dudu e Rony.

O Flamengo é sempre motivo de expectativa de espetáculo, embora tenha deixado escapar importantes resultados, tais como a goleada sofrida em pleno Maracanã, pela Copa do Brasil, para o Athletico-PR. Mas Flamengo é Flamengo, como diria Ronaldinho Gaúcho. E quem discutirá? Basta ver os “ensaios” para a presente final nos jogos contra o São Paulo, Bahia e Corinthians, com direito à goleada em cima do Tricolor Paulista.

Espera-se do Flamengo um jogo de posse de bola, com arrancadas de Bruno Henrique, armações arquitetadas por De Arrascaeta – voltando de lesão – e finalizações sempre precisas de Gabigol. A nação flamenguista se acostumou ao futebol arte.

Mas, estamos tratando de final de torneio continental, com prêmio de aproximadamente R$81 milhões ao campeão, além de vaga no próximo Mundial de clubes da Fifa e Recopa da Conmebol. Tudo isso em jogo único, em que qualquer erro, vacilo, saída errada de bola, falha de goleiro, pênalti, chute arriscado de fora da área pode decidir o título.

Neste contexto, estaria o Flamengo à vontade para atacar, ao estilo 2019, com voracidade, abrindo espaço ao rápido e eficiente contra-ataque Palmeirense? Poderia o Palmeiras estabelecer um jogo cauteloso, de xadrez tático, à espera da movimentação de seu criador, Raphael Veiga, e seus ligeiros contragolpeadores, Dudu e Rony? Quais serão, de fato, as escalações dos dois técnicos? Teremos conservadorismo em prol da segurança de não oportunizar ao adversário que faça um gol ou veremos duas equipes ao ataque, com disputas mais técnicas que táticas?

Crê, este colunista, que não devemos esperar um jogo brilhante, pois, afinal, criou-se o mito de que “Final não se joga; ganha-se!”. Com isso, pensemos um jogo com início estudado, com muito volume de meio-de-campo e apreensão.

Muitas são as perguntas, mas as respostas só virão às 17h deste sábado, em Montevidéu.

A única certeza, esta comemorada por todos os brasileiros, é que a Taça mais cobiçada do continente terá lugar definido: O Brasil! Vença quem vencer, a América é nossa! É do Brasil, mais uma vez!

Os dois últimos campeões, ambos bicampeões continentais, entrarão em campo para buscar o Tri da América! Seria muito dizer que Palmeiras e Flamengo são loucos por Tri, América?

A nós, expectadores e amantes do futebol, a torcida e o entretenimento! Ao campeão, A Glória Eterna!

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.