Pacientes jovens, com idade entre 20 e 29 anos, tiveram as taxas de letalidade por Covid-19 triplicadas em fevereiro de 2021, comparadas ao mês de janeiro do mesmo ano, após o surgimento da variante P.1. É o que identificou o estudo “Sudden rise in COVID-19 case fatality among young and middle-aged adults in the south of Brazil after identification of the novel B.1.1.28.1 (P.1) SARS-CoV-2 strain: analysis of data from the state of Parana”, da Universidade Federal do Paraná, publicado na plataforma MedRxiv.
A maior frequência de casos graves de Covid-19 em pessoas jovens levou os pesquisadores a investigarem se isso seria consequência do número absoluto de casos da faixa etária ou a se a nova variante poderia ser mais letal para jovens e adultos. O artigo assinado pela acadêmica do curso de Estatística da UFPR, Maria Helena Santos de Oliveira, em parceria com os pesquisadores Giuseppe Lippi (University of Verona) e Brandon Michael Henry (The Heart Institute), analisa dados da pandemia no Paraná do período de 1 de setembro de 2020 a 17 de março de 2021.
Os pesquisadores avaliaram 553.518 casos de indivíduos infectados pelo SARSCoV-2 no Paraná, sendo 8.853 registrados como fatais. As informações foram organizadas por grupos de idade, mês de diagnóstico e taxa de letalidade mensal.
De acordo com o estudo, os grupos de idade apresentavam declínio ou estabilização das taxas de mortalidade desde setembro de 2020, entretanto o mês de fevereiro de 2021 mostra um aumento contrastante de fatalidades entre quase todas as faixas etárias. O crescimento da letalidade para infecções por Sars-Cov-2 é associado pela pesquisa à variante chamada P.1. Identificada originalmente no Amazonas, a nova cepa se espalhou rapidamente pelo Brasil e foi oficialmente registrada no Paraná no dia 16 de fevereiro.
No período analisado, a taxa de mortalidade na casa dos 20 anos subiu de 0,04% para 0,13%. Para pacientes de 30 a 39 anos, a taxa subiu 93%. O risco também aumentou 110% na faixa etária de 40 a 49 anos e 80% para indivíduos com 50 e 59 anos. Nenhuma alteração foi observada pela pesquisa nas taxas de mortalidade de crianças ou adolescentes.
“Apesar de não conseguirmos separar o efeito do colapso hospitalar do efeito da nova variante sobre a taxa de letalidade, vemos que a tendência do aumento na morte dos jovens após o surgimento da nova variante tem sido observado em diversos estudos, em outros estados brasileiros”, ressalta a pesquisadora Maria Helena. “Isso nos faz pensar que algo está realmente mudando as dinâmicas da pandemia no Brasil”.
A conclusão do artigo aponta ainda que as descobertas exigem investigação adicional imediata, mas já servem de alarme para a saúde pública, além de merecer uma resposta global para inibir a difusão global da nova cepa. Entre as medidas mais urgentes, são elencadas a necessidade de uma saúde pública local mais agressiva, intervenções e vacinação mais rápida.
Os resultados da pesquisa ainda não foram revisados pelos pares.
Variante P1 no Paraná
A P1 é uma variante mais contagiosa, identificada pela primeira vez no mês de janeiro de 2021, no Japão, em viajantes que retornavam do estado do Amazonas. A P1 tem a mutação E484K, que precisa de mais anticorpos para resistir ao vírus.
No final de março, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) publicou um estudo com o sequenciamento genômico realizado em amostras de moradores do Paraná infectados com o coronavírus. De 80 amostras coletadas, 46,2% são da variante P1, mutação brasileira do vírus.
Apesar de contemplar um universo reduzido de amostras, os resultados indicam que essa linhagem é predominante entre as identificadas no estado.
A análise foi feita pela Rede Genômica Fiocruz e pelo Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), coordenada pela Sesa e supervisionada pelo do Laboratório Central do Estado (Lacen/PR).
da UFPR