Cento e quarenta e um dias. Esse foi o tempo em que, somados, Paulo Vitor Farago e Rauli Gross ficaram internados em decorrência da Covid-19. Servidores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), ambos receberam homenagem na última quinta-feira (12) de equipes da Reitoria, local de trabalho dos dois. A história dos servidores, cheia de surpresas, termina com o milagre deles vivos e com expectativa do breve retorno ao trabalho.
Dia 18 de fevereiro não sai da cabeça de Sheila Oliveira Farago, esposa de Paulo Vitor. Foi o dia em que ela foi chamada para se despedir do marido no Hospital Universitário. Paulo Vitor teve parada dos rins e foi diagnosticado com acidose, que é o acúmulo de ácido no fluxo sanguíneo. Seria o último dia que Sheila veria Paulo com vida, segundo os médicos. “O médico falou que iria fazer uma hemodiálise no Paulo”, conta. Essa seria a última medida tomada pela equipe, já que Paulo estava em estado grave e uma hemodiálise naquele momento seria de alto risco. “Foi bem desesperador, porque a gente não sabia o que fazer, para onde correr, e as coisas só iam piorando”, relembra Sheila. Além da acidose e parada nos rins, Paulo teve três paradas cardíacas, por conta do broncoespasmo, parada de medula e choque séptico, causado pela infecção de várias bactérias.
Mesmo desenganado, Paulo sobreviveu. Depois de 75 dias internado, sendo 60 deles na UTI, ele recebeu tão aguardada alta, em 1 de abril. “Eu ficava olhando para o teto, contanto as lâmpadas que tinham no leito”, relembra Paulo, em uma das ocasiões que ficou mais de 24h sem dormir, durante o internamento. Paulo já sabia que seria internado no início dos sintomas da Covid. Atualmente diretor de projetos e convênios da Pró-Reitoria de Planejamento, Paulo é também farmacêutico e sabe reconhecer os sinais clínicos. “Eu avisei minha esposa que seria intubado, porque sentia que a situação estava grave”, menciona.
A luta não acabou depois da alta. Paulo segue com tratamentos de recuperação, como fisioterapia e fonoaudiologia. Nas primeiras doze semanas após a alta, ele recebeu atendimentos no Ambulatório de Reabilitação da UEPG. “Foram 12 semanas excelentes de tratamento, tanto a parte de musculação, quanto e fisioterapia e fono”, destaca. A recuperação continua com exercícios fora do ambulatório, até a cura total. “Ainda tenho lesões no nervo radial e nos fibulares, que precisam ser tratados”, explica. Paulo planeja voltar às atividades de trabalho em até 60 dias. “Quero logo voltar para a UEPG, minha casa, e contribuir com meu trabalho”, vislumbra.
Milagre
Não existe outra palavra para descrever o que Rauli Gross superou a não ser ‘milagre’. É o que enfatiza sua esposa, Telma Oliveira Gross que, assim como Sheila, foi fiel escudeira de seu marido. Durante os 66 dias de internamento, Rauli passou 63 deles na UTI. Telma ia todos os dias ao Hospital Vicentino para saber informações do marido e viu de perto a batalha travada contra a Covid. “Quando eu vi meu marido na UTI, percebi que ele não iria mais sorrir. Pedia a Deus que desse a oportunidade dele voltar a sorrir, mas eu aceitaria meu marido do jeito que ele voltasse, desde que estivesse vivo”, recorda Telma.
Rauli foi internado com 50% dos pulmões comprometidos, mas em três dias o comprometimento aumentou para 80%. Em uma semana, ele já estava intubado. “Não me lembro de nada. Acordei e achei que estava em um hotel, os médicos tiveram que me explicar o que tinha acontecido”. O despertar do Rauli não foi corriqueiro. Já desenganado pelos médicos, a reviravolta veio por meio de uma oração. “Diziam que não tinha mais volta, que eu não acordaria mais”, conta Rauli. Até que uma das enfermeiras se aproximou, pegou em sua mão e orou. “Foi ali que acordei. Abri os olhos na hora. Me arrepio só de lembrar”, se emociona.
O servidor voltou para casa dia 15 de maio. A recuperação no início foi complicada. “Ter alta da UTI, ao mesmo tempo que foi uma benção, também foi um desafio muito grande”, explica a esposa. Rauli saiu da UTI e foi direto para casa, com sonda, traqueostomia e todo o aparato médico. Telma teve que improvisar um leito de hospital em casa para receber o marido. “Eu não conseguia nem parar em pé, pois estava sem musculatura, perdi a força de todos os músculos do corpo. Só depois consegui ficar de pé, agora estou em um processo que só vai evoluindo”, comemora o servidor. Ele está na etapa final da reabilitação da fisioterapia, que envolve exercícios de fortalecimento muscular. “Minha expectativa é voltar ao trabalho em outubro, pois ainda preciso adquirir mais autonomia em algumas coisas”.
Para Telma, a experiência que fica é de amor. Amor, porque, mesmo com as dificuldades, ambos foram impulsionados a lutar para que Rauli continuasse vivo. “Ele viveu um milagre. Ele reaprendeu a mexer o dedo, a engolir, a ficar em pé. Para mim, a principal palavra é gratidão. Por ter o Rauli junto com a gente e por perceber o quanto ele é amado por tantas pessoas”.
Homenagem
O reitor Miguel Sanches Neto destacou a família que a UEPG se tornou. “Nós somos uma família e isso está registrado aqui. Essa homenagem dá o sentido de que a instituição reconhece pessoas que fazem acontecer”, comemora. Miguel ainda registra a importância de Paulo Vitor e Rauli para a Universidade. “Você estão aqui porque são nossos amigos, mas principalmente porque são defensores da UEPG”. O reitor também não escondeu a emoção de rever os colegas. “Que possam voltar logo a nos ajudar e principalmente a nos alegrar. É uma honra ter profissionais como vocês aqui”, completa.
O pró-reitor de Assuntos Administrativos, Ivo Mottin Demiate, relembra a angústia de tentar saber notícias do estado de saúde dos amigos. “Ver vocês aqui nos deixa muito menos aflitos, menos angustiados. É uma alegria saber que vocês estão cada dia mais próximos da vida normal de antes”, ressalta. Andrea Tedesco, pró-reitora de Planejamento, também não frisou a emoção de rever a dupla. “Ver vocês é uma emoção indescritível, vocês são verdadeiros milagres”. Para Andrea, estar na UEPG não significa só trabalho. “Pois no trabalho todos nós somos substituíveis, mas seres humanos são insubstituíveis. Vocês fazem uma falta imensa profissionalmente, mas mais ainda de forma humana”, destaca.
Paulo Vitor divide a homenagem que recebeu com os colegas. “Foram as orações, as boas energias e todas as mensagens deles que me fizeram resistir e estar aqui hoje”, declara. O professor também exalta o trabalho e o acolhimento dos profissionais do Hospital Universitário. “Graças a Deus e à competentíssima equipe médica do HU, que conseguiram me curar e trazer de novo à vida. É uma alegria imensa estar no ambiente de trabalho, com pessoas que a gente gosta e convive”, agradece.
“Nós somos uma família”, salienta Rauli. “Sempre que eu vinha trabalhar aqui, eu vinha com muito amor, porque eu gosto das pessoas que estão aqui”. O servidor conta que não esperava receber a homenagem. “Esperava vir aqui e rever algumas pessoas nos setores, mas não imaginava uma recepção tão calorosa assim. Isso mostra que as pessoas aqui, independentemente do cargo que ocupam, são maravilhosas; Isso com certeza vai fortalecer minha recuperação”, finaliza.
da UEPG / texto: Jéssica Natal | Fotos: Luciane Navarro