Aprecia vinhos tintos independente da estação?
Se sim, então esse artigo é para você! Confira dicas de vinhos portugueses tintos para o verão, recomendados exclusivamente para a coluna, pelos próprios enólogos de diferentes vinícolas e regiões de Portugal.
O consumo per capita de vinhos no Brasil deu um salto expressivo durante a pandemia e teve um crescimento surpreendente, segundo estimativa da Ideal Consulting em 2021 o crescimento do consumo foi de 18,4%. O Brasil é um país imenso com diferenças climáticas significativas em seus estados e entre os mais frios estão os estados do sul, o que leva a um maior consumo de vinhos tintos nas épocas de inverno, porém, mesmo na estação do verão, o gosto pelos tintos se destaca nessa região e muitos consumidores não abrem mão desse estilo de vinho nas épocas mais quentes do ano, portanto, o artigo de hoje será focado em vinhos portugueses tintos para o verão.
Por que Portugal?
Escolhi vinhos específicos de Portugal, porque frequentemente recebo perguntas e solicitações de recomendações de vinhos portugueses tintos e leves, uma pergunta desafiadora, uma vez que são famosos por elaborar vinhos encorpados, intensos e tânicos. Durante minha estadia no país lusitano, tive a oportunidade de conhecer e conversar com vários enólogos responsáveis por grandes marcas, levei essa questão a cada um deles e trago informações exclusivas para vocês leitores da coluna.
Antes das cinco dicas é importante destacar que o Brasil é um grande importador e consumidor de vinhos portugueses, segundo a Valor Econômico, em 2021 o valor exportado de vinhos portugueses para o Brasil foi próximo de € 74 milhões, para Portugal o Brasil representa hoje o segundo maior mercado internacional para vinhos de mesa ou tranquilos, é importante destacar ainda que segundo dados da consultoria britânica Wine Intelligence, nos últimos dois anos, o Brasil ganhou 12 milhões de novos apreciadores de vinhos, para um total de 51 milhões.
O que é um vinho tinto para o verão?
Basicamente são vinhos mais leves, de preferência menos tânicos, de menor teor alcoólico, com mais acidez e que também podem ser servidos em temperaturas mais resfriadas principalmente no verão. Outro fator a ser ressaltado são as castas (uvas), a escolha faz a diferença, cada uma tem suas características, algumas tintas tem a capacidade de produzir vinhos mais encorpados e outras vinhos mais leves, frescos e a título de informação cito como exemplo de castas mais leves a Pinot Noir, Gamay, Cabernet Franc, Grenache, Zinfandel, Rufete, Castelão e outras que serão vistas a seguir, contanto, não podemos esquecer que o processo de vinificação também é importante e não deve ser esquecido. A seguir, confira a seleção de cinco vinhos portugueses recomendada pelos respectivos enólogos, especialmente para quem não abre mão de vinhos tintos o ano todo.
Crasto Altitude – Enólogo: Manuel Vasconcellos
Para o enólogo Manuel Lobo de Vasconcellos, responsável pela Quinta do Crasto e a Lobo Wines, vinhos mais leves também dependem da região em que forem cultivadas as uvas, como também a localização das vinhas. “A Touriga Nacional é uma casta que apanhada no momento correto é elegante e deverá apresentar vinhos aromáticos e não muito alcoólicos. A Touriga Franca é mais rústica, mas tem sempre um teor alcoólico mais baixo, muito interessante para regiões mais quentes”, destaca Vasconcellos, que ainda falou do potencial aromático da casta Castelão e de sua elegância se colhida nas condições ideais, com a possibilidade dos vinhos não serem muito alcoólicos e menos pesados.
Vasconcellos ainda falou da Touriga Nacional, outra casta que se apanhada no momento certo também produz vinhos elegantes, “as castas alfrocheiro e Jaen também oferecem vinhos elegantes, já a Rufete traz um vinho aromático e leve, com pouca cor, porém, com teor alcoólico um tanto maior”, acrescentou. No estilo leve, menos encorpado, Vasconcellos recomendou o Crasto Altitude, elaborado com as uvas tintas Tinta Francisca e Touriga Nacional, que resultou em um vinho de qualidade com pouca extração e baixo álcool.
Clarete Quinta da Lapa – Enólogo Jorge Ventura
Segundo o enólogo responsável pela Quinta da Lapa, Jorge Ventura, suas castas preferidas são Castelão, Touriga Nacional, Touriga Franca e Aragonês, lembrou que um vinho 100% tinto com teor alcoólico mais baixo a vinícola não produz, dada as condições climáticas da região, mas fez questão de destacar o seu “Clarete”, vinho de corte elaborado com as castas Castelão (tinta) e Fernão Pires (branca), “O clarete para mim no verão é meu vinho preferido e melhor ainda se harmonizado com sardinhas assadas”, aponta Ventura que descreveu algumas características desse rótulo: dono de aromas intensos e frutados com notas de cereja e ginja, excelente volume de boca com sensações frutadas e frescas, pode ser servido a 12ºC.
Touriga Nacional Quinta da Alorna – Enólogo Luis Lerias
Um dos enólogos responsáveis pela Quinta da Alorna, Luis Lerias, destaca que a elaboração de vinhos mais leves também pode estar no processo de vinificação, “se vindimarmos uma touriga nacional mais cedo, onde tem ainda uma boa acidez e baixo teor alcoólico e na vinificação fazermos pouca extração, resultará em vinhos muito florais e frescos”, explica. Lerias ainda lembra também da Castelão que é semelhante o processo, porém, se apresentará com mais notas de fruta. Lerias ainda contribuiu destacando outras castas que podem ser utilizadas na elaboração de tintos mais leves, frescos e aromáticos como a Jaen que possui forte presença na região do Dão, a Rufete nas Beiras e com o outro nome no Douro: Tinta Pinheira, em toda a Portugal a Touriga Nacional e ainda lembrou dos vinhos de talha no Alentejo, que são bastante abertos na cor e frescos no nariz, diferentes, mas bastante aromáticos onde também podem ser elaborados com as castas ancestrais Moreto e Perrum. A sua recomendação para o nosso artigo foi o Touriga Nacional monocasta produzido pela Quinta da Alorna.
Vinum Novum Tinto – Enólogo Paulo Laureano
Desta vez um vinho de talha, direto da capital dos vinhos de talha: Vila de Frades. O Vinum Novum Tinto, rótulo da Honrado Vineyards, foi elaborado com as castas Aragonez, Trincadeira e Touriga Nacional, segundo o enólogo Paulo Laureano, é um vinho de talha macio, fresco, com taninos jovens e irreverentes que realçam a mineralidade do seu carácter. No nariz apresenta notas de fruta fresca com notas florais mescladas com alguma resina, com 12,5% de teor alcoólico. Segundo o Produtor Ruben Honrado, o “Vinum Novum Tinto” é um Vinho de Talha com apenas 3 meses de contato com as massas vínicas. O fato das uvas serem colhidas logo no início do período de vindima e o vinho estar menos tempo em contato com as massas vínicas, faz com que este seja um Vinho de Talha com um caráter jovem, aromático e com muitas notas de fruta fresca, ideal para o verão.
Vidigueira Trincadeira 2020 – Enólogo Vasco Moura Fernandes
E para finalizar mais uma recomendação do Alentejo, para isso conversei com o enólogo da Adega Vidigueira Cuba & Alvito, Vasco Moura Fernandes, que nos recomendou o Vidigueira Trincadeira. O Vidigueira Trincadeira foi o último da família dos monocastas (varietais) a ser lançado, sendo a colheita de 2020 a sua segunda. “É uma casta de maturação bastante precoce, com rendimentos bastante irregulares e muito sensível a doenças como o oídio e podridão, porém, quando a uva chega à adega em perfeito estado sanitário, origina vinhos de excelente qualidade, encontrando na Vidigueira um lugar exemplar para a sua frutificação”, destacou Fernandes e ainda acrescentou que esse rótulo é um vinho que poderá ser desfrutado no Verão pela sua frescura e mineralidade presentes.