Sábado, 28 de Dezembro de 2024

Coluna Draft: “Acabou o ‘Fim de Semana’ ou ‘Final de Semana?'”, por Edgar Talevi

2024-11-25 às 09:57

Muitos lamentam, mas a conclusão a que chegamos é única: acabou o “Fim de semana”. Ou seria o “Final de semana?” Recorramos à gramática dos concursos e da norma culta da Língua Portuguesa!

O sentido do termo “Fim de semana” é uma expressão consagrada que indica um tempo de descanso, longe do trabalho, tendo início na sexta-feira à noite e se encerrando segunda-feira pela manhã.

Por outro lado, o vocábulo “final” tem sentido de última parte de alguma coisa, ideia presente em expressões, como: final de dia, final de século. Sendo assim, em que pese o sentido mais restrito e “ao pé da letra”, a expressão “Final de semana” só poderia ser usada ao compreender a extensão que vai até a última hora do sábado, haja vista domingo ser o primeiro dia de outra semana.

Deste modo, o mais usual e abrangente, é lançarmos mão da expressão “Fim de semana”. Pronto! Caso resolvido!

Mas, as curiosidades estão longe de serem por completo dirimidas, independente de novas circunstâncias contextuais. Aqui surge nova dúvida: “independente de” ou “independentemente de”? Vejamos: “Independente” pode ser uma qualidade ou estado (adjetivo, portanto), ao passo que “independentemente” é advérbio de modo. Sendo assim, prefiramos: “Com que idade uma pessoa pode se tornar independente dos pais?”; “Independentemente de nossa condição financeira, iremos até o fim de nossas expectativas”.

Em princípio, casos como os acima mencionados são facilmente resolvidos com algumas poucas leituras e pesquisas nas gramáticas da vida. Opa! Mais uma novidade! “Em princípio” equivale a “A princípio?” Não necessariamente: A palavra “princípio” pode se referir à ideologia e valores, como ao começo de alguma coisa. Daí a diferença no uso escrito ou falado.

Ao grafarmos ou falarmos, optemos pelas seguintes construções: “A princípio, pensava-se que a Terra era o centro de todas as coisas no Universo”; “A arte é, em princípio, uma condição humana fundamental”.

Outra curiosidade, que se torna basilar na escrita é em relação ao uso de “haja” e “aja”. A diferença entre ambas é enorme. “Haja” vem do verbo haver. “Aja”, do verbo agir: “Mesmo que haja risco, vale a pena investir nisso”; “Para que a empresa se recupere da crise, é preciso que todos ajam corretamente”.

Façamos, neste momento, um “Aparte” para sanar outra dúvida, justamente sobre a diferença entre “Aparte” e “à parte”. O termo “Aparte” equivale a um comentário isolado, como se fosse um parêntese em um discurso. Por sua vez, “À parte” é aquilo que já está ou vai ser separado: “Ele não mantém seu raciocínio e faz apartes desnecessários o tempo todo”; “Minhas compras pessoais precisam ser feitas à parte em relação às dela”.

Hoje, segunda-feira, comecemos felizes, com todo o bem que a gramática pode nos propiciar, por meio das palavras de Israel Saraiva: “Escrevo errado para você entender o que é certo”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.