A preservação dos monos (Brachyteles arachnoides), ou muriquis-do-sul como também são chamados, agora também é tarefa compartilhada com as escolas do interior de Castro. O projeto, que vem sendo desenvolvido no município desde o ano de 2015 pelo Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento (Lactec), ganhou ainda mais força através da parceria com Copel Geração e Transmissão a partir de 2019 e, em 2023, com a Prefeitura de Castro e Secretaria Municipal de Educação, e deve se expandir por meio dos professores e alunos das escolas que ficam na região do Vale do Ribeira e localidades onde já foram encontrados grupos da espécie.
O primeiro passo dessa etapa do projeto foi dado na semana passada, com a capacitação de professores que moram e trabalham nessas localidades (Socavão, Abapã, Tanque Grande, Serra do Apon, São Luiz dos Machados e outras). O conteúdo foi ministrado por Claudia Bosa, que é coordenadora da Divisão de Educação para Conservação da Fauna na Prefeitura de Curitiba, também parceira do projeto, e pelo biólogo e pesquisador do Lactec, Robson Odeli Espíndola Hack. “É fundamental a participação e o engajamento das comunidades rurais, onde ocorre a espécie. Essa capacitação visa trabalharmos questões de educação e sensibilização ambiental com os alunos e professores. O objetivo é disseminar conhecimento tanto sobre a existência da espécie como da importância dela para a natureza. Abordamos também o aspecto da conservação da biodiversidade e demais espécies nativas que ocorrem na região”, explica o biólogo.
Cerca de 15 professores participaram da formação. Para a superintendente de educação da Secretaria de Educação, Sueli Verdile Carneiro de Souza, o encontro foi bastante proveitoso e irá permitir aos participantes uma visão mais ampla sobre a questão da sustentabilidade. “Os professores gostaram muito, saíram daqui felizes. Acredito que despertou a nossa sensibilização quanto a sustentabilidade. Na prática, a reflexão se estendeu para outras questões do dia a dia, e nós certamente teremos condições de sermos multiplicadores dessas informações”, explicou.
A fase de disseminação de informação e incentivo à preservação dos monos nas escolas terá novos processos, que devem engajar os estudantes no projeto. “Num segundo momento vamos executar ações nas escolas, com as crianças. Começaremos com atividades lúdicas, mas temos várias ações planejadas e que devem incentivar cada vez mais essa parceria para preservação da espécie”, destaca.
Existência dos monos em Castro e o projeto de conservação
Os monos são uma espécie rara de macaco, exclusiva da Mata Atlântica e que está sob forte ameaça de extinção. Até então tinha-se conhecimento da existência apenas nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, próximos da região da Serra do Mar, no entanto, em 2002 pesquisadores que trabalhavam na obra de uma linha de transmissão de energia elétrica na região do Vale do Ribeira descobriram a espécie no Paraná. A descoberta incentivou iniciativas que se desenvolveram até 2009. Porém, desse período até o início do projeto encabeçado pelo Lactec (em 2015) houve uma lacuna de conhecimento.
Há oito anos, quando finalmente o centro de pesquisa deu início ao projeto na região, considerada o limite Sul de distribuição da espécie, o número de animais documentados na área era de pouco mais de 20. “Quando nós demos continuidade das ações para conservação da espécie, existia o conhecimento de apenas um grupo – com 22 a 25 divididos. Com o desenvolvimento do projeto, um grupo saltou de 25 para 33 indivíduos, e descobrimos a existência de novos grupos, chegando a oito até agora e um total de aproximadamente 69 indivíduos conhecidos até o momento”, explica Robson.
O projeto ganhou vida primeiramente na região do Olho d’Água do Canha, nas proximidades do Morro do Canha, onde os pesquisadores realizaram o monitoramento demográfico do primeiro grupo dos monos encontrado no Paraná. Em 2019, com um reforço no projeto através do contrato com a Copel Geração e Transmissão, referente ao licenciamento ambiental da Linha de Transmissão Bateias-Jaguariaíva e também do apoio da Fundação Grupo Boticário, foram iniciadas efetivamente as buscas e o desenvolvimento de ações e análises, com continuidade do monitoramento desses grupos para verificação de questões de saúde e viabilidade genética, para conservação a longo prazo e desenvolvimento de ações de educação ambiental. “É uma espécie símbolo da Mata Atlântica, criticamente ameaçada de extinção, e os indivíduos que vivem aqui têm genética diferente dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro”, destaca.
De acordo com o biólogo, de 2015 até agora foi obtido um avanço considerável no conhecimento ecológico necessário para conservação dos monos. O mapeamento da espécie continua, atualmente os levantamentos feitos pelos pesquisadores apontam para a existência de 69 animais em vida livre na região. “Ainda consideramos pouquíssimos, o número mostra que a espécie está bem ameaçada e corre sério risco de desaparecer da natureza, infelizmente, mas estamos ampliando o conhecimento e a rede de apoio para a conservação da espécie no Paraná. Continuamos a busca por novas localidades de ocorrência, e hoje monitoramos dois indivíduos constantemente por meio de rádio-colares, isso nos permite saber quais as áreas preferenciais de alimentação e de pernoite, tamanho da área de vida, por onde se deslocam, quais as rotas, o quanto caminham ou se deslocam entre os dias, meses e de acordo com as estações do ano. Estamos gerando conhecimento sobre a espécie que até então não se tinha, para podermos entender cada vez mais e para desenvolvermos ações para conservação, baseadas no padrão dos indivíduos que vivem aqui no estado”.
As informações que resultam das pesquisas viabilizadas pelo projeto já são responsáveis por algumas ações, como a parceria para formação nas escolas do campo. Conforme lembra o biólogo, os monos, embora estejam sendo acompanhados pelos pesquisadores, sofrem ameaças graves, seja pela pressão da caça, do tráfico de animais e também pelo desmatamento e fragmentação das florestas nativas. “Essas são algumas das ameaças que constatamos, mas, também há grande perspectiva positiva quanto à preservação da espécie. A coleta de dados é justamente para darmos continuidade no planejamento e execução das ações para conservação dela em longo, pois há necessidade de ações urgentes para sua perpetuidade no Paraná”, finaliza.
da assessoria