Os primeiros estudos que mostram o impacto do novo coronavírus na pele começam a ser divulgados, informa o site da revista ‘Veja’. Um artigo publicado no periódico científico da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia concluiu que 20% das pessoas tiveram erupções cutâneas em decorrência da doença.
A erupção cutânea não está listada pela Organização Mundial da Saúde como sintoma comum do novo coronavírus, mas não é algo novo quando se trata de viroses. Doenças como a dengue hemorrágica e a herpes são exemplos de enfermidades em que os pacientes apresentam vermelhidões, coceiras e bolhas. No estudo italiano, os médicos puderam observar esses sintomas em braços, pernas e tronco.
Pesquisadores do Hospital Lecco, na Itália, analisaram 88 pacientes infectados pela Covid-19. Desses, oito apresentaram problemas de pele no início da infecção pelo novo coronavírus e em outros dez pacientes esses sintomas surgiram quando as pessoas foram hospitalizadas. O problema mais comum apresentado pelos pacientes foi erupção cutânea avermelhada, seguido de urticária e bolhas semelhantes às da catapora. O tronco foi a área mais afetada.
Segundo a equipe, as lesões geralmente cicatrizam em poucos dias. Apesar dos resultados, os pesquisadores enfatizam: “Indiscutivelmente, precisamos de mais documentos para confirmar e entender melhor o envolvimento da pele no Covid-19”.
Uma organização francesa de dermatologistas também emitiu recentemente uma declaração observando a presença de urticária, erupções cutâneas vermelhas e lesões semelhantes a queimaduras causadas pelo frio em extremidades de pacientes com quadros prováveis de Covid-19. Nos Estados Unidos, a condição de “pseudo-queimadura por frio” descrita pelos dermatologistas franceses em sua declaração foi apelidada de “dedos de Covid”. Mais de 100 casos do problema – caracterizado por manchas azuladas nos dedos dos pés, semelhantes a contusões – foram registrados em uma ficha sobre sintomas de Covid-19 feita pela Academia Americana de Dermatologia.
Para especialistas, a principal novidade foi o aparecimento de manchas azuladas nos dedos dos pés, algo exclusivo do coronavírus. “É comum ver uma erupção cutânea com um vírus porque o corpo tem uma capacidade incrível de responder a algo que perturba a normalidade. A presença de uma erupção cutânea pode ser sinal de uma condição de saúde subjacente. E, às vezes, certas erupções cutâneas podem ser o sinal de apresentação de uma doença”, explica Paola Pomerantzeff, médica membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
Mesmo assim, Paola recomenda que haja cautela. Ela afirma que tudo ainda é muito novo. Existe pouca ciência sobre o que pode ou não acender um alerta vermelho para uma pessoa que apresenta erupções cutâneas. “Não é porque você tem um sintoma do tipo que deve correr para o hospital. Se você tem lesões na pele e outros sintomas da Covid-19, deve fazer uma consulta online primeiro”.
Luís Fernando Waib, médico da Sociedade Brasileira de Infectologia, pondera que é possível identificar erupções cutâneas em pacientes por uma piora do quadro imunológico, mas que o principal é se atentar aos sintomas mais graves da doença. “As manifestações que aparecem são nos pacientes com casos mais graves. Isso acontece porque eles apresentam problemas circulatórios. Não me parece que uma manifestação cutânea deva ser aquela que vamos nos preocupar primeiro”, afirma.
Segundo Waib, falta de ar é o fator principal de preocupação. O médico alerta que as pessoas não devem ir ao hospital antes de apresentar sintomas respiratórios da doença. “Não precisa se preocupar se não tiver uma forte falta de ar ou uma dor intensa. Os quadros leves devem ser tratados em casa, para evitar infecção, com isolamento social. O suspeito deve se abster de contato físico, sem dividir toalhas de rosto, talheres e até a mesma cama e o mesmo banheiro, se for possível”.
Informações: Veja | Foto: Getty Images