“Rodei o Paraná e não tem obra do governo Bolsonaro. É um governo que, efetivamente, não tem realizações no campo social”, dispara o coordenador de campanha do PT no Paraná, Jorge Samek. Durante entrevista ao programa Manhã Total, apresentado por João Barbiero, na Rádio Lagoa Dourada FM (105,9 para Ponta Grossa e região e 90,9 para Telêmaco Borba), nesta sexta (28), o empresário falou sobre a reta final da campanha de Lula à Presidência da República.
Ao comentar sobre o clima no 2º turno, que acirrou o conflito entre situação e oposição, Samek menciona que em seus mais de 40 anos de vida pública disputou várias eleições e foi eleito cinco vezes, mas que nunca viu um clima tão tenso quanto agora. “Perdi algumas eleições, ganhei outras, mas nunca vi nada parecido com o que vivenciamos nesta campanha. A Democracia está sob ataque. Graças a Deus que temos o jornalismo profissional, que é uma das defesas mais potentes da linha democrática. Mas estão se arrebentando as instituições, desmontando o poder público e coisas importantíssimas, como a área da ciência, tecnologia e cultura estão sendo desmanteladas. Órgãos de fiscalização, como o Ibama, estão desmontados”, critica.
De acordo com o político, o 2º turno da campanha presidencial tem sido muito difícil, “porque o ódio está prevalecendo”. “É uma coisa doida, é uma campanha permanente de fake news, mentira para tudo quanto é lado, uma busca de destruição, quer seja de personalidade, de coisa que você fez ou faz, ao invés de discutir problemas reais do povo, que é o problema relacionado ao emprego, renda, comida, casa, saúde, educação, está se discutindo, basicamente, coisas ligadas à religiosidade e a condutas pessoais. Tomou um rumo que, definitivamente, quem pratica a política não pode estar gostando”, analisa sobre a campanha à reeleição.
Na reta final da campanha de Lula, o PT mantém o otimismo de confirmar nas urnas a tendência que se observa nas pesquisas eleitorais, que mostram a estabilidade da intenção de voto em Lula, que lidera a preferência dos eleitores e foi o mais votado no 1º turno. Mesmo assim, o coordenador de campanha não perde de vista que este tem sido “um pleito apertado” e que as ruas demonstram isso. Conforme Samek, de todos os lados tem vindo um clima de intimidação que não é bom para a democracia. “Vamos ter que restaurar todo esse processo”, avalia.
Outra questão destacada por Samek a respeito das últimas campanhas eleitorais, não apenas da atual, é o advento das redes sociais e sua influência na decisão popular. Entretanto, Samek critica a facilidade de se criar perfis sem verificação para propagar informações falsas, que as pessoas sequer checam antes de repassar adiante.
“Lula, para mim, foi um presidente muito importante para a história brasileira. Coloco ele entre os grandes presidentes que o Brasil já teve, como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Fernando Henrique [Cardoso]. Lula é de realização, foi um governo que chacoalhou as estruturas do Brasil, respeitado internacionalmente, investiu em saúde, educação, moradia. Investiu pesadamente na juventude, na paz, na preservação ambiental e no desenvolvimento sustentável”, afirma.
Samek destaca, ainda, o investimento do governo do PT em programas de habitação; no desenvolvimento dos cursos técnicos e na ampliação de universidades. “Uma das coisas que mais me comoveram – e é isso que faz valer a pena estar na vida pública – é ver as pessoas crescerem, ganharem condição de melhorar a vida. Um dos momentos de maior alegria que eu tive enquanto ainda estava na direção-geral da Itaipu foi quando me chamaram para patrono de uma formatura na Unioeste e se formou uma médica negra e ninguém da família dela nunca tinha feito curso superior. Ela foi, ainda, a oradora da turma. Aquilo te dá esperança de que o Brasil tem jeito”, cita.
O coordenador de campanha do PT avalia que o Brasil precisa voltar a dar oportunidades para todos e, para tanto, precisa investir em educação, cultura, saúde, habitação, trabalho e renda. “Tem que haver aumento de salário mínimo acima da inflação. Tem que ter renda, é isso que faz a economia girar. Isso tudo nós fizemos. Foi um período muito próspero do Brasil, de 2003 até 2010. O Lula era reconhecido internacionalmente. Depois, começou essa brigalhada total da política e que hoje está se desmontando algum processo”, analisa.
Ao comparar os anos de administração PT com a política salarial do governo Bolsonaro, Samek pontua que o governo atual não deu aumento real e apenas faz a recomposição da inflação. “E até isso querem tirar, desmobilizar o processo do salário mínimo da inflação. Isso é caminhar para um desfiladeiro, de cada vez mais concentrar renda, mas ter uma legião de pessoas pobres e miseráveis sem oportunidade. Um governo sério é exatamente o contrário: a função do governo é promover igualdade, melhorar a vida e a renda das pessoas, ter casa, ter trabalho”, critica.
Corrupção e fiscalização
Samek, que já foi secretário, presidente de empresa, parlamentar e, depois, diretor-geral da Itaipu Binacional por 14 anos, considera a corrupção “uma coisa inominável”. Segundo ele, nessa modalidade de governo, o presidente compõe com partidos políticos em nome da governabilidade “e tem gente que é sem-vergonha e tem gente que é honesta”. “Tem muita gente honesta no governo, mas tem muito picareta. Os picaretas vão lá para tentar se aproveitar das estruturas de governo para roubar, e isso é caso de polícia”, aponta.
O político acredita que o desmonte de órgãos de fiscalização favorece a corrupção. “Só se consegue ter apuração da corrupção quando se deixa ter órgãos de fiscalização. Quando não se fiscaliza, quando tem uma Advocacia-Geral da União (AGU) que não deixa entrar nenhum processo, quando você manipula a Polícia Federal (PF) e manipula os instrumentos que podem e devem averiguar se está havendo malversação, aí a corrupção corre solta. Não é por você não fiscalizar que não tem corrupção”, critica.
Samek compara que, no governo PT, todos esses instrumentos fiscalizatórios foram postos à disposição. “Aqueles que pecaram, erraram, tem que pagar. Eu não passo a mão na cabeça, não passo pano para quem é corrupto. Acho que isso é um crime e que o dinheiro público é sagrado e tem que ser bem usado”, sustenta.
De acordo com ele, os opositores de Lula tentaram imputar a ele a pecha de corrupto. “Quem cometeu corrupção – e está provado – foi diretor 1 da Petrobras, que foi indicado pelo partido A, outro pelo partido B, outro pelo meu próprio partido, e que lambuzaram a mão. Eu quero que eles se arrebentem! Para você concorrer numa eleição tem que ter ficha limpa. Se o Lula está concorrendo, é porque lá na Justiça verificaram que, efetivamente, ele não teve nenhum processo ligado a ele na corrupção”, defende.
Por outro lado, Samek acusa que o governo atual, sim, tem envolvimento em corrupção. “Nesse, que comete ilícito, tem que ser exemplarmente punido. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) está fazendo um belo trabalho, pois está havendo coação e um processo terrível de querer obrigar as pessoas a votar [assédio eleitoral] e o Tribunal está dando um ‘basta’, uma paralisia nesses procedimentos irregulares. É para isso que serve a Justiça e eu confio na Justiça”, opina.
Trajetória política
O empresário e engenheiro agrônomo, de 57 anos, é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1990. Foi eleito vereador de Curitiba quatro vezes. Em 2002, venceu sua quinta eleição, desta vez para deputado federal. No entanto, antes de assumir o mandato, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional. Em seu lugar, assumiu a suplente Selma Schons. Em 2010, chegou a ser cotado para concorrer a vice-governador na chapa de Osmar Dias, mas desistiu. Neste ano, foi candidato a vice de Requião.
Confira a entrevista de Jorge Samek na íntegra: