Sábado, 27 de Abril de 2024

Coluna Draft: ‘“Lula no Céu, Bolsonaro na Terra!’, por Edgar Talevi

2022-05-09 às 10:53

As eleições Presidenciais deste ano serão movidas à emoção e ao sentimento de pertença a determinados grupos que compõem o novo cenário ideológico brasileiro.

Talvez o conceito de “ideologia” não se adeque mais à fenomenologia política que se percebe nas ruas, nos movimentos sociais, nas conjunturas partidárias, principalmente no que respeita às composições que disputarão o tão esperado pleito de 2022.

Razões para acreditar nisso não faltam, a saber, um desvencilhar cada vez mais constante em termos de utopias e ideais que poderiam ter força de perpassar a sociedade e seus nichos em um novo ciclo no processo civilizatório. Não obstante, não se pode esperar além do que cada brasileiro pede, e com urgência, como a diminuição de preços, mediante controle rigoroso da inflação, e isso não apenas com a persistente política de alta de juros da SELIC, diminuindo o acesso a crédito e, deste modo, obstruindo o caminho de pequenas empresas à retomada de seus investimentos pós-pandemia; política austera na área da macroeconomia, de modo a aquecer novamente o mercado de empregos; gestão eficiente na Educação, pasta imprescindível à construção de um país moderno e emancipador; investimentos assegurados na ciência, por meio da Pesquisa e Pós-graduação etc. etc. e segue etc.

Nesta perspectiva, cabe uma sucinta reflexão das Pré-candidaturas anunciadas ao Palácio do Planalto. Em contínua desaceleração dentro das pesquisas de intenção de votos, uma terceira via ainda não permite que se sonhe com o despertar de algo “novo”, com a devida vênia do vocábulo aqui usado, pois o que se lançou como novidade em 2018 foi o fenômeno dos outsiders, que hoje não prosperam à realidade da velha guarda do fazer política na bicameral roda de parlamentares brasileiros e nos arredores Palacianos.

Sendo assim, resta provado que haverá, ao menos por enquanto, o dualismo Lula versus Bolsonaro. Eles contra nós, para alguns. Pátria repartida, dividida, em luta, em luto.

Mas, uma diferença fundamental na dialética da construção da imagem das duas candidaturas e das pretensões dos dois supracitados protagonistas do contexto Presidencial de Outubro deste ano não se trata de ideologia, mas de puro entendimento de a quê viemos? Aonde queremos chegar? A quem falamos? Qual nossa mensagem e sua repercussão? Como esta reverbera? Está, de fato, atingindo o público em suas residências?

Se não, veja-se: Lula, outrora paz e amor, busca, em nome de uma composição pragmática para ascender ao poder pela terceira vez, uma união de forças com setores inimagináveis em tempos passados. Um ex-tucano em sua vice é a demonstração de oportunismo/oportunidade eleitoral que se confunde com fisiologismo, e não vanguarda de desenvolvimento programático de soluções para as pautas da nação. Embora simbolize uma candidatura que apense um grupo de eleitores que não querem correr o risco de uma ruptura institucional no país, Lula navega em águas turvas.

Ao aceitar depor contra a reforma trabalhista de Michel Temer e promover um discurso de revogação desta, Lula se aproximou do PSOL, garantindo o apoio deste à sua candidatura. Neste ínterim, pautas sensíveis a uma nação majoritariamente conservadora, como o aborto, gera elementos de inquietação dentro do próprio círculo da campanha petista. Como receber votos do eleitorado mais à direita, que está ainda indeciso, porém depende de um aceno prático a suas demandas para decidir seu voto?!

Parece que Lula, ao pautar temas que o enveredam à esquerda, agrada a seus pares intracorporis, agrega partidos que, necessariamente, nem que seja por voto útil, iriam com ele em um eventual segundo turno. Sendo assim, Lula está em outra Planeta, ou falando às avessas do que é necessário.

Ao lado de uma nova direita, Bolsonaro, mesmo com discursos polêmicos, cheios de rudeza, em dados momentos, tido por muitos como negacionistas, anticiência e autoritários, tais como a medida da “graça” Presidencial concedida a seu aliado político, o deputado Daniel Silveira, está propenso a receber mais votos de um eleitorado hoje indeciso, que não se vê em aventuras nem quer viver um sectarismo, uma segregação religiosa que a agenda progressista poderia trazer ao Brasil. Na dúvida, fica como está! Não que seja correto, tampouco errado, mas é o pensamento de muitos, e estes podem decidir uma eleição apertada.

Ambos jogam para a plateia. Ambos agradam a seus pares. Ambos prevalecem em seus nichos. Ambos perdem apreço de seus opositores. Ambos terão de convencer novos admiradores, ou, quem sabe, votos úteis. Ambos dependem dos indecisos. Ambos ganham e perdem todos os dias, conforme falam ou calam. Um joga contra o outro. Ambos, em algum momento, ao falarem, ajudam ou já ajudaram o outro.

Quem perde com ambos? O Brasil!

Lula está no campo da utopia, das ideias soltas! Bolsonaro se encontra na prática da política pura – quem diria? – como deveria há muitos anos.

Quem salvará o Brasil? Ambos, se tiverem a coragem de desistir do Planalto e viver a República!

as opiniões expressadas por nossos colunistas não refletem, necessariamente,
o posicionamento do portal D’Ponta News.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.