Sexta-feira, 26 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘Jesus Cristo: uma morte para a Vida!’, por Edgar Talevi

2022-04-15 às 10:29

Jesus Cristo: uma morte para a Vida!

 

A mensagem da cruz, revelada pela lembrança que o dia de hoje, Sexta-feira Santa, traz, eleva o espírito humano à transcendentalidade a que todos têm acesso quando percebem que esta vida não é um mero acaso, tampouco frívola e desprovida de razão.

O desespero humano, criado pela crise da concepção da existência, gera incertezas, causa torpor, mas facilmente se dissipa pelo conhecimento da revelação consagrada pela Paixão de Cristo, anunciada em seus dias de maior sofrimento nesta Terra.

Sören Kierkegaard, filósofo existencialista, em sua obra “O Desespero Humano”, afirma: “(…) o homem traz em seu estado latente uma enfermidade, da qual, num relâmpago, raramente um medo inexplicável lhe revela a presença interna.” A ideia da própria existência do “eu”, para o autor, evidencia o caráter inexpugnável do medo que a morte, verdade inescapável, causa na psique humana.

Destarte, há motivo de despertamento de uma espiritualidade que prevalece sobre o espanto do existir, promovendo a vida a muito mais que sobreviver. Aqui reside a mensagem legada por Cristo, em sua morte, para gerar vida.

Nada obsta a que a pluralidade das matrizes religiosas e crenças divirjam em sua liturgia, conceitos e concepções de mundo no contexto da Páscoa, haja vista a espiritualidade não estar resumida a uma só vertente religiosa. Entretanto, Cristo, Messias para os cristãos, profeta para outras tendências religiosas e homem de caráter ilibado para todos perpassa a humanidade com a singeleza do elevado altruísmo que sua vida terrena demonstrou.

O entendimento da mensagem da Páscoa começa por sua história. Comemorada pelos hebreus, em momento próximo à época que marcava a primavera, simbolizava, na tradição judaica, a libertação da escravidão do Egito.

Para o mundo cristianizado, embora de raízes judaicas, o significado da Páscoa é a rememoração dos três dias da morte de Cristo até sua ressurreição. A ressurreição de Jesus é um dos principais pilares da fé cristã e pregação constante nas cartas paulinas, no Novo Testamento.

Porém, em um mundo multifacetado, pós-moderno, na era da pós-verdade ou da modernidade líquida, como pensa o sociólogo Zygmunt Bauman, de que forma se insere a mensagem/significado da Páscoa dentro das esferas sociais?

A humanidade sempre criou para si deuses – o homem, para alguns, é seu próprio deus -, além de sistemas religiosos e formas de adoração. Todas com suas devidas formas cúlticas de grande importância histórica, cultural, artística e social.

O judaísmo, por sua vez, e mais tarde o cristianismo, que cresceu em cenário de conflitos conceituais com seu berço judaico e o movimento gnóstico do primeiro século, é mais um exemplo das subjetividades espirituais da humanidade. Mas, afinal, qual seria a grande singularidade do que Cristo viveu para tempos atuais?

A resposta é que nenhum fato novo, de maior robustez ou envergadura ética ou moral foi desenvolvido pelo ser humano que superasse a revelação máxima do mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22:38). As páginas das Escrituras Sagradas registraram e resgataram a ressignificação da existência ao categorizar que no outro eu percebo a mim mesmo, portanto, serei eterno enquanto o amor em mim existir.

E, exatamente neste contexto de amor desprovido de barganha, que não pede reciprocidade, mas consegue alcançá-la por meio da libertação de todo egoísmo e narcisismo, que Cristo universalizou sua mensagem e definiu o calendário em a.C. e d.C.

Para os cristãos, de modo especial, segundo o teólogo Presbiteriano Hernandes Dias Lopes, em sua obra “Morte na Panela”: “Precisamos compreender que a vida do cristão é a vida do seu cristianismo.” No sentido apregoado pelo autor, não basta ao seguidor de Cristo uma vida que colapsa com seus princípios fundamentais, dentre os quais a relevância do amor ao próximo.

A prática de uma vida devota em todas as esferas de que fizer parte um indivíduo deverá litigar contra a apostasia dos erros contra a humanidade, tais como violência, mentira, intolerância, preconceitos, racismo dentre outros.

Viver a Páscoa de Cristo é lembrar de que a escravidão já passou. Lembrar a morte e a Ressurreição de Cristo é tornar lúcido seu amor a um mundo em turbulência e egolatria.

Nesta perspectiva, é basilar que entendamos que, mesmo que discordemos em aspectos políticos, ideológicos e sociais, temos o dever de agir conforme a égide de uma vida proba, sem o pedantismo da autoafirmação e da busca por razão acima de todas as coisas.

Tal conceito, de estabelecimento da razão como virtude, é conceito da pós-modernidade, em que a privatização lança mão, até mesmo, dos conceitos mais subjetivos, em que novas “verdades” e equivocidades se pavimentam em solo arenoso.

Deste modo, faz-se necessária sempre a reflexão de qual fonte temos nos alimentado. Na mesma obra supracitada, Hernandes Dias Lopes assegura: “Uma pessoa fica desnutrida de duas formas: comendo pouco ou comendo muito coisa errada. A morte começa na panela.”

A superação de nossas fraquezas pode acontecer quando nos dispusermos a levar adiante a virtude do desprendimento e da beneficência. O maior legado que o homem deixa à sua posteridade é sua alma, seus valores e sua ética, de que constam os mais amplos exemplos de riqueza espiritual que se pode conceber.

Hoje, ao lembrarmos a morte de Cristo, e domingo, sua Ressurreição, ressignifiquemos nossas vidas de acordo com o que o próprio Messias pretendeu ao dar a si mesmo em favor de muitos: Levar a humanidade, morta em egoísmo, à vida, no amor e cuidado ao próximo.

“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.” – Jesus Cristo, em Mateus 15:13.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.