É Proibido ir “no” banheiro!
– Professor, posso ir no banheiro?
– Refaça a frase, com a devida correção, e eu permito.
– Então, deixe, professor! Eu “seguro” até a hora do recreio!
Quem já não deparou com a frase acima, com o uso da preposição em + o, em detrimento de a + o? Pois, explico: A norma culta da Língua Portuguesa admite a regência da preposição “a” com o verbo ir, portanto, o modo gramaticalmente aceito, dentro do paradigma normativo, é: – “Posso ir ao banheiro”?
Mas, não se engane, o prezado leitor, ao pensar que o enigma de nossa Língua Pátria para por aí. Pôde-se notar que o verbo deparar, na forma flexionada “deparou”, no pretérito perfeito do indicativo, está sem pronome oblíquo átono “se” antecedente. Isso está perfeitamente bem aplicado, pois quem depara, depara com, não “se” depara com algo. Percebe?
No entanto, seria suicídio falar diverso do que expõe este colunista? De modo algum, desde que ninguém “se” suicide por equívoco. Isso mesmo! Quem suicida, não precisa do pronome reflexivo “se”, pois, a rigor, o verbo é pronominal, ou, segundo alguns gramáticos, intransitivo, não necessitando de complemento. Ademais, a etimologia do vocábulo tem guarida no latim, a saber, sui e caedere, ou seja, matar a si mesmo.
E, se ao invés de suicidar, houvesse outro termo? Aí, peço desculpas, mas somente se o termo fosse referente a “dar a vida”, porque ao invés de significa ao contrário de: “Ao invés de entrar, saiu”. Usa-se ao invés somente quando o sentido for antônimo. Para os demais casos, opte-se por em vez de: “Em vez de sentar-se na cadeira, preferiu o banco”.
Ah, diria o leitor, mas isso foi há muito tempo atrás. DISCORDO! O verbo haver, no sentido de tempo decorrido, não aceita redundância, portanto, diga-se: “Isso foi há muito tempo”, sem o termo atrás.
Genial, não é mesmo? Mas, continua a ser nada haver com o que falamos no dia a dia. Novamente interpelo! Nada a ver é a forma padrão, por isso evite-se nada haver, pois seria nada a ver, entende?
Sendo assim, se você, prezado leitor, ver ou ouvir alguém tropeçar nas palavras, cuidado! Isso é contagiante! Ah, mais uma avença! O verbo ver, no futuro do subjuntivo, fica corretamente flexionado assim: “Se você vir”! Exatamente isso que você leu: “Se você vir”! O verbo em questão, no futuro do subjuntivo, é irregular.
Nada como se a gramática pudesse ser entregue à domicílio! Ops! Mais um deslize! Quem entrega, entrega algo a alguém, em algum lugar, portanto: “Entrega em domicílio”! Além do mais, acento grave indicativo de crase não cabe antes de palavra masculina, diriam Celso Cunha e Evanildo Bechara.
Passemos a olhar a gramática sem descriminá-la, porém, discriminando seus devidos usos e apontamentos. Note, o prezado leitor, que descriminar equivale a “evitar, tirar o crime, e discriminar significa pormenorizar, categorizar.
Ademais, se o atento leitor tiver salvado as informações aqui contidas, elas estarão salvas! Aqui vai mais um detalhe: Com os verbos ter e haver, use particípio regular, qual seja, ado, ido: “Tinha salvado; havia acendido”. Com os verbos ser e estar, prefira o particípio irregular: “Foi salvo; está pago”.
Como soa bem a gramática bem executada! Soa, do verbo soar, fazer barulho, porque suar tem o sentido de transpirar, pelo que, em tese, todos passamos, por ser tão vultosa nossa Língua Portuguesa! E dizer vultosa está correto, senão, veja que este adjetivo denota imponência. Caso quiséssemos dizer que nosso bom e velho Português é inchado, poderíamos usar o termo vultuoso. De qualquer maneira, nosso idioma não deixa de estar cheio de manhas e manias, pelas quais nos vemos fadados a eterno exercício de estudo e reflexão.
Reger, flexionar, grafar, acentuar, enfim, dispor da Língua Portuguesa é mister de todos nós! Mas, não abandonemos a nossa glosa em razão de normas, concordam?
Deste modo, de tudo que foi dito, prezado leitor, consideremos a frase célebre de um dos maiores escritores de mistério, aventura e, ao mesmo, tempo, peripécias através de suas personagens: Arthur Conan Doyle, o “pai” de Sherlock Holmes:
“Como regra (…) quanto mais uma coisa é bizarra, menos misteriosa ela tende a ser”