Em tramitação na Câmara de Vereadores, o Plano Diretor de Ponta Grossa poderá tornar inviável a construção de imóveis com preços mais acessíveis às famílias mais pobres. Isso porque o novo documento, entre outras mudanças, passa a exigir metragens que impedirão a divisão e aproveitamento de lotes, tornando mais caras as residências.
A preocupação é de construtores que atuam nesse segmento e que apontam problemas pontuais que impactarão diretamente no valor de imóveis mais baratos. Um destes é a testada mínima de seis metros, que impediria a construção de duas unidades em lotes com dez metros de frente, algo que é muito comum e que reduz bastante o preço das moradias populares. “Ponta Grossa tem muitos lotes antigos com dez metros, hoje se constrói duas casas e conseguimos dividir o valor do investimento tornando mais acessível. Com o novo plano só poderá se construir uma única residência e isso deve impactar em 30 a 40% no preço dessa casa”, explica o construtor Rodrigo Bindos Paranhos.
Outra mudança que pode ter o mesmo efeito é a medida mínima de 180 metros quadrados por lote em unidades condominiais. Essa obrigatoriedade afeta principalmente terrenos em esquinas, que eram utilizados para a construção de mais unidades em um mesmo espaço. “Alguns terrenos permitem construir ótimas casas com áreas externas menores. E tem procura alta por pessoas que não necessariamente querem terrenos grandes. Isso também acabará”, aponta Paranhos.
Segundo o presidente da Associação Paranaense de Construtores (APC), Gabriel Stallbaum, há uma preocupação no setor de que empresas deixem de construir em Ponta Grossa e procurem municípios em que as regras permitem a manutenção do modelo de negócios, algo que já ocorreu em cidades como Curitiba, por exemplo. “Muitos dos pequenos construtores trabalham exclusivamente com imóveis mais baratos e voltados para um público específico que não tem condições de arcar com casas mais caras. Não estamos falando de casas ruins ou malfeitas, nada disso, são bons imóveis que têm o custo reduzido justamente pelo aproveitamento do terreno e a possibilidade de divisão de custos”, diz.
Os construtores têm tentado se reunir com vereadores para a exposição dos pontos que consideram críticos ao setor, como taxa de ocupação do solo, tamanho das testadas e recuos. “Não nos colocamos contra o planejamento do município e nem somos contra o Plano. Pelo contrário, achamos que ele é necessário e damos nosso apoio. Só pedimos que sejam observadas as condições reais de habitação para pessoas de baixa renda. Da forma como está fica muito difícil sair do aluguel ou da casa dos pais”, declara Stallbaum.
Já o construtor Fabiano Gravena lembra que os pequenos construtores são os principais responsáveis pela ocupação de vazios urbanos nos bairros, contribuindo para o uso de lotes e eliminação de matagais e espaços que oferecem risco aos moradores. “Somos nós que vamos aos bairros e compramos terrenos que muitas vezes estão abandonados porque não oferecem condições de construção de imóveis de alto padrão. Ocupando esses espaços diminuímos os vazios e ajudamos a aproveitar lugares em que já há infraestrutura como escolas e postos de saúde, aproveitando melhor os instrumentos públicos já existentes”, justifica. Para ele, caso o novo Plano Diretor seja aprovado da maneira que foi enviado à Câmara, haverá pouco incentivo para os construtores seguirem nesse sistema, o que é ruim para todo mundo. “Perde o morador, que muitas vezes quer morar ali perto da família, no lugar que nasceu, e perde o município que deixa de arrecadar impostos”, finaliza.
da Assessoria | Foto: Ilustrativa