“Quando comecei o Pegaí, um jornalista me perguntou qual era a meta do projeto. Eu respondi que queria disponibilizar um livro para cada habitante de Ponta Grossa” – Idomar Augusto Cerutti, idealizador do Pegaí
Mentes alimentadas
Perto de atingir a marca de 350 mil livros disponibilizados, o projeto Pegaí Leitura Grátis atravessa o período da pandemia com impressão de novos livros e diversas ações junto a comunidades
No que depender do Instituto Pegaí, o prazer da leitura continua vivo em Ponta Grossa e no Paraná, até em tempos de pandemia. Em sete anos, a iniciativa já alcançou números surpreendentes. Em novembro último, o projeto contabilizou mais de 332.064 livros disponibilizados em suas 67 estantes espalhadas por 15 cidades do estado. Já o Hospital de Livros, que funciona em parceria com a Penitenciária Estadual de Ponta Grossa, chegou à marca de 7.315 livros restaurados e colocados de volta à circulação.
“Quando comecei o Pegaí, eu não sabia onde queria chegar, até que, um dia, um jornalista me perguntou qual era a meta do projeto. Eu respondi que queria disponibilizar um livro pra cada habitante de Ponta Grossa”, conta o idealizador do Pegaí, Idomar Augusto Cerutti. A meta está muito próxima de ser batida, o que deve ocorrer entre dezembro e janeiro do próximo ano.
Além da doação de livros (sempre de literatura), o projeto tem investido esforços também na impressão e compra a baixo custo. Isso resultou em 31 mil exemplares impressos, de seis títulos de domínio público ou com direitos cedidos pelo autor. Grande parte foi resultado de parcerias com empresas, além da campanha ‘Transforme Seu Cupom em Leitura’, que utiliza recursos da Nota Paraná. “A nossa grande sacada é usar o que as empresas sabem fazer de melhor: a BO Paper e a Papirus doam o papel, a Princesa dos Campos transporta, a gráfica iPrint imprime, a D’Ponta divulga e por aí vai”, explica Cerutti.
Protocolo de retomada
Depois de alguns meses fechadas, as estantes do Pegaí começaram a reabrir de forma gradual. Para isso, um rigoroso protocolo de retomada foi criado: o livro fica em uma “quarentena” de sete dias, depois o voluntário coloca um lacre de papel informando que o exemplar passou por esse período, e só então é disponibilizado aos leitores. Além dos cuidados por parte do projeto, o protocolo prevê também as responsabilidades dos usuários, como a higienização das mãos e o cuidado na hora de devolver o livro.
Antes disso, porém, o Pegaí já estava na ativa com uma nova ação. Intitulada ‘Alimentando Mentes’, a iniciativa disponibilizou mais de 8,5 mil livros novos e embalados em cestas básicas, leite e marmitas entregues por escolas, igrejas e instituições de Ponta Grossa. Com isso, o hábito da leitura continuou sendo incentivado.
Ajuda
Para 2021, o idealizador revela que o Pegaí prepara a impressão de, pelo menos, quatro novos livros, além de seguir com a ação ‘Alimentando Mentes’. “Para isso, precisamos que as pessoas continuem doando livros e disponibilizando para o Pegaí a nota fiscal sem CPF, e também que as empresas, seja do tamanho ou ramo que for, continuem nos ajudando com aquilo que sabem fazer”, finaliza.
O QUE TE FAZ ACREDITAR NO PEGAÍ?
Pessoas alcançadas pela leitura
“O Pegaí é um projeto que leva cultura e entretenimento pela magia da leitura, alcançando muitas pessoas sem acesso a livros, e ainda conta com o Hospital do Livro, que consegue resgatar livros que possivelmente iriam para a reciclagem. Vejo que os voluntários têm amor em fazer parte desse projeto”
Peterson Strack, fotógrafo
Desmistificação da leitura
“O Pegaí é a leitura de ‘mão beijada’, sem barreiras. Está em lugares abertos, acessíveis. Vejo que tem uma filosofia de movimento! No país, há a cultura de que livro é chato ou só para quem tem grana, mas o projeto desmistifica isso e mostra que ler é legal, uma viagem incrível e possível”
Cláudia Fonseca, revisora
Oportunidades para livros e leitores
“Eu trabalho em uma indústria que utiliza papel reciclado como matéria prima. Eu sempre via livros em meio às aparas de papel, e visualizei aí uma oportunidade nascendo, pois esses livros poderiam de alguma forma chegar aos leitores. Desde julho de 2019, os fornecedores de papel reciclado de diversas regiões do país já separaram mais de 10 mil livros, que foram segregados e doados ao Pegaí. Me sinto privilegiada em ser voluntária e poder contribuir de alguma forma com esse trabalho tão valoroso”
Rute Mika, coordenadora de Compras da Huhtamaki
Contato com uma paixão
“O que me faz trabalhar no projeto é a chance de proporcionar às pessoas o contato com a leitura, algo que, para mim, sempre foi essencial, uma paixão mesmo. Cada livro é uma viagem, uma experiência diferente, uma chance de conhecer algo novo e de pensar de forma nova também. Faço o trabalho voluntário no mesmo local do meu emprego, o que torna mais fácil ainda”
Tatiana Kieltyka, monitora no Supermercado Tozetto
O que há de melhor nas pessoas
“O Pegaí entrou na minha vida em um momento que eu estava buscando formas de atingir e impactar mais pessoas por meio do trabalho voluntário. O que me fez acreditar no Pegaí é a organização: o formato é muito bem definido e as regras são claras, e isso dá a credibilidade que ele precisa para sempre crescer. O projeto aproveita o que tem de melhor nas pessoas, usando o que cada um sabe fazer”
Albino Szesz Junior, professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Reprodução: Revista D’Ponta / #286 – Dezembro/2020 – por Eduardo Godoy / revisão Rafael Guedes / Foto: Bruna Wambier/Pegaí