A importância das pesquisas da Itaipu Binacional no desenvolvimento de soluções nacionais para veículos elétricos foi um dos temas abordados pela professora Fernanda Cristina Correa, do Departamento de Engenharia Eletrônica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) campus Ponta Grossa, em entrevista ao programa Manhã Total da Rádio Lagoa Dourada (98.5 FM) nesta quarta-feira (13). O programa é transmitido de segunda a sexta-feira das 8h às 10h e também no canal da emissora no YouTube.
Com formação em engenharia elétrica e doutorado em engenharia mecânica voltado a veículos elétricos e híbridos, a especialista respondeu a dúvidas frequentes sobre esses automóveis, principalmente em relação a pontos de recarga. Fernanda contou que não possui veículo elétrico nem híbrido, mas que, diante da atual infraestrutura de recarga no Brasil, optaria por um modelo híbrido. “Nos grandes centros há postos de recarga e ainda dá para instalar um sistema de recarga domiciliar. Mas para viagens longas, não temos postos de recarga ainda e isso já é um problema grande”, afirma.
Ela explicou que o híbrido permite aproveitar o melhor do carro elétrico e do carro a combustão quando necessário. Já para uso urbano, o elétrico se torna mais vantajoso. “Para a cidade o interessante seria o elétrico justamente pela questão que toda hora estamos parando no semáforo, há trânsito pesado e o motor elétrico vai estar se comportando da melhor forma e melhor ponto de eficiência, onde conseguimos economizar bastante”, disse.
Segundo a professora, no carro elétrico diversos sistemas eletrônicos gerenciam motor e bateria, desligando o veículo quando parado no semáforo. Outro fator é o custo da energia. “A economia também é maior porque a energia elétrica é mais barata que o combustível. O problema é o investimento inicial porque ainda os veículos elétricos são bastante caros”, avalia.
Ela explicou que, com o tempo, as baterias perdem capacidade de armazenamento e, por isso, as montadoras oferecem de oito a dez anos de garantia. “Garantia para trocar caso aconteça algum problema na bateria. Claro, é inevitável que neste tempo a bateria não perca o poder de armazenamento de energia”, afirma. Em média, segundo Fernanda, a bateria começa a perder gradativamente sua potência a partir do terceiro ano.
Essa perda de capacidade afeta também o valor de revenda. “O mercado ainda está tentando precificar esses veículos, não é um mercado consolidado”, disse. Ela reforçou que a bateria representa mais da metade do valor do automóvel e que a substituição depende da montadora, já que não há padronização.
Sobre veículos a combustão, Fernanda comparou modelos flex e híbridos em viagens. “O consumo é praticamente similar. O flex acaba sendo um pouco melhor fazendo uma quilometragem maior por litro de gasolina ou etanol”, observa. Ela também comentou os modelos com sistema start/stop, que desligam o motor em paradas, classificando-os como de níveis mais baixos de eletrificação. “Ele já é um veículo hibridizado porque tem um motor elétrico que dá essa partida de forma rápida e coloca o motor para trabalhar”, explica, lembrando que o desgaste da bateria é maior nesses casos.
A especialista falou ainda sobre ônibus elétricos, que considera boa alternativa para frotas municipais pela ausência de emissões e redução de custos. “Os ônibus que temos rodando são a diesel e com esse combustível se consegue uma economia boa. Mas o problema é a emissão de poluentes, pois o diesel é totalmente poluidor atmosférico”, disse. Para ela, o desafio segue sendo o mesmo dos carros: custo elevado e necessidade de estrutura de recarga.
Fernanda comentou que há estudos em andamento no mundo inteiro para que baterias automotivas, quando perdem capacidade de 80% para 70%, possam ser reaproveitadas em sistemas estacionários de armazenamento, tecnologia que ainda está em fase de pesquisa. “Ela ainda tem uma capacidade boa para não descartá-la. No final da vida, ainda se tenta retirar os materiais e aproveitar alguma coisa”, disse. De acordo com a professora, esse reaproveitamento pode beneficiar hospitais, regiões remotas ou áreas rurais com acesso limitado à rede elétrica.
Outra questão abordada na entrevista foi a incidência de incêndios em veículos elétricos. Sobre os incêndios, comparou o risco ao uso de celulares e afirmou que softwares já monitoram e comunicam problemas diretamente às montadoras para prevenção. “Quando está em eminência que algum circuito não está funcionando adequadamente no veículo, ele já contata a montadora e concessionária para tomar uma medida antes que isso se torne um problema mais grave”, disse.
Ao destacar o papel da Itaipu Binacional, Fernanda afirmou que a empresa tem relevância nacional e internacional no setor energético. “Tem sido feito pesquisas de ponta lá e tem certo tempo. Pesquisas em relação a veículos elétricos no sentido de eficiência, buscado uma solução nacional e isso é muito importante. O problema dessa parte de eletrificação é que muitas vezes ficamos muito dependentes do que vem de fora”, destaca.
Ela explicou que as montadoras adaptam para o Brasil projetos criados na Europa, o que reforça a necessidade de desenvolvimento próprio. “Precisa de desenvolvimento tecnológico que seja direcionado ao nosso mercado e não apenas adaptado”, disse. Segundo Fernanda, desde o início de seus estudos sobre veículos elétricos e híbridos, a Itaipu tem estabelecido parcerias no país para buscar soluções. “Acaba sendo também uma questão de estratégia”, conclui.