Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Agradeça, mas não seja direto(a)!’, por Edgar Talevi

2022-01-14 às 10:19

Agradeça, mas não seja direto(a)!

Sejamos gratos da maneira correta! Se você ficou curioso(a), certamente fará bem ao ler esta crônica. Pois, vejamos: Agradecer a alguém também equivale a seguir algumas regrinhas gramaticais de nosso idioma. Quando usarmos o verbo agradecer, lembremos de que ele é bitransitivo, ou seja, poderá ser direto ou indireto.

Simplificando: podemos usá-lo com objeto direto (sem preposição) ou indireto (com preposição). Ex. Agradeceu o presente ao amigo; agradecemos o cuidado ao professor. Notemos que, em todos os casos, existe “o objeto” do agradecimento e “a quem” agradeço. Sendo assim, eu agradeço “algo” “a alguém”. Usamos sempre uma preposição antes da pessoa digna de agradecimento, pois quem agradece, agradece “a alguém”. Simples assim!

Outros verbos também nos pregam peças. Percebamos o verbo Assistir. Quando denota “ver”, rege o uso de preposição: Assisto ao filme; assistimos à peça teatral (crase devido à fusão de preposição mais artigo feminino). No entanto, quando o verbo assistir estiver no sentido de “ajudar”, deverá ser usado sem preposição: O médico assiste o doente; o professor de Língua Portuguesa assistiu o aluno nas tarefas.

Indo além, é fácil encontrar mais verbos que podem gerar curiosidade. O verbo “chegar” é um caso. Costumeiramente usamos “chegar em” algum lugar, mas o adequado é “chegar a” algum lugar, portanto, usemos: Cheguei à minha casa cedo ontem; chegamos ao colégio.

Deste modo, procuremos obedecer à nossa Língua Portuguesa, pois ela sempre tem razão! Opa! Obedecer é outro verbo danado! Quem obedece, obedece “a alguém”. Assim, escrevamos e digamos: Obedeço às ordens de meu chefe (acento indicativo de crase, por ser verbo indireto); obedecemos aos mandamentos bíblicos.

Vamos mais! “Aspirar” também pode causar dúvida! Afinal, poderá ter dois sentidos. Primeiro: sentido de respirar, inalar – usamos sem preposição: Aspirou o ar puro. Segundo: sentido de pretender – com preposição: Aspirou ao cargo de chefia. A presença ou não da preposição altera significativamente o sentido do verbo, mudando, da mesma forma, a lógica da mensagem do enunciado.

“Namorar” é um exemplo de verbo muito usado, mas pouco aproveitado! O correto, segundo as regras da Língua Portuguesa, é usá-lo como transitivo direto: Namorou Maria durante anos; Quer namorá-lo(a)?

Embora possa, em alguns casos, ser usado com pronome oblíquo átono, evitemos a seguinte construção: Quer namorar comigo? Se assim fosse, o sentido estaria indicando que eu convidei alguém para namorar “comigo”, mas não a mim. Digamos, portanto: Quer “me” namorar? Romântico e direto, não é mesmo?

Cuidado também devemos ter com o verbo preferir. Sempre que o utilizarmos, deverá ser da seguinte forma: Prefiro carne “a” peixe; prefiro futebol “a” vôlei. Notemos que, quem prefere, prefere algo “a” alguma coisa. Evitemos a todo custo a forma: “Prefiro futebol do que vôlei”.

E, não podemos deixar de lembrar do verbo pagar. Quem paga, paga algo a alguém. Ex. Paguei o sorvete ao atendente; paguei a conta ao garçom. Sempre pagamos algo (sem preposição), a alguém (com preposição).

Não faltam motivos para gostarmos cada vez mais da Língua Portuguesa, afinal, ela pode ter suas peripécias, mas jamais será monótona!

Despeçamo-nos com as palavras do novo imortal da Academia Brasileira de Letras, Gilberto Gil: “A língua fala por si (…). A língua é nossa mãe”.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.