há 6 horas
Amanda Martins

A prevenção da cegueira infantil precisa começar cedo, ainda nos primeiros meses de vida, alertam especialistas. O problema tem impacto global e preocupa autoridades de saúde, segundo o portal Metrópoles, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que cerca de 500 mil crianças ficam cegas todos os anos no mundo. Dessas, até 60% não chegam à vida adulta, já que muitas doenças que afetam a visão também comprometem outros sistemas do organismo.
Entre as crianças que sobrevivem, a perda visual costuma gerar consequências duradouras, como dificuldades de aprendizado, prejuízos na interação social e redução da autonomia ao longo da vida. No Brasil, os números também são expressivos. Dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) indicam que mais de 27 mil crianças e adolescentes de até 14 anos vivem com cegueira ou baixa visão severa.
Grande parte desses casos poderia ser evitada com diagnósticos precoces e acompanhamento especializado. A oftalmologista Stefânia Diniz, membro do CBO, destaca que a infância é um período decisivo para o desenvolvimento da visão. Segundo ela, problemas aparentemente simples podem causar sequelas permanentes se não forem identificados a tempo. Estudos apontam que até 80% das causas de cegueira infantil são preveníveis ou tratáveis.
Entre as condições que exigem atenção desde os primeiros dias de vida estão catarata congênita, glaucoma congênito, estrabismo, ptose palpebral, infecções perinatais como a toxoplasmose congênita e doenças hereditárias. A especialista também alerta para sinais que exigem avaliação imediata, como desvio ocular persistente, fotossensibilidade, lacrimejamento contínuo, falta de interesse por rostos e objetos e pupila esbranquiçada em fotos com flash, sintomas que podem indicar doenças graves, como o retinoblastoma.
Um dos principais instrumentos de diagnóstico precoce no Brasil é o teste do reflexo vermelho, conhecido como teste do olhinho. Obrigatório nas maternidades desde 2010, o exame permite identificar alterações nas primeiras horas de vida e encaminhar rapidamente o recém-nascido para avaliação especializada, aumentando as chances de preservação da visão.
As causas da cegueira infantil variam, mas incluem com frequência doenças congênitas, retinopatia da prematuridade, erros de refração não corrigidos, estrabismo, ambliopia, infecções, inflamações, traumas oculares e doenças hereditárias da retina. Como muitas crianças não conseguem relatar dificuldades visuais, pais e responsáveis devem ficar atentos a sinais como quedas frequentes, aproximação excessiva de objetos, incômodo com a luz e atrasos no desenvolvimento motor ou visual.
O tratamento depende da causa e deve ser iniciado o quanto antes. Pode envolver cirurgias, uso de óculos ou lentes de contato, terapias específicas, medicamentos, laser, injeções intraoculares e programas de reabilitação visual nos casos de perda parcial ou irreversível.
Outro desafio crescente é o aumento da miopia e da pseudomiopia em crianças, frequentemente associado ao uso excessivo de telas. O oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor-executivo do Instituto Penido Burnier, explica que o esforço visual contínuo para atividades de perto pode gerar espasmos de acomodação e simular quadros de miopia. Para ele, mudanças de hábitos e consultas regulares são essenciais para proteger o desenvolvimento visual.
Ao reforçar a importância da prevenção, da informação e do diagnóstico precoce, especialistas destacam que a cegueira infantil pode ser evitada na maioria dos casos. O cuidado com a saúde ocular desde o nascimento é apontado como um investimento direto no desenvolvimento, na autonomia e nas oportunidades futuras das crianças.