Se há algo útil que se possa extrair dessa já longa quarentena ela se chama reflexão. A realidade nos impôs o trabalho remoto, o distanciamento social, um convívio mais intenso com a família e mais tempo livre. Tudo isso nos leva a rever nossos valores, que fazemos menos por diletantismo e mais por necessidade de adaptação ao “novo normal”. Não é pequena a transformação que experimentamos, nem será compreendida por todos em sua real magnitude.
De que reflexão precisamos? Em primeiro lugar, reflexão sobre nossas vidas, nossas relações pessoais, nosso jeito de viver coletivamente, nossa maneira de amar os que estão próximos. Descobrimos rápido que não fomos feitos para viver distantes, enclausurados; precisamos da companhia do outro – além da família – para seguir o caminho que escolhemos trilhar, que se prenuncia longo e cheio de obstáculos.
Depois, reflexão sobre o trabalho, seu valor intrínseco, sua necessidade para a sociedade, para o país e para nossa própria evolução individual. Sabemos, agora mais do que antes, que trabalhar é essencial à sobrevivência do corpo e do espírito. Esquecemos os sacrifícios que às vezes o trabalho nos impõe e já quase imploramos para voltar a produzir. Afinal, somos seres que constroem continuamente e o repouso forçado interrompeu nosso desejo de ver a obra pronta, de ver o Brasil tornar-se maior e melhor para todos.
Por fim, reflexão sobre o papel dos governos – nacional e locais – na difícil tarefa de fazer a vida seguir com o menor impacto possível.
Fomos compelidos a mudar hábitos, incorporar novas atividades e novas formas de viver a sós em um mundo repleto de oportunidades.
Com a certeza de quem governou um Estado da importância do Paraná, afirmo que temos que unir forças de todas as instâncias e esferas – do poder público, iniciativa privada e terceiro setor – para combater o inimigo comum, que atende pelo singelo, porém assustador, nome de Covid19.
É urgente trabalhar com um só objetivo: vencer o vírus. E devolver a vida normal ao nosso país.
Tenho convicção plena de que é possível compatibilizar a guerra ao vírus letal com o nosso projeto de desenvolvimento econômico e social, a preservação dos empregos e da qualidade de vida tão arduamente conquistados por nossa gente.
O momento requer sabedoria, uma boa dose de disciplina e muita agilidade. É imperativo que a união e os interesses da coletividade se sobreponham a qualquer individualidade.
É tempo de juntos conduzirmos o Brasil no caminho da preservação da vida e da retomada segura da produção e da vida cotidiana.
E quem deve liderar esse processo são os governos, de todos os níveis. Daí a importância de um Estado forte – não necessariamente grande – o suficiente para induzir a retomada gradual e segura rumo à normalidade.
Gostamos – e, em certa medida, devemos – criticar os governos. Mas são eles que dispõem de reservas e ferramentas para sairmos da crise.
De tudo resta a esperança de sairmos da crise melhores do que éramos antes: mais fortes, mais preparados e, quiçá, mais solidários para recompor em novas bases nossa sociedade e nossa democracia.
Porque não há alternativa fora do princípio de que todos merecem uma vida melhor, construída por todos dentro dos mais elevados princípios legais. É o nosso desafio e nossa responsabilidade buscá-la, com toda nossa energia e desprendimento.
Cida Borghetti
Ex-governadora do Paraná