há 2 horas
Assessoria

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, em Foz do Iguaçu, uma carta de reivindicações dos produtores de leite do Paraná com pedidos de medidas emergenciais para enfrentar a grave crise que atinge a cadeia produtiva no país. O documento foi assinado e entregue pela deputada estadual Luciana Rafagnin, coordenadora do Bloco Parlamentar da Agricultura Familiar da Assembleia Legislativa do Paraná ,e contou com o apoio de um grupo de parlamentares federais.
O encontro foi articulado pela ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, a pedido da deputada.
Após a apresentação do documento, o presidente Lula se comprometeu a avaliar todos os pleitos dos produtores. A ministra Gleisi complementou que o governo está preocupado com o setor e aprovou no Congresso Nacional uma proposta federal que destina R$ 100 milhões em crédito para compra de leite das cooperativas. “O governo Lula tem disposição em atender às demandas do setor”, destacou a ministra.
O documento, assinado por Pedro Ivo Ilkiv, representante dos produtores de leite do Paraná, trouxe a demanda do setor. A pauta de reivindicações dos produtores detalha a situação crítica enfrentada pelo setor: em novembro de 2025, o preço pago ao produtor despencou para R$ 1,60 por litro, valor que não cobre os custos de produção estimados em R$ 2,40 por litro. Isso representa um prejuízo de quase R$ 0,80 por litro produzido, inviabilizando milhares de propriedades rurais, especialmente da agricultura familiar, que responde por 53% da produção nacional de leite.
"O Brasil conta com aproximadamente um milhão de produtores de leite. Só no Rio Grande do Sul, entre 2018 e 2023, 44 mil pequenos produtores abandonaram a atividade. Precisamos de ação imediata para evitar uma quebradeira generalizada que ameaça a segurança alimentar nacional", alertou Pedro Ivo Ilkiv.
Importações agravam a crise
A carta aponta que o agravamento da crise decorre, em grande parte, da entrada massiva de produtos lácteos da Argentina e do Uruguai. Com a desaceleração da economia chinesa, esses países perderam seus principais mercados exportadores e passaram a direcionar seus estoques para o Brasil, praticando preços inferiores aos de seus próprios mercados internos — o que configura dumping. O volume importado atualmente corresponde a aproximadamente 10% da produção nacional, quando historicamente girava em torno de 5%.
O documento também destaca a entrada descontrolada de composto lácteo — produto em que apenas 51% é leite, sendo o restante composto por óleos vegetais, gordura trans e aditivos. Esse produto, mais barato que o leite genuíno, é utilizado em larga escala pela indústria, substituindo a matéria-prima nacional e causando prejuízos aos produtores brasileiros.
Demandas apresentadas
Entre as reivindicações apresentadas ao presidente Lula estão: compras públicas de leite e derivados da agricultura familiar por meio da Conab, via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); medidas administrativas do Ministério da Agricultura para maior controle das importações; intensificação da fiscalização nas fronteiras; e a criação de um programa de securitização das dívidas dos produtores, com parcelamento em até 20 anos, dois anos de carência e taxas de juros reduzidas.
Para o médio prazo, a carta sugere a criação de um Instituto Nacional do Leite, nos moldes do modelo uruguaio (INALE), que seria responsável por planejar a cadeia produtiva e trabalhar para que o Brasil deixe de ser importador e se torne exportador de leite.
A cadeia produtiva do leite sustenta milhões de famílias brasileiras e está presente em praticamente todos os municípios do país. A agricultura familiar, que responde por mais da metade da produção nacional, é a mais atingida pela crise atual.