Quinta-feira, 10 de Outubro de 2024

Coluna Draft: ‘O outro homem que tentou matar Bolsonaro!’, por Edgar Talevi

2022-02-09 às 10:27
Foto: Fernando Bizerra/JREFE

O outro homem que tentou matar Bolsonaro!

Os vieses inconscientes são, geralmente, tendências ou preconceitos de uma pessoa a favor ou contra algo ou outrem, até mesmo obstando-se contra um grupo diverso do seu, divergindo no respeitante ao ponto de vista e julgamentos, bem como pensamentos e ideias relacionadas a experiências passadas. Isso afeta diretamente nossa concepção emocional, social e política.

Fruto disso é a polarização que sobrevém ao Brasil no trato eleitoral desde que 2018 elegeu seus representantes. No presente ano, o debate ganha contornos psicológicos infirmes, periculosos e temerários. É necessária profunda reflexão do momento por que passamos para que tenhamos o equilíbrio adequado nos relacionamentos e, principalmente, nas decisões a serem tomadas como sociedade e civilização.

É neste cenário que encontramos narrativas tergiversadas por onde passam enredos estapafúrdios e prejudicam a compreensão da concreção/abstração dos fatos/ilusões.

Aos 6 de setembro de 2018, o então Deputado Federal Jair Messias Bolsonaro (PSL) sofreu grotesco, desumano, violento, covarde e abjeto atentado contra sua vida, por meio de um golpe de faca, desferido por Adélio Bispo de Oliveira. O ato foi realizado, segundo o autor do atentado, por teorias de conspirações políticas e a mando de “deus”. Preso em flagrante pela Polícia Federal, Adélio teve seu processo penal iniciado, com a prisão preventiva convertida em internação por tempo indeterminado na penitenciária federal de Campo Grande, em 2019.

Como afirmado acima, o ataque foi uma brutal e torpe tentativa de assassinato que merece punição nos termos da lei, seguindo os ritos do devido processo legal. Se mais arguições, oitivas ou diligências se fizerem necessárias para que se descubram novidades sobre o caso, as instituições a quem cabe o andamento do litígio, certamente não pouparão esforços em fazê-las. O Brasil vive uma democracia e possui instituições fortes e resilientes.

Mas, falamos apenas da pessoa humana, do homem Jair Messias Bolsonaro, a quem, graças a Deus e à ciência, ao tratamento médico imediato realizado e, devido às intervenções médicas posteriores, foi salvo. Garantiu-se o direito inalienável à vida. Que se reafirme a dignidade da pessoa humana e se obste toda tentativa de furtá-la.

O que nos cabe, neste ínterim, é entender quem é o “Outro” homem que tentou matar o “Político” Jair Messias Bolsonaro (PL) e, talvez, ainda não tenha desistido. Para entendermos o contexto, vejamos: Capitão reformado, Bolsonaro foi Deputado Federal por 7 (SETE) mandatos, entre 1991 e 2018, sendo eleito através de diversos partidos políticos em sua longa carreira política. Por justa curiosidade e argúcia, saibamos aos quais partidos o atual gestor da República foi filiado: PDC (1989 a 1993); PPR (1993-1995); PPB (1995-2003); PTB (2003-2005); PFL (2005); PP (2005-2016); PSC (2016-2018); PSL (2018-2019); Sem partido (2019-2021); PL (2021 …). Lembremos de que o Presidente ainda tentou viabilizar o ALIANÇA pelo Brasil, natimorto.

Três filhos do Presidente também seguiram os passos da extensa carreira política do pai e tornaram-se atores políticos, quais sejam: Carlos Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro.

Mas, afinal, qual o problema em ter uma vultosa lista de partidos políticos em sua robusta carreira como Deputado, mesmo que do baixo clero? Nenhuma! Entretanto, o político Jair Bolsonaro viu seus “ideais” imergirem em polêmicas e desafetos, erodindo dia após dia seu mandato e, fundamentalmente, sua liderança política. Por liderança política entendamos governabilidade, que é sinônimo de maturidade política e estruturação lógica para compor e articular no Congresso bicameral brasileiro.

Desvendemos o mistério! O homem que tentou e ainda tenta matar Jair Bolsonaro é “Ele próprio”! O Político Jair Bolsonaro. Não o homem, a pessoa, mas o político de carreira, acostumado à casa de leis e “cria” da política.

Ao encabeçar o movimento antipetista após Dilma Rousseff, Bolsonaro surfou no conservadorismo, em suas pautas comportamentais avessas à agenda progressista como se fosse o ideólogo da nova direita. Porém, o tempo e o casuísmo provaram o contrário: nunca houve ideal. Nunca se experimentou ideologia ou conceito sociologicamente fundamentado de modo a salvaguardar um paradigma novo de embate político que contemplasse o novo espectro social movido pela deflagração da derrocada da esquerda no Brasil. A mira esteve sempre sobre o PT e a esquerda, mas jamais se observou método na “razão” do liberalismo de “centro-direita” que se “costurou” para governar o Brasil. Sem método, possuindo apenas um objeto, a saber, a derrota da esquerda (digamos esquerdas, pois no Brasil o campo progressista padece de identificação uniforme), a ciência política da nova direita facilmente incorporou a “extrema direita”, e aí a desventura teve início.

Eleito em 2018, sem participações em debates eleitorais fundamentais, Bolsonaro compôs, na largada, ampla bancada temática no Congresso. Seria a grande oportunidade de mesclar interesses e costurar apoios. O que se viu, no entanto, foi a antipolítica. Perdeu-se o timing da articulação, pondo à prova a própria aprovação da Reforma da Previdência, que somente passou na Câmara por força política de Rodrigo Maia, ex-presidente da casa.

Bolsonaro deixou de governar com o apoio de Maia. Não houve tato político para uma fecunda aproximação, tampouco apoiamento dentro da Câmara dos Deputados, dificultando a aprovação e andamento de pautas elementares à governabilidade.

Ademais, Davi Alcolumbre, ex-presidente do Senado Federal, não cedeu à tentação de render-se ao Planalto e chegou a devolver a MPV 979/2020, em um gesto de iminente ruptura de composição política. O estrago estava feito.

Pelo caminho, ainda, ficaram diversos dissidentes e, pela tendência eleitoral do momento, novos desfalques ocorrerão em breve. João Amoêdo (NOVO) abandonou a base de apoio do governo. O movimento MBL (força de direita) já não dialoga com o Planalto no mesmo idioma há tempos. A Deputada Federal Joyce Hasselmann, ex-líder do governo na Câmara, desembarcou da base.

Outrora Ministro e ex-aliado do governo, o General Santos Cruz (PODEMOS), durante entrevista ao site UOL, chamou seu ex-patrão de “sem-vergonha e traidor”. Casos ainda mais veementes são do ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, dissidente e hoje Presidenciável. Luiz Henrique Mandetta também compõe a lista de atuais desafetos de Bolsonaro.

Não bastasse a lista supracitada que não contempla a totalidade de desertores, Bolsonaro coleciona derrotas em seu nicho ideológico ao abrir espaço ao antes criticado e demonizado “toma-lá-dá-cá” com os partidos do “Centrão”, por meio de cargos e emendas parlamentares, cujo fim é a aprovação de pautas sensíveis ao governo e evitar possível processo de impeachment.

A própria instituição da reeleição, tão severamente criticada pelo Presidente, que garantiu ser contra a ideia, percebe-se que não passou de bravata, pois o próprio está mais Presidenciável que em 2018.

Aos poucos o campo da nova direita envergou ao extremo conservadorismo apático, movido a paixão, sem método, com objetos indefinidos e não palpáveis, intangíveis, compondo um cabedal de disputa retórica digna de um enredo Homérico, mas com final disfórico.

O homem que tenta matar Bolsonaro hoje é o político Jair Messias Bolsonaro. Sua base de sustentação eleitoral arrefece a cada pesquisa de intenção de votos. Muitos ainda mantêm o apoio ao Presidente, mas, infelizmente, a pauta de alguns moveu-se ao negacionismo acéfalo e despótico, sem considerar a realidade do desconforto da agenda econômica e social pela qual atravessa o país.

O político Jair Bolsonaro trai a si próprio e à sua base que o elegeu em 2018. Trairia novamente, caso eleito seja em 2022?

Do outro lado, Lula, em sua visão estrategicamente mais ampla (não necessariamente melhor ou mais qualificada), angaria votos e fortalece seu discurso, abastecendo seu público pelo combustível fornecido pelo próprio Bolsonaro, em suas falas pouco polidas e mal formuladas, quase sempre sem preparo retórico. Bolsonaro prepara contra si sua própria derrota ao manter-se fiel a si próprio, sem cumprir o básico da política em que se criou – o diálogo.

Deste modo, Lula prevalece nas intenções de voto, com base sólida constituída. Bolsonaro também tem seu apoiamento, mas se vê tendo de romper cada vez mais com seus antigos discursos de 2018, que culminou em vitória.

Sérgio Moro, João Doria, Ciro Gomes e Simone Tebet permanecem com base móvel, com eleitorado pendendo ao voto útil, a fim de dar números finais à eleição o quanto antes.

A saber: quem herdará mais votos da terceira via? Lula declama ao calar-se! Bolsonaro atenta contra sua própria carreira política ao discursar e conjugar o verbo “ideologizar”.

Resta-nos saber: quem imporá limites ao homem que tenta contra a vida política de Jair Messias Bolsonaro? Terá ele limites contra si mesmo?

O livro décimo, das famosas “Confissões”, de Santo Agostinho, reclama ao mundo: “A língua dos homens é uma fornalha onde todos os dias somos postos à prova. Também neste ponto mandas (Deus) que sejamos senhores de nós mesmos”.

as opiniões expressadas por nossos colunistas não refletem, necessariamente,
o posicionamento do portal D’Ponta News.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.