A deputada federal e jornalista Joice Hasselmann (PSL) conversou ao vivo, na tarde desta sexta-feira (08), com o portal D’Ponta News. Na entrevista exclusiva, a ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara Federal falou sobre os impactos e a politização da pandemia do novo coronavírus no Brasil e explicou em detalhes por que deixou a base do governo e se tornou oposição. Joice ainda falou sobre as suas intenções políticas nas eleições deste ano e afirmou querer Sérgio Moro na disputa presidencial em 2022. O bate-papo, de aproximadamente 30 minutos, foi conduzido pelo diretor da Barbiero Comunicações, João Barbiero.
PANDEMIA
Em relação à pandemia do novo coronavírus no Brasil, a parlamentar afirma que, na visão dela, a grande preocupação é evitar que o vírus chegue nas pequenas cidades do interior. “São Paulo está um caos. Vários hospitais estão em alerta vermelho. O grande medo dos médicos é que isso se interiorize, porque aqui na capital nós temos grandes hospitais, temos condições de montar um hospital de campanha, como estamos fazendo, mas e lá no interior? E quando chegar lá naquela cidade que tem cinco mil habitantes, que não tem hospital? Este é o grande desespero no momento”, avalia.
A deputada observa também que os números se tornaram rotineiros e que a população não está entendendo a gravidade da pandemia. “Pelo exponencial de crescimento, vamos bater 10 mil mortos nesse final de semana. São números superiores aos números de guerra. O problema é que diariamente morrem 500, 600, 700, e o noticiário todos os dias vai trazendo e as pessoas vão se acostumando como fosse normal. Tem gente que só está entende a gravidade quando chega na sua casa, quando alguém próximo morre ou precisa de um respirador”, alerta.
TROCA NO MINISTÉRIO DA SAÚDE EM MEIO À PANDEMIA
No dia 16 de abril último, o médico Luiz Henrique Mandetta foi demitido do Ministério da Saúde e substituído pelo também médico Nelson Teich. Joice não concorda com a decisão. “Foi um grande erro do presidente trocar o ministro da Saúde no meio da pandemia. Chega um novato no Ministério da Saúde e até o cabra entender o que é o SUS [Sistema Única de Saúde] já acabou a pandemia. Ele não sabe quem é assessor do quê, em qual gaveta está não sei o quê. A pessoa fica completamente perdida e precisa de um tempo para se situar. O Teich, coitado, caiu no olho do furacão, mas reconheço que ele tem várias qualidades técnicas. O problema é conhecer a estrutura burocrática dentro do Ministério da Saúde”, pondera.
RELAÇÃO COM BOLSONARO
Joice teve uma participação ativa na campanha eleitoral do então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro, em 2018. Pouco mais de um ano após a vitória nas urnas, houve uma quebra de parceria. De braço direito do presidente, ela passou a ser oposição ao governo. “Nós temos dois Bolsonaros: o da campanha e o de hoje. Se o Bolsonaro da campanha julgasse o presidente que elegemos, certamente o de ontem pediria o impeachment do Bolsonaro de hoje. O presidente hoje está instituindo o rachadão. É um novo esquema de corrupção para blindar os seus filhos”, aponta.
Na visão dela, o presidente mudou de posicionamento quando ganhou poder. “Eu não fui eleita com a bandeira da corrupção, eu fui eleita com a bandeira anti-corrupção. Eu sou lavajatista [termo utilizado para quem é simpatizante da operação Lava-Jato], sempre defendi a Lava-Jato. Sou biógrafa do [ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública] Sérgio Moro. Não estou brincando de fazer política, estou fazendo política séria, do jeito sério”, defende.
“Bolsonaro prometeu fazer um governo decente, honesto. O que ele fez? Um dos seus filhos comanda o ‘Gabinete do ódio’, o outro faz uma série de ‘maracutaias’ usando dinheiro público do gabinete, e o terceiro só não foi preso ainda, por conta das ‘rachadinhas’, porque tem foro privilegiado, e o presidente fica o tempo todo tentando blindar os seus filhos de alguma forma”, critica.
Joice faz questão de frisar também que “não pediu para ser política”. “Ele [Bolsonaro] bateu na minha porta. Ele teve aulas de liberalismo econômico comigo, antes de o [ministro da Economia] Paulo Guedes aparecer. Ele se aconselhava comigo na época da campanha e prometeu fazer tudo diferente. Quando chegou no poder, gostou do poder e mudou. Eu não vou de maneira nenhuma compactuar com a corrupção do poder. Está claro. O Moro apresentou os caminhos dos crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente”, declara.
O PEDIDO DE BOLSONARO E O INÍCIO DO DESGASTE
De acordo com a deputada, o desgaste do presidente começou com pressões para que ela defendesse Flávio Bolsonaro, acusado da prática da “rachadinha”. “Eles queriam que eu, como líder do governo, fosse a público e dissesse que ele [Flávio] era inocente. Eu sei que ele não é inocente. Eu sei quanto ganha um deputado. Um deputado ganha muito bem, sim, mas não tem dinheiro para comprar apartamento de frente pro mar na Barra da Tijuca, imóveis na Barra da Tijuca no metro quadrado mais caro, comprar franquia da Kopenhagen. Está claro que tem corrupção. Por conta disso, a coisa começou a azedar”, revela.
OS FILHOS DE BOLSONARO
Na visão da parlamentar, os filhos de Bolsonaro são “a pior versão do pai”. “Tem várias coisas que foram aparecendo depois que eu cheguei na Câmara que me deixaram muito triste. Essa questão da ‘rachadinha’, funcionário fantasma, a conta da gasolina… Tinha dias que ele [Jair Bolsonaro] abastecia R$ 2 mil de gasolina. Sabe essas sacanagens que tem deputado que gosta de fazer? Ele fazia isso e eu fiquei muito triste quando vi essas provas. Mas, quando vejo o que os filhos fizeram, quando eu vi que o Flávio ficou milionário por conta das ‘rachadinhas’, gente, rachadinha é roubo de dinheiro público! Você contrata dez, 20 funcionários pagando R$ 25 mil para cada um, e R$ 20 mil volta para o bolso e R$ 5 mil fica com o funcionário. É roubo de dinheiro público. Os filhos são uma versão piorada”, provoca.
BOLSONARO X JORNALISTAS
Nesta semana, o presidente da República se envolveu em mais uma polêmica ao mandar jornalistas “calarem a boca” durante coletiva no Alvorada. Jornalista formada pela UniSecal, de Ponta Grossa, Joice define a atitude de Bolsonaro como “ridícula”. “O homem mais importante do país descer no ringue, ir para uma luta parecendo uma briga de galo com veículos de comunicação, isso é ridículo. Ele mandou jornalista calar a boca. Presidente não pergunta para imprensa. Nós, como pessoas públicas, é que temos de responder. O jornalista, goste dele ou não, goste do veículo em que ele trabalha ou não, está lá e é pago para perguntar. O homem público tem que responder ou reservar o seu direito de ficar calado, mas jamais mandar um jornalista calar a boca”, defende, acrescentando ainda que a inteligência emocional do presidente, na visão dela, é de “menos 20”. “Ele agride pessoas, ele xinga mulheres dos nomes mais inimagináveis”, complementa.
MENINO MIMADO
Questionada se não havia percebido antes o modo de agir do presidente, Joice explica que já deu muitos “pitos” no mandatário da República. “Claro que eu vi [o que ele fazia de errado], e dei muito ‘pito’ nele. Se você ouvisse o que tem no meu celular… Quantas vezes eu dei ‘pito’ no presidente como se dá ‘pito’ em moleque mimado. Muitas vezes. Eu mandava áudio dizendo para ele escutar uma, duas, dez vezes antes de fazer m****. Eu pedia para ele me ajudar a ajudar ele”, conta.
FUTURO NA POLÍTICA
Joice revela ainda que deve participar das eleições deste ano para a Prefeitura de São Paulo. “Será o pior emprego do mundo, porque vai ser um mandato pós-pandemia. Já botei a minha equipe para fazer levantamento dos impactos dessa pandemia. Vamos pegar uma terra arrasada, uma tragédia econômica. Eu vou sair candidata, não fujo da luta e serei a melhor prefeita que São Paulo já teve”, finaliza.
Assista na íntegra à entrevista com Joice Hasselmann:
Texto: Igor Rosa | Foto: reprodução