Domingo, 17 de Novembro de 2024

Coluna Draft: ‘Relaxe, ele é “de menor”!’, por Edgar Talevi

2021-10-01 às 09:31

Relaxe, ele é “de menor”!

Muitos de nós ouvimos que determinada pessoa não pode ser presa, pois é “de menor”. Nada nos deixa mais aturdidos que uma frase dessa, pois o termo “de menor”, simplesmente, não existe. O correto é: ele é “menor”. Acredito que seja mais fácil dessa maneira, concordam?

Aliás, usei, propositadamente, o verbo ser, adequadamente flexionado, na forma “seja”, mesmo que haja usos indevidos do “seje”, tais como: “Que ele seje feliz”. Perdoai-nos, Guimarães Rosa, tapeceiro linguístico da Língua Portuguesa.

Preocupo-me, prezado leitor, com que quando eu tiver saído desta crônica, muitos deixem de sentir minha falta, afinal, quanta regrinha eu apresento, não é mesmo? Mas, aqui, faço uma pausa para, novamente, apresentar mais uma dessas tantas normas vigentes na gramática de nossa Língua: o sintagma “tiver saído” está empregado corretamente. Se, pelo contrário, eu escrevesse: “estiver saído”, teria cometido uma gafe, não imperdoável, creio, mas evitável.

Para a regra supracitada, serve-nos a seguinte dica: tiver e tivesse podem ser substituídos por houver e houvesse. Assim, usemos: “Quando tiver saído da cidade”. Entrementes, não correremos o risco de depredarmos a escrita com erros que podem ser evitados. Paremos um pouco! Notaram que usei o verbo depredar? E, do jeito como foi escrito, está correto, pois jamais poderia ser usado como depedrarmos, haja vista não ser proveniente do mesmo radical de pedra.

Tanta regra gramatical chega a dar fome! Que tal uma formidável pizza muçarela para aliviar a tensão? Ah! Notaram que grafei o sabor da pizza com cê-cedilha? E isso está de acordo com o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Não existe, em Língua Portuguesa, Muzzarela. Aqui, ainda, poderíamos combinar a pizza com um belo vinho, não acham? Porém, desde que não haja embriaguez. Isso mesmo! Embriaguez, com “z”, não com “s”. Portanto, comamos e bebamos muito, mas evitemos a má digestão na linguagem!

Caso, o eminente leitor, não seja adepto de uma comida italiana, sugeriria uma tigela com doces! TIGELA, com “g”, não tijela, com “j”. Quanta maldade deste colunista, pois em se tratando de comida, o que vale é o paladar!

De repente, podemos combinar que, não sejamos exagerados em relação a tantas regras, pois o que vale é a comunicação. Porém, escrevamos de repente, separado, nunca derrepente, junto.

Atendamos às regras e isso nos facilitará na relação com a escrita. E, neste ponto, o verbo atender pode apresentar alguma dúvida. Vejamos: quando estiver no contexto de responder chamada telefônica, pode ser usado com ou sem preposição: “Atenda o (ao) telefone”. Deste modo, ninguém erra. Quanto alívio!

Errar, exímios leitores, não é errado. O problema maior é quando assistimos a alguém falar erradamente e não percebemos. Um exemplo? O que acabei de escrever. Assistir, no sentido de “ver”, deve ser usado com emprego da preposição “a”, tal como escrevi. Entretanto, se o sentido pretendido for o de prestar assistência, ajudar, usemos sem preposição: “O médico assistiu o doente”. Nada difícil demais!

E, se por acaso, nós freássemos as regras de uma vez por todas? Creio que ainda assim haveria enganos, tais como o próprio vocábulo que acabei de utilizar. Frear, flexionado, não possui a vogal “i”, sendo, portanto, correta a forma por mim usada: “freássemos”, nunca “freiássemos”.

Encerro minhas breves digressões com uma célebre frase do filósofo alemão, Johann Gottlieb Fichte: “A língua de um povo é a sua alma”.

Valorizemos nossa Língua como patrimônio cultural, artístico e educacional de toda a nação, pois só assim veremos nossos pensamentos ganharem robustez à medida que conseguirem expressar o que realmente querem dizer.

Coluna Draft

por Edgar Talevi

Edgar Talevi de Oliveira é licenciado em Letras pela UEPG. Pós-graduado em Linguística, Neuropedagogia e Educação Especial. Bacharel e Mestre em Teologia. Atualmente Professor do Quadro Próprio do Magistério da Rede Pública do Paraná, na disciplina de Língua Portuguesa. Começou carreira como docente em Produção de texto e Gramática, em 2005, em diversos cursos pré-vestibulares da região, bem como possui experiência em docência no Ensino Superior em instituições privadas de Ensino de Ponta Grossa. É revisor de textos e autor do livro “Domine a Língua – o novo acordo ortográfico de um jeito simples”, em parceria com o professor Pablo Alex Laroca Gomes. Também autor do livro "Sintaxe à Vontade: crônicas sobre a Língua Portuguesa". Membro da Academia Ponta-grossense de Letras e Artes. Ao longo de sua carreira no magistério, coordenou inúmeros projetos pedagógicos, tais como Júri Simulado, Semana Literária dentre outros. Como articulista, teve seus textos publicados em jornais impressos e eletrônicos, sempre com posicionamentos relevantes e de caráter democrático, prezando pela ética, pluralidade de ideias e valores republicanos.