Sábado, 04 de Maio de 2024

Coluna Draft: ‘O melhor presente de Natal’, por Edgar Talevi

2023-12-25 às 10:56

25 de dezembro possui uma magia, um encanto que assombra a humanidade, ao menos o mundo ocidental, com a força da data magna do cristianismo. Não é simplista ousar dizer que vivemos o espírito de Natal, afinal, a filantropia, as promessas a si próprio e ao próximo, os pedidos de perdão, as festas, os presentes, as reuniões familiares, confraternizações entre colegas de trabalho, amigos, tudo se resume a uma só coisa: comemorar um tempo célebre!

Devido a esse espírito natalino, tudo se move ao nosso redor, senão vejamos a economia, cada vez mais demonstrando o poder de dar ao outro um sabor especial do que sentimos a partir do ato de presentear. Nada há de errado nisso, pelo contrário, precisamos do contato humano e fraterno a ponto de evidenciar a alegria de compartilhar nossas vidas com alguém. Porém, fica uma grande questão a ser respondida: qual seria o melhor presente que poderíamos dar a alguém e a nós mesmos neste Natal?

A resposta, certamente, passa por muita reflexão, mas tenho a certeza de que todos, menor ou maior grau, concordamos com ela, a saber, o TEMPO!

Sim, simplesmente o tempo. O tempo é a única commoditie que nenhuma pessoa, por mais rica que seja, mesmo bilionária, não pode comprar. Ou aproveitamos bem o tempo ou corremos o risco de perdê-lo para sempre, sendo impossível recuperá-lo.

Entretanto, de que se trata, exatamente, esse tempo? Uma definição dada por Agostinho de Hipona, um dos maiores teólogos da história, em suas “Confissões”, serve-nos de base: “Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu o sei; mas se me perguntam, e quero explicar, não sei mais ainda. Contudo eu o declaro sem hesitar, e sei que, se nada passasse, não haveria tempo passado; que se nada sucedesse, não haveria tempo futuro; e que se nada existisse atualmente, não haveria tempo presente”.

Observando o pensamento de Agostinho, é natural que não haja em nós, como não houve no grande teólogo, uma compreensão nítida do que venha a ser o altamente subjetivo e abstrato sentido do termo tempo. Entretanto, é possível entender que o tempo nos domina, a menos que vivamos cada dia por sua vez, sem a dependência do passado nem a ansiedade do futuro. Somos o presente. Todo excesso de passado gera depressão e todo volume impetuoso de futuro, ansiedade.

As Escrituras Sagradas, livro máximo do cristianismo, na carta do apóstolo Paulo aos Efésios, 5: 16, orienta-nos a “remir” o tempo. A exatidão do pensamento de Paulo não é conhecida, mas pode ser refletida através de nossas atitudes diárias.

Quanto tempo dedicamos aos nossos cônjuges? Nós, de fato, vivemos um relacionamento a dois ou apenas outorgamos ao tempo a cura para nossas feridas? O quanto nós entregamos de nosso tempo aos filhos? Seriam os presentes materiais compensações de nossa ausência, como se pudéssemos comprar o amor e substituir a nossa presença? Como estão nossas amizades, ou nosso círculo de trabalho? Até onde iremos dispostos a “matar” o tempo, abandonando nossa presença pelo ritmo acelerado do cotidiano?

Parece clichê a frase de que ninguém sai vivo desta vida, mas a verdade é que ninguém vive a vida sem que experimente um tempo para si e para o outro. O tempo decola e os dias eternizam nossa passagem por esta vida. Desta forma, a melhor maneira de presentear a quem amamos é estar juntos. E isso, não necessariamente, precisa ser pessoalmente, até pela limitação que a vida nos impõe, seja pelas dificuldades que se avolumam ou localização geográfica, mas que busquemos, através dos mecanismos possíveis, o contato com aquelas pessoas que fazem parte de nosso tempo de vida.

Nenhum presente é maior que a presença, pois dinheiro algum compra a verdadeira amizade. Todos os dias possuem 24 horas, tanto ao rico como ao pobre, portanto, comemore o Natal, festeje com responsabilidade, presenteie com tudo que puder comprar, mas não esqueça de que o tempo não deixa que o tempo volte atrás no tempo.

Neste Natal, você é o melhor presente! Dê seu tempo a quem você ama, pois todo dia é, forçosamente, uma despedida.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.