Domingo, 29 de Setembro de 2024

Ponto de Vista: “O agro não se sustenta sem articulação do governo, é um setor altamente subsidiado”, responde Gleisi, sobre recusa do presidente da CNA em falar com Lula

2024-06-15 às 17:34
Foto: Lula Marques

Em entrevista exclusiva ao Ponto de Vista, programa apresentado por João Barbiero na Rede T de rádios do Paraná, na manhã deste sábado (15), a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, comentou que esta foi uma “semana difícil” para o Governo.

A afirmação faz alusão, entre outros fatores, à recusa do presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins, a falar com o presidente Lula. O empresário fez a declaração em almoço com a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) para discutir a MP do PIS/Cofins, devolvida ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) por inconstitucionalidade. “O presidente da CNA é muito ignorante, porque ele representa um setor. O agro não é maior que o Brasil, mas é um setor muito importante para ser representado por uma pessoa tão ignorante, de extrema direita, que não quer conversa. O agro não se sustenta sem articulação do governo, é um setor altamente subsidiado”, frisa.

“Eu não quero falar com o presidente Lula. Eu me recuso a falar com o presidente Lula, porque estamos vivendo um desgoverno. Vocês que fazem o Congresso, que fazem com que no Congresso as coisas aconteçam, está na hora de a gente dizer que o país precisa de um plano para poder se desenvolver. O país não pode ficar à mercê do momento que o agro vai bem, o país vai bem”, disse Martins, na ocasião.

Segundo a presidente do PT, o Governo possui dificuldades na MP enviada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao Congresso. “Isso criou um problema grave lá, porque todo mundo ficou bravo, que não tinha sido avisado, o substitutivo foi algo também muito forte, e gerou críticas, gerou problemas. Só que é o seguinte: tem que resolver, ninguém quer que mexa no seu, todo mundo quer que corte do outro no orçamento. Fizeram a desoneração para 17 setores lá atrás. A Justiça mandou compensar. De onde vai tirar? A Fazenda fez a compensação, aí ninguém aceitou. Tudo bem que talvez a forma de encaminhar [a proposta] não tenha sido a melhor, mas era uma resposta. Agora, o Congresso vai ficar junto com a iniciativa e com o setor privado, para ver como vai resolver isso, porque não aceita a proposta do Governo, é ruim”, diz.

“Na questão do arroz, acho que o Governo agiu de forma célere, quando viu que tinha problema, suspendeu. Tem que ser assim: deu indício de problema, suspende; começar de novo, fazer de novo. Não podemos correr o risco de ter um preço de arroz nas alturas. Em Brasília, há uns 15 dias, o quilo do arroz estava quase R$ 10. Isso é brincadeira, isso é especulação”, diz. Em Ponta Grossa, um pacote de 5kg de arroz está na faixa entre R$ 28,99 a R$ 36,98, entre as marcas mais populares. Em alguns supermercados, a comercialização está sendo limitada a dois pacotes de 5kg por CPF.

Gleisi no Paraná

Nesta semana, Glesi cumpriu agenda no Paraná e esteve presente em Francisco Beltrão na sexta (14) e, neste sábado (15), em Foz do Iguaçu e, posteriormente, retorna para Brasília. “Fomos, junto com o Ênio Verri, diretor geral da Itaipu, para fazer as entregas do Itaipu Mais Que Energia”, conta, sobre a visita a Dois Vizinhos, no Sudoeste paranaense. “É um programa que coloca a Itaipu para ter uma relação com todos os municípios do Paraná e ajudar nas questões sociais, na infraestrutura. Em Beltrão, nos reunimos com quase todos os prefeitos Amsop (Associação dos Municípios do Sudoeste do Paraná), porque todos tiveram acesso a recursos da Itaipu para fazer investimento em áreas sociais, ambientais e na adequação de estradas e de solo. E em Dois Vizinhos, uma reivindicação antiga, que o pessoal fez, junto com o deputado [estadual Adão] Litro, que é o deputado da região, de fazer uma estrada que ligasse Dois Vizinhos a São Bento, porque faz tempo que se pede essa estrada. São 12km e não saía e agora deu certo, Itaipu vai ajudar”, relata.

Gleisi salienta que, quanto menor o município, em termos de população, o que reflete na arrecadação, mais dificuldades ele tem. “E muitas vezes esses municípios pequenos em termos de orçamento, mas de território grande, têm muita dificuldade de fazer adequação de solo também. Então, esse programa da Itaipu, que tem adequação de solo, faz curva de nível, tem adequação de estradas, para que não tenha problema com água da chuva, de varrer o solo. Faz a parte ambiental, cuidando das nascentes, cuidando dos rios. Temos que tomar consciência disso, ajudar. Itaipu tem know-how, que já aplicou no Oeste do Paraná, por conta do lago e dos cuidados que tinha que ter para não haver assoreamento. Levar isso para todo o Estado é importante. E junto com isso a conscientização ambiental, porque não é só o recurso para a obra, a Itaipu faz cursos, preparação de gestores. É um programa muito integrado”, observa.

PL 1.904/24

Outro tema que “pesou” a semana foi a discussão, em regime de urgência – isto é, sem passar por todas as Comissões – do Projeto de Lei 1.904/2024, que equipara o aborto – mesmo nos casos em que é legalizado, como nos casos de estupro, anencefalia ou de risco à vida da mãe – ao homicídio. “Esse projeto não trata necessariamente do aborto, mas do aumento de pena e também de mudança no aborto legal”, explica.

“Primeiro, quero deixar bem claro que sou contra o aborto. Essa é uma posição já conhecida. Sou contra, mas reconheço as três formas em que é legalmente liberado: em caso de estupro, anencefalia e quando põe em risco a vida da mulher, que é o que já temos, historicamente, no país. O que entrou lá, que é um projeto muito ruim, e já me posicionei contra, é que aumenta a pena de aborto, se for praticado até por meios legais, acima de 22 semanas, para a pena de homicídio. No caso de estupro, se a mulher abortar, ela vai ter uma pena maior do que o estuprador. Isso não pode, não é lógico, é desumano”, diz.

Outro ponto de discordância de Gleisi em relação ao PL 1.904/24 é o fato de ele proibir que a vítima de estupro possa abortar depois da 22ª semana de gestação. “Hoje, a legislação não tem essa proibição. Se essa mulher sofreu estupro, pode fazer o aborto a qualquer tempo, assistido pela rede pública. Hoje, 61% dos estupros acontecem com meninas de até 13 anos e, geralmente, dentro de casa, praticado por familiares. E é um drama, porque a menina, ou por medo ou por vergonha ou por desconhecimento, acaba não falando disso com ninguém. Quando vai ver, a mãe, a avó, alguém da família descobre que a menina está grávida, já passou um certo tempo. Acho que você acompanhou o caso de uma menina que teve que ser levada do Espírito Santo para Pernambuco para poder fazer um aborto, porque teve um movimento no ES para não deixar a menina, que tinha de 12 para 13 anos e foi estuprada [abortar]. Só veio a público que ela estava grávida quando já tinha passado a 22ª semana de gravidez. Como você obriga uma criança a ter outra criança, ainda mais fruto de uma violência? Essas coisas não podem acontecer. Não podemos ter um fundamentalismo nessa discussão”, analisa.

A deputada federal considera que a legislação sobre aborto no Brasil tem que ser mantida do jeito que está: nem ampliar, nem restringir. “É isso que protege minimamente as nossas mulheres, as nossas meninas. Eu fico indignada porque quem levanta essas discussões na Câmara, geralmente, são homens. O projeto é do Sóstenes [Cavalcante, PL-RJ] e foi aprovada a urgência, querem aprovar tudo rápido, sem discussão, sem análise. É muito triste o que estamos vivendo na Câmara. Isso pode ser muito prejudicial à população”, afirma.

Contra a terceirização

A deputada federal reiterou o apoio aos professores contrários ao programa Parceiro da Escola, em contraponto ao que foi defendido pelo secretário de Planejamento, Guto Silva, no primeiro bloco do programa Ponto de Vista deste sábado (15). “Entendo que a escola pública é um espaço importante de ser preservado como público. Não pode, por exemplo, privatizar a parte administrativa e dizer que não tem nada a ver. Tem impacto, sim, na questão pedagógica. A escola é uma só, ela não é departamentalizada. E é isso que é bonito na educação, essa integração. Esse projeto do Ratinho [Junior] põe em risco, sim, a pedagogia, a convivência escolar, essa integração. O que temos que fazer é fortalecer a escola pública. Não tem problema de o sistema público conviver com o sistema privado, mas onde é escola pública, é escola pública, é dever do Estado de manter, de dar qualidade, de fazer a administração e a gestão”, diz.

Gleisi também critica o que classifica como perseguição que o Governo do Estado estaria praticando contra os professores que participaram de greve por desaprovarem o projeto, enquanto ele ainda era votado na Assembleia Legislativa (Alep). “Está falando que são professores que desestabilizam a democracia, quase que comparando com o que fizeram no 8 de janeiro. Isso é uma barbaridade. No 8 de janeiro, estouraram bomba, explodiram aeroporto antes, quebraram e depredaram [o Congresso e o STF]. Não tinham nenhuma reivindicação, nenhum motivo, a não ser fazer baderna, balbúrdia, tentar um golpe. Aqui, não: os professores fizeram greve, se organizaram, têm direito de lutar, tentaram impedir que na Assembleia se votasse [a proposta], por isso que foram lá e abriram os portões. Não teve nada de depredação de prédio público. Temos que fazer essa separação. É muito errado, por parte do governador, esse tipo de conduta”, avalia.

Ponto de Vista 

Apresentado por João Barbiero, o programa Ponto de Vista vai ao ar semanalmente, aos sábados, das 7h às 8h, pela Rede T de Rádios do Paraná.

A Rádio T pode ser ouvida em todo o território nacional através do site ou nas regiões abaixo através das respectivas frequências FM: T Curitiba 104,9MHz;  T Maringá 93,9MHz; T Ponta Grossa  99,9MHz; T Cascavel 93,1MHz; T Foz do Iguaçu 88,1MHz; T Guarapuava 100,9MHz; T Campo Mourão 98,5MHz; T Paranavaí 99,1MHz; T Telêmaco Borba 104,7MHz; T Irati 107,9MHz; T Jacarezinho 96,5MHz; T Imbituva 95,3MHz; T Ubiratã 88,9MHz; T Andirá 97,5MHz; T Santo Antônio do Sudoeste 91.5MHz; T Wenceslau Braz 95,7MHz; T Capanema 90,1MHz; T Faxinal 107,7MHz; T Cantagalo 88,9MHz; T Mamborê 107,5MHz; T Paranacity 88,3MHz; T Brasilândia do Sul 105,3MHz; T Ibaiti 91,1MHz; T Palotina 97,7MHz; T Dois Vizinhos 89,3MHz e também na T Londrina 97,7MHz.